Rebaixamento tem impacto limitado, mas outras agências devem cortar o Brasil, dizem analistas
SÃO PAULO - Apesar de pegar o mercado de surpresa nesta quarta-feira (17), o corte de rating feito pela Standard & Poor´s, rebaixando o Brasil de BB+ para BB, com perspectiva negativa, deve ter um impacto limitado no mercado, mas também deve ser o primeiro passo para novos cortes por outras agências, avaliam analistas consultados pelo InfoMoney e pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Para o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, o corte do rating indica que o rating do País regrediu uma década em dois anos. "O rebaixamento é muito ruim e o processo de volta ao grau de investimento deve levar 3 ou 4 anos", disse. "Com isso, fica mais urgente a necessidade de serem realizadas reformas estruturais, especialmente relacionadas à área fiscal."
Na avaliação de Kawall, "com o quadro atual, são maiores de 50% as chances da Argentina ter um rating melhor do que do Brasil em 1 ou 2 anos. O economista leva em contra a possibilidade de o país vizinho concluir acordo com os chamados fundos abutres relacionados à sua dívida, o que o deve mudar sua classificação de "default seletivo" pela S&P e entrar numa escala de notas, com tendência provavelmente ascendente.
O downgrade já era bastante esperado dada a precificação e o spread pago pelo Brasil no mercado de crédito, disse Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisa de América Latina da Natixis, em entrevista a Bloomberg. " A mensagem principal é que as agências de classificação de risco não querem dar mais o benefício da dúvida para a América Latina’", disse.
Já os analistas do Barclays projetam um outro rebaixamento pela S&P até o final do ano. "A perspectiva foi mantida negativa e a agência disse que o cenário político, especificamente o processo de impeachment, é a chave para as avaliações de rating", destacaram os analistas.
"Como acreditamos que o processo de impeachment pode durar até o terceiro trimestre, é muito provavelmente que após as eleições de meio de mandato, em outubro, a agência possa rebaixar novamente, já que a base de apoio do governo provavelmente será mais fraca", completaram. Para eles, a Moody’s irá cortar o Brasil no fim deste trimestre e a Fitch irá rebaixar a nota no fim do segundo trimestre.
Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, o novo rebaixamento veio "bem antes do esperado". "Dentro do quadro de deterioração fiscal e incertezas políticas, havia a expectativa de rebaixamento mais à frente, até junho, mas o corte agora é uma surpresa", disse.
Para o especialista, devem ter pesado para a decisão o quadro fiscal "bastante frágil" e a intenção do governo de instituir uma banda fiscal, de modo a acomodar um novo déficit primário das contas públicas.
Em termos práticos, Camargo Rosa considera que o novo rebaixamento pela agência, que já considerava o Brasil grau especulativo, adia as condições de recuperação da economia do País. "Isso pode gerar um aumento dos custos para financiamento de investimentos no exterior, o que atrapalha as chances de retomada da economia", avaliou. Para ele, em um cenário otimista, a economia nacional permanecerá estagnada por algum tempo.
O economista-chefe da SulAmérica Investimentos considera que, apesar de alguns indicadores sugerirem que o Brasil atingiu o ponto mais grave da crise, o novo rebaixamento pode forçar a continuação da queda da economia.
Efeitos
O economista-chefe da Kinea Investimentos, Luis Fernando Horta, acredita que apesar de o rebaixamento ter vindo antes do esperado, os efeitos devem ser limitados no mercado. "Isso pode ter algum impacto na Bolsa, com alguns estrangeiros realocando recursos, mas para juros e câmbio o efeito é pequeno. O que está guiando o mercado local agora é agenda de reformas que poderia ocorrer este ano, mas que na minha opinião tem uma chance muito pequena de sair do papel", comenta.
Para ele, a decisão da S&P não aumenta a pressão sobre o governo da presidente Dilma Rousseff. "O que pressiona o governo é a atividade fraca e a inflação elevada", afirma. Na avaliação de Horta, o efeito sobre a economia real também é pequeno. "O necessário para a gente sair da recessão é a inflação cair", comenta.
Na mesma linha, o economista Mauro Schneider, da MCM Consultores, acredita que a decisão da S&P não será capaz de aumentar o senso de urgência do governo no sentido de implementar medidas de recuperação econômica. "O que de pior poderia acontecer com a nossa economia já está acontecendo, com avanço do desemprego e queda da renda. Se isso não aumentou o senso de urgência, não será a S&P que fará isso", disse.
Com Agência Estado
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