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Arapiraca (AL) enfrentou decadência do fumo nos anos 80 plantando mandioca

Carlos Madeiro

Do UOL, em Arapiraca (AL)

09/12/2014 06h00

A crise do setor do fumo levou produtores de Arapiraca (a 130 km de Maceió, AL) a deixarem as plantações e investirem em outras culturas, como mandioca e hortaliças, para garantir ou melhorar a renda.

Conhecida como "terra do fumo", a cidade viveu uma época da prosperidade com o chamado "ouro negro" entre os anos 60 e 80. A cidade produz o fumo de rolo, usado em cigarros de palha, e não o fumo dos cigarros industrializados.

"A cultura do fumo passou a ocupar toda a área do município de Arapiraca e penetrou nos municípios circunvizinhos (...) Arapiraca era cidade líder no Estado de Alagoas e a que mais cresce no Nordeste, construindo oito casas por dia", diz trecho da história da cidade, publicada no site da Câmara de Vereadores do município.

Até o Censo Agropecuário de 1995, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), Alagoas aparecia com cerca de 10% do total de produção brasileira de fumo. Em 2013, caiu para 3%.

Hoje, existem 13 mil hectares de fumo na cidade e no entorno. Em 1985, a área produzida era o dobro -26 mil hectares, segundo o IBGE.

Ao longo dos anos, a produção foi dando espaço a outras culturas. A mais importante atualmente é a da mandioca.

"O fumo só tem futuro para quem tem dinheiro para investir, porque é caro e muito trabalhoso. E mandioca é fácil de vender", conta o produtor Sandro Henrique da Silva, 35, que deixou o fumo e planta hoje mandioca em sua pequena propriedade.

Estados do Sul, onde se concentra a produção brasileira de fumo para cigarros industrializados, também se preocupam com alternativas econômicas. O setor teme crise por causa da queda das exportações e da nova lei antifumo.

Cooperativa tem fábrica de farinha de mandioca

A Cooperativa Agropecuária de Campo Grande, que produz farinha de mandioca industrializada, reúne os produtores. São 446 cooperados. A fábrica chega a produzir 28 mil quilos de farinha de mandioca por dia.

O crescimento da produção e número de associados pode ser explicada, em parte, à crise do fumo, que fez agricultores mudarem de ramo.

"O fumo passa por uma situação de redução drástica de área. Nossa região produz um fumo que está à margem, que é o fumo em corda. Ele praticamente não é processado para cigarro e vem reduzindo o consumo desde a década de 50. A nossa região começou a dominar esse mercado em queda e dominamos até a década de 80, quando a redução se aprofundou muito", diz o gerente da cooperativa, Eloisio Barbosa Lopes Júnior, filho de um dos maiores ex-produtores de fumo da região.

Ele conta que, atualmente, os produtores de fumo vendem o produto para uma fábrica de Sergipe.

"A queda hoje é acentuadíssima, uma coisa nacional. Hoje cigarro de palha tem um consumidor marginal. A empresa que compra o fumo nem daqui é mais”, disse.

Inhame e hortaliças também são opções

Nem só de mandioca vive a região. O proprietário da fazenda Cajarana, Josué dos Santos, 53, é um antigo produtor de fumo. Ele tem um terreno de 28 "tarefas" (cada tarefa equivale a 3.052 metros quadrados). Até 2012 plantava só fumo. No ano passado, decidiu plantar inhame em cinco tarefas.

"Deu certo, e neste ano resolvi plantar mais cinco tarefas. Se continuar assim, vou mudar tudo", disse.

Outro exemplo de sucesso na roça é o agricultor João Vitor, 58, que hoje é um dos principais produtores de hortaliças na região. "Todo dia faço viagem para Maceió para vender meus produtos. Planto alface, coentro, cebolinha, manjericão e entrego direto em grandes supermercados e restaurantes."