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Associação propõe a Bolsonaro trocar diesel por gás em ônibus e caminhões

Ônibus com motor movido a gás natural produzido pela Scania - Divulgação
Ônibus com motor movido a gás natural produzido pela Scania Imagem: Divulgação

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

24/11/2018 04h00

Substituir ônibus e caminhões a diesel por veículos movidos a gás natural (GNV) reduziria em cerca de 70% a emissão de poluentes e ajudaria o país a economizar bilhões de reais por ano, e essa é uma medida fácil de tirar do papel. A proposta é da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado) e consta de um documento de 52 páginas entregue ao presidente eleito, Jair Bolsonaro.

O documento contém sugestões para desenvolver uma política nacional de estímulo ao uso de gás natural -- por exemplo, para geração de energia elétrica, aumento do consumo pela indústria, nas residências e no comércio.

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"O uso do GNV em veículos pesados [caminhões e ônibus], por exemplo, permitiria reduzir em cerca de 70% a emissão de poluentes. A economia na área de saúde pública, ao se evitar doenças relacionadas à poluição do ar, seria da ordem de R$ 40 bilhões por ano", disse Marcelo Mendonça, gerente de Estratégia e Competitividade da Abegás.

A entidade cita a expectativa de aumento da produção brasileira de gás natural, por causa da exploração das reservas do pré-sal. Também lembra das metas estipuladas pelo Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, que preveem a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa em 43% até 2030.

Redução das importações de diesel e gasolina

Mendonça cita ainda os ganhos para a balança comercial do país. "Se o gás natural ocupar mais espaço na matriz dos transportes, tanto em veículos leves [automóveis] como em pesados, o país economizaria, em média, US$ 7,3 bilhões por ano com a redução nas importações de gasolina e diesel."

Quando comparado aos veículos elétricos, os modelos a gás natural levam vantagem em relação ao custo de aquisição do veículo e da maior disponibilidade de locais de abastecimento.

Montadoras já dispõem de tecnologia no Brasil

"A tecnologia do gás está consolidada no país e é economicamente viável. As montadoras já produzem ônibus a gás aqui. Mas a produção é exportada porque não há uma política de estímulo para uso desses veículos no país", disse Mendonça.

Conforme o UOL informou recentemente, a Scania tem realizado demonstrações com um ônibus urbano movido a gás natural em diversas cidades do país. A montadora sueca também está realizando, em parceria com a Citrosuco, testes com um caminhão movido a gás em uma rota fixa entre o interior de São Paulo e o porto de Santos.

Segundo Mendonça, a Abegás vai pedir ao presidente eleito mudanças regulatórias para que as licitações de renovação de frotas municipais de ônibus incluam os modelos movidos a gás.

Redução de impostos para troca de caminhões

A Abegás também defende a adoção de incentivos fiscais, com a redução da carga de impostos sobre veículos novos movidos a gás. "Seria uma forma de acelerar a substituição das frotas de caminhões", declarou Mendonça. A redução nos impostos compensaria o fato de o veículo a gás ser mais caro do que um similar movido a diesel por causa da maior quantidade de componentes tecnológicos. 

Segundo a entidade, mesmo sem o incentivo fiscal, a diferença de preço entre os combustíveis compensa no longo prazo. 

O preço médio do gás natural no país está em R$ 2,89 por metro cúbico, cerca de 20% mais barato do que o litro do diesel (R$ 3,72) e 40% mais em conta do que a gasolina (R$ 4,71), de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Em alguns estados, como São Paulo, a vantagem do preço do gás é ainda maior: de 35% sobre o diesel e 50% sobre a gasolina.

Consumo de GNV aumentou 13,5% em um ano

De acordo com a Abegás, o consumo nacional de GNV cresceu de 5,508 milhões de metros cúbicos por dia, em setembro de 2017, para 6,250 milhões de metros cúbicos por dia, em setembro deste ano, um aumento de 13,5% no período.

"Notamos um aumento significativo na demanda por GNV nos últimos meses, especialmente após a greve dos caminhoneiros", afirmou Mendonça. O combustível foi o único que continuou disponível nos postos durante a paralisação porque o fornecimento é feito por meio de gasodutos. 

Segundo a entidade, cerca de 150 mil veículos, a maioria leves (automóveis), devem ser convertidos para gás natural em todo o país até o fim deste ano. "Boa parte dessa demanda poderia ser suprida por veículos novos já adaptados de fábrica para rodar com gás. Há interesse por parte das montadoras, e a tecnologia está disponível no país", disse Mendonça.

Gás facilitaria transição para fontes menos poluentes

A participação do gás natural dentro da matriz energética brasileira é de 10,7%, pequena se comparada à média mundial, de 20%. Os derivados de petróleo (36,5%) representam a principal fonte de energia do país, seguido pelo etanol derivado da cana (17,5%) e pela energia hidráulica, das hidrelétricas (12,6%).

O Brasil leva vantagem sobre o resto do mundo em relação ao uso de fontes renováveis e menos poluentes, enquanto as principais economias globais, como a China, ainda dependem do carvão (com peso de 28% na matriz energética mundial), altamente poluente. Porém, no Brasil, o peso dos derivados de petróleo ainda está acima da média mundial (31,7%).

Segundo a entidade, a demanda por gás natural no mundo só deve sofrer declínio a partir de 2050, com o aumento da utilização de outras fontes menos poluentes e renováveis. "Até lá, o gás será o único combustível fóssil capaz de fazer a transição para uma matriz energética mais limpa", declarou a entidade.

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