Aéreas tradicionais cobram mais e vão perdendo para as de baixo custo
Nada mais tem dado certo para a Air France. A violência que interrompeu bruscamente a reunião do comitê central da empresa, na segunda-feira (5), revela um clima social especialmente deteriorado. Mas isso não é novidade. A história do transporte aéreo é pontuada por conflitos que sempre giraram em torno das complexas relações entre pilotos e a direção das empresas.
A alemã Lufthansa está em sua 13ª greve de pilotos desde abril de 2014. A British Airways e sua filial Iberia também passaram por violentos conflitos antes de conseguirem um aumento de produtividade de 20% dos pilotos da Iberia.
Lobby dos pilotos
O caso da Air France, portanto, não é algo isolado. O poder dos pilotos reside no temor que todos os governos têm de que o país pare, assim como acontece com os táxis.
A exemplo de suas concorrentes, a direção da Air France tentou apelar para a discórdia entre os pilotos com seus opulentos salários e a equipe de solo. A tática, por enquanto, fracassou.
Concorrência x preços
Pois é fato. O transporte aéreo está no centro de uma revolução considerável em um setor que, por definição, é bem mais sensível à globalização do que o trem ou o automóvel. Isso teve um efeito positivo, com o crescimento fenomenal do tráfego, de 1 bilhão de passageiros, em 1990, para 3,5 bilhões neste ano, e uma consequência negativa: a chegada de novos concorrentes.
Estes estabeleceram novas normas em matéria de preços, proporcionais à sua estrutura de custo, que é bem mais leve. Um assento em classe econômica custa cerca de duas vezes mais na Air France do que na EasyJet, e como o preço do bilhete deve se alinhar, são as perdas que fazem a diferença.
Sem contar as companhias do Golfo, que ficaram com a nata das viagens de companhias europeias nos voos de longa distância.
A hora da verdade se aproxima
As companhias tradicionais demoraram para reagir. Swissair, Sabena, Iberia e Alitalia desapareceram ou perderam sua independência na Europa. Assim, a hora da verdade se aproxima para a Air France.
Seus resultados estão nitidamente em defasagem em relação às suas duas últimas concorrentes europeias, IAG (British Airways-Iberia) e Lufthansa. Só no primeiro semestre deste ano, a Air France-KLM teve perdas de 232 milhões de euros (R$ 990 milhões), contra um lucro de quase 550 milhões de euros no caso da britânica e quase o mesmo montante no caso da alemã.
A dívida vai crescendo e a crise de liquidez começa a emergir, impedindo que a companhia tenha um ano excepcional no transporte aéreo. Cortar custos com pessoal, que representa um terço dos gastos, torna-se inevitável.
A redução na frota e as demissões que a acompanham é a pior das soluções, tanto do ponto de vista social, pois leva à supressão de postos, quanto do ponto de vista comercial, pois insere a empresa na espiral do declínio. Todos os atores sabem disso, e é por isso que estamos só no começo de uma queda de braço que decidirá sobre a própria existência da bandeira francesa no cenário mundial.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.