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Por que país tem meta de inflação? Por que não cumpriu? E agora? Entenda

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

08/01/2016 09h08Atualizada em 08/01/2016 11h04

O Brasil teve inflação de 10,67% no ano passado e, com isso, estourou o limite máximo da meta do governo. A meta era manter a alta de preços em 4,5%, podendo variar entre o intervalo de 2,5% a 6,5%. 

Mas, afinal, quem define essa meta? Quem deve cumpri-la? E o que acontece agora? O UOL preparou este resumo para ajudar a entender melhor esse importante elemento da economia brasileira. Confira.

Quando e por que o país criou metas para a inflação?

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Imagem: iStock

Em 1999, o país deixou de ter o câmbio controlado e, com isso, houve dúvidas se conseguiria manter a inflação controlada ou se a estabilidade conquistada com o Plano Real, em 1994, iria "por água abaixo". Para tentar tranquilizar a população e o mercado, o governo adotou o sistema de metas para a inflação. O governo divulga publicamente um valor, e o Banco Central se compromete a buscar esse objetivo. 

Só o Brasil usa esse sistema?

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Imagem: Rafael Hupsel/Folhapress

Não. Vários países usam esse mecanismo, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O primeiro a adotar o sistema foi a Nova Zelândia, em dezembro de 1989, seguido por Canadá, Reino Unido e Austrália. Chile, México e Peru também fazem parte do grupo, entre outros.

Quem decide a meta?

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Imagem: Getty Images

No Brasil, a meta para a inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros do Planejamento e da Fazenda. 

Quando essa meta é definida? 

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Imagem: Thinkstock

A meta para a inflação é definida com dois anos de antecedência. Portanto, a meta de 2015 foi definida em 2013. Em 2014, decidiu-se manter a meta em 4,5% para este ano de 2016. O mesmo aconteceu em 2015 em relação à meta para o ano que vem: de 4,5%. Neste ano, seguindo essa lógica, será estabelecida a meta para 2018. 

Quem deve cumprir a meta?

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Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência

A responsabilidade por cumprir a meta é do Banco Central. Para isso, no entanto, é preciso que o BC tenha autonomia para tomar decisões e não fique subordinado ao governo.

Que ferramentas são usadas nessa tarefa?

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Imagem: Getty Image

A principal ferramenta usada para controlar a inflação é a taxa básica de juros, a Selic, definida pelo BC a cada 45 dias. A taxa atual é de 14,25% ao ano. Quando a inflação está alta, o BC sobe os juros. Com isso, empréstimos e financiamentos ficam mais caros, as empresas investem menos e as pessoas cortam gastos, o que tende a reduzir a inflação. Por outro lado, quando a inflação está baixa, o BC joga os juros para baixo, o que incentiva o consumo e investimentos. 

Como se mede a inflação?

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Imagem: SXC

O país tem diversos indicadores que medem a alta de preços. O escolhido para medir a inflação oficial foi o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE. Ele mede o poder de compra da população e a pesquisa inclui famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos em todo o país.

Por que há uma margem de tolerância?

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Imagem: Shutterstock

O objetivo é atingir o centro da meta, mas há uma margem de tolerância para mais ou para menos. Isso é importante porque o BC não tem controle absoluto sobre o comportamento dos preços e suas medidas (alta ou baixa dos juros) levam um tempo para fazer efeito. Também é fundamental caso ocorram eventos inesperados que possam desviar a inflação de seu objetivo. Porém, essa margem não pode ser muito grande, pois poderia passar a impressão de que o país não está realmente comprometido em atingir o centro da meta.

Por que cumprir a meta é importante? 

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Imagem: Getty Images

O regime de metas é usado como referência pelo governo para adotar medidas de controle da inflação. Isso dá tranquilidade à população e ao mercado financeiro de que o país se preocupa em controlar a alta de preços. "É uma garantia que o governo dá à sociedade de que manterá a inflação dentro de um determinado patamar", afirma o professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Nelson Marconi.

O que acontece quando ela não é cumprida?

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Nesse caso, o presidente do Banco Central deve enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando por que a meta não foi cumprida, quais ações serão adotadas pelo órgão para que a inflação volte para dentro da margem de tolerância e o tempo esperado para que essas medidas surtam efeito.

É possível alterar a meta?

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Imagem: Getty Images

Tanto o centro da meta como a margem de tolerância podem ser alterados pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), mas isso só pode ser feito depois de autorizado por meio de decreto presidencial. Porém, uma mudança pode fazer com que o governo perca credibilidade no mercado. "Essa atitude seria interpretada como se o governo estivesse 'jogando a toalha' e sendo conivente com a inflação", diz o coordenador da pós-graduação de economia política da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Antonio Correa de Lacerda.

Por que a meta não foi cumprida em 2015?

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Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

Os economistas consultados pelo UOL afirmam que a meta de inflação para 2015 era muito baixa e difícil de ser atingida diante da realidade econômica do país. Como principais causas da inflação elevada eles destacaram os reajustes nos preços controlados pelo governo, como conta de luz e gasolina, e a desvalorização do real frente ao dólar.

Isso já aconteceu outras vezes?

Essa não é a primeira vez que o país descumpre a meta. Desde de que o sistema foi adotado, em 1999, o Brasil ultrapassou o limite para a inflação entre 2001 e 2003. Em 2004, a inflação só ficou dentro da margem de tolerância porque o governo alterou a meta para cima.

Não teria sido melhor alterar a meta?

No começo de 2015 já dava para imaginar que seria difícil cumprir a meta para aquele ano, na opinião do professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Nelson Marconi. No entanto, é melhor estourar a meta e assumir isso do que alterar seu valor, jogando a meta para cima, segundo ele. É "menos ruim" para a credibilidade do governo perante o mercado financeiro, considera Marconi.

(Edição de texto: Maria Carolina Abe)