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Vazamento da reforma é estratégia ou especulação política? Analistas opinam

Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

06/02/2019 16h05

A divulgação de uma versão da proposta de reforma da Previdência, na segunda-feira (4), dividiu analistas. Uma parte avaliou que o vazamento é uma estratégia comum de todos os governos, interessados em testar os ânimos de políticos e eleitores sobre o texto. Uma ala avalia que a divulgação foi feita para fragilizar o debate.

Para parte dos técnicos e políticos familiarizados com o tema, o vazamento de uma versão com regras mais duras, como idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, seria um pretexto para a aprovação de um texto mais suave, com regras mais brandas. 

"O governo divulga um balão de ensaio, faz um vazamento e cria um boi de piranha. Com isso, tem a desculpa para construir uma narrativa perfeita de que isso é pressão das pessoas contra a reforma e aprova regras mais brandas", disse um parlamentar da base aliada de Jair Bolsonaro. 

O mesmo congressista, entretanto, afirmou que há uma forte pressão de servidores públicos contra a reforma, o que pode ter estimulado um vazamento seletivo. "Há uma guerra de versões. Muitas categorias espalham mentiras, mas ainda precisamos conhecer o texto final da reforma", disse. 

Na última quarta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que o principal desafio para a aprovação da reforma, além de conseguir os 308 votos necessários na Câmara, é combater notícias falsas sobre o tema.

Estratégia de Trump para testar opiniões

O cientista político André Rosa afirmou que o presidente adota uma postura semelhante à do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em noticiar um certo assunto, verificar a repercussão e, depois, decidir se prossegue ou não com o tema. 

"Ele não está jogando o assunto para o alto, mas Bolsonaro usa dessa estratégia para encontrar o caminho correto para o texto. O tema não é novo, é debatido no país desde 2017. O governo também já declarou que o texto divulgado não é o oficial. Precisamos esperar", disse. 

Rosa também declarou que, até a votação da proposta pelo plenário da Câmara, prevista para maio, haverá espaço para o debate com a sociedade e com os parlamentares. Ele disse, entretanto, que o tema é polêmico e não terá uma tramitação simples. 

"Sempre haverá oposição, mas o Bolsonaro elegeu o tema como prioritário e pode aproveitar do capital político nos primeiros meses de governo. O governo Temer aprovou primeiro teto de gastos e a reforma trabalhista para depois tentar votar a reforma da Previdência. Não deu certo", afirmou. 

Quem bate o martelo é o presidente

O cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, afirmou que o vazamento de uma proposta para a reforma da Previdência não prejudica o debate sobre o tema porque o texto final depende de aval de Bolsonaro. 

"Essa proposta é feita com a colaboração de muitas mãos e, invariavelmente, pode vazar. Não existe um texto final até o presidente bater o martelo. Não há muito espaço para toda essa especulação porque o Congresso ainda não começou os trabalhos nas comissões", disse. 

Aragão declarou que faltam ser escolhidos presidentes de comissões e, até lá, o governo terá tempo para definir o melhor texto do ponto de vista político e econômico. "Temos pessoas que fazem análises diferentes sobre o tema. Uma equipe técnica e política. Mas a palavra final é do presidente. Não acredito em vazamento seletivo ou para prejudicar a tramitação", disse.

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