José Paulo Kupfer

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Opinião

Perda no PIB com crise no Sul ainda é chute; reconstrução pode dar impulso

O último Boletim Focus, com as projeções de analistas do mercado financeiro para a economia, divulgado nesta segunda-feira (20), cortou a previsão mediana de aumento do PIB (Produto Interno Bruto), em 2024, para 2,05%. As previsões para os últimos cinco dias úteis, no Focus, são de alta ainda menor, de 2,02%.

Esse trajetória de recuo reflete cálculos sobre os impactos negativos para a atividade econômica das enchentes no Sul. Tomando como base o peso de 6,5% da economia gaúcha no conjunto da economia brasileira, e estimativas de perdas na agropecuária e na indústria do Rio Grande do Sul, economistas calculam que até 0,3 ponto percentual do crescimento previsto anteriormente poderá ser perdido.

Crescimento mais perto de 2%

A partir desse cálculo, as projeções para o crescimento em 2024, que se aproximavam de 2,5%, com a constatação de que a atividade avançou relativamente forte no primeiro trimestre do ano, foram ajustadas. Mas a correção carrega forte dose de chute, por duas razões principais:

É ainda impossível captar o efetivo total das perdas ocorridas na economia gaúcha, uma vez que os estragos e, antes disso, o tempo em que se dará a retomada da produção plena, não podem ser definidos.

Não se sabe qual será o impulso para a atividade econômica — nem se conhece alguma tentativa para medi-lo — dos recursos e dos esforços que serão efetivamente destinados à reconstrução das cidades, à sustentação das pessoas afetadas, retomada do comércio e reequipamento da indústria.

Segundo trimestre pode ser negativo

Como os impulsos da reconstrução só começarão a se concretizar mais para frente, a partir do terceiro trimestre, em prazo mais curto os impactos econômicos da catástrofe no Sul são mais fáceis de estimar. Não será surpresa se a atividade, entre abril e junho, registrar recuo.

A hipótese é levantada pelos economistas da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro) que coordenam as projeções do Monitor do PIB. Diante dessa possibilidade, os pesquisadores da FGV não acreditam que o PIB em 2024 possa crescer acima de 2%.

A marcha da atividade, antes da tragédia gaúcha, apontava expansão econômica maior. As estimativas para o crescimento do PIB, no período janeiro a março, indicam avanço entre 0,5% e 0,7%, em relação ao quarto trimestre de 2023. Na comparação com o mesmo período de 2023, o crescimento, confirmadas as projeções, ficará acima de 2%. A divulgação do PIB do primeiro trimestre está previsto para 4 de junho.

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Crescimento forte no 1º trimestre

Anualizando o crescimento projetado para o primeiro trimestre, é possível ter uma ideia da força com que a atividade econômica vinha avançando, antes dos eventos destrutivos no Sul. Se a economia crescesse 0,7% nos quatro trimestres do ano, o PIB do ano teria expansão de 2,8%.

O crescimento no primeiro trimestre foi impulsionado pelo consumo das famílias e pelos investimentos. Nas estimativas do Monitor do PIB, o consumo das famílias cresceu 1,5%, na comparação com o quarto trimestre de 2023, e 4,4% sobre o primeiro trimestre de 2023.

No caso dos investimentos, a alta, nos cálculos dos Monitor do PIB, foi de 1,5%, entre janeiro e março, na comparação com outubro/dezembro do ano passado. Na comparação interanual, a expansão foi de 4,4%.

O PIB da agropecuária, de outro lado, que já não repetiria o bom desempenho de 2023, certamente será mais negativamente afetado. Se as previsões para 2024 eram de um recuo de 3%, agora as estimativas são de queda de 3,5%.

A explicação para o avanço no consumo das famílias deriva dos programas sociais e gastos do governo. Reajustes dos benefícios sociais vinculados ao aumento do salário mínimo, ampliação nas concessões de crédito, e antecipação de precatórios estão entre as explicações para o aumento do consumo. No caso dos investimentos, é o ciclo de cortes nos juros básicos (taxa Selic) e melhores condições de crédito, que explicam a melhora prevista.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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