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Analistas: País começa a sair do buraco, mas recuperação levará 2 anos

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

01/03/2018 09h06

Com o crescimento de 1% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2017, o país começa a sair do buraco, após a economia encolher 3,5% tanto em 2016 quanto em 2015. 

Mas a recuperação é lenta e, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, a economia vai demorar pelo menos dois anos para chegar ao nível de antes da crise.

É como se tivéssemos caído em um buraco de sete metros de profundidade. Escalamos um pouco no ano passado, mas ainda faltam muitos metros para chegar novamente à superfície
Simão Silber, professor de economia da USP

Para analistas, o cenário indica mais um ano de crescimento do PIB em 2018, podendo chegar a 3%, principalmente porque as famílias estão voltando a consumir. Nem mesmo as incertezas que rondam as eleições presidenciais de outubro devem mudar a perspectiva para este ano.

Eleições presidenciais

No entanto, não dá para dizer se esse crescimento será sustentável porque as eleições fazem com que, a partir de 2019, as previsões sejam mais nebulosas.

O motor do PIB é o investimento, e, até agora, nenhum pré-candidato (a presidente) apresentou uma estratégia. É uma incógnita
Simão Silber, professor de economia da USP

Para o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e diretor-geral da Fator Administração de Recursos, Paulo Gala, a economia deve continuar crescendo nos próximos anos se o candidato eleito for mais alinhado ao centro do espectro político, com uma agenda de queda de juros e controle das contas públicas.

O grande risco para a economia, na visão do economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, seria a eleição de um candidato que, em vez de conter, aumente os gastos públicos, e que não esteja comprometido com as reformas econômicas.

É uma questão de continuidade ou ruptura com a atual política econômica. A ruptura faria o mercado perder a confiança [na economia]
Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria

Reforma da Previdência

Um problema que deve cair no colo do próximo presidente, quem quer que ele seja, e afetar o futuro da economia é a reforma da Previdência. O presidente Michel Temer desistiu de submeter a proposta a votação no Congresso por falta de apoio, mas a questão da Previdência é considerada tão fundamental para as contas públicas que deve voltar à baila já em 2019.

“[Ao não votar a proposta neste ano,] nós criamos uma obrigação para o ano que vem, e a expectativa do mercado estará toda concentrada na reforma”, diz Campos Neto. “Se não for aprovada, o bom humor dos mercados acaba e o temor de endividamento volta, pressionando os juros, o dólar e a inflação.”

Os economistas também fizeram previsões e análises sobre emprego, inflação, juros e dólar em 2018. Veja a seguir.

Empregos

O desemprego encerrou 2017 com uma taxa média de 12,7%, a maior desde 2012, atingindo 13,2 milhões de pessoas.

Apesar de a primeira pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com dados de 2018 indicar que não houve criação de vagas neste início de ano, os analistas acreditam que a retomada da economia vai, sim, reduzir o desemprego.

“Deve haver criação de até 2 milhões de empregos neste ano, disseminada por toda a economia” diz Campos Neto. “A principal novidade na abertura de vagas vai ser a construção civil, após um longo período de demissões.”

Com a perspectiva de melhora, Gala vê a taxa de desemprego na casa dos 10% no final do ano. Segundo ele, a reforma trabalhista, não deve afetar a criação de vagas.

O principal gerador de emprego é a atividade econômica, e a reforma (trabalhista) não influi nisso
Paulo Gala, professor da FGV e diretor da Fator Administradora de Recursos

O economista da Tendências concorda. “A reforma reduz insegurança jurídica e custos de contratação e ajuda na formalização (assinatura das carteiras de trabalho), mas não na abertura de vagas”.

Ao defender a reforma trabalhista, em vigor desde novembro, o governo afirmou que ela geraria 2 milhões de novos empregos no país em 2018 e 2019. 

Inflação

A inflação, que fechou 2017 no menor nível desde 1998, deve continuar controlada neste ano e se aproximar da meta do governo, que é mantê-la em 4,5% ao ano, com uma tolerância de 1,5 ponto (podendo variar entre 3% e 6%).

No ano passado, a alta de preços foi de 2,95%, abaixo do limite mínimo da meta pela primeira vez na história, puxada sobretudo pela queda nos preços dos alimentos, que têm forte peso no índice.

Os analistas dizem que os preços dos alimentos devem se normalizar e contribuir para que a inflação seja um pouco maior que a do ano passado. Mas ela não deve passar de 4,1%, de acordo com Campos Neto.

Juros

Com a inflação baixa no ano passado, o Banco Central foi reduzindo a Selic, a taxa básica de juros, até os atuais 6,75% ao ano, o menor patamar da história.

Em 2018, com a perspectiva de uma inflação mais uma vez controlada, economistas acreditam que a taxa de juros deve permanecer no nível atual, e talvez até cair um pouco mais, para 6,5%.

Com esse nível de juros, o crédito deve ficar mais barato, principalmente nas linhas para pessoa física, como crédito pessoal, imobiliário e para financiamento de carro, segundo eles.

Por outro lado, os juros do cheque especial e do cartão de crédito devem continuar altos.

Essas linhas problemáticas (cheque especial e rotativo do cartão) são anomalias brasileiras que não têm explicação, feitas para não serem usadas, e devem continuar caras"
Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria

Dólar

“A cotação da moeda norte-americana é mais difícil de prever porque depende muito de fatores externos”, diz Silber. A preocupação maior é com a inflação nos Estados Unidos. Se ela acelerar, o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) pode subir as taxas de juros mais que o esperado. Juros mais altos nos EUA atraem para lá recursos hoje investidos em outros países, incluindo o Brasil. Com menos dólares em circulação aqui, a cotação da moeda tende a subir.

O mercado já está esperando aumentos graduais dos juros, conforme sinalizado pelo Fed, o que deve levar o dólar a um patamar de R$ 3,40 até o final do ano, segundo Campos Neto.

Para o professor da USP, variações mais bruscas não devem acontecer.

Gala também vê um cenário de pouca instabilidade do dólar porque “os preços das commodities (matérias-primas) estão altos e a balança comercial brasileira está forte”, o que significa que o país está exportando mais do que importando. Esses dois fatores contribuem para a entrada de dólares no país e ajudam a segurar a cotação da moeda.