Futuro presidente do BC priorizará banco digital, mas não cita juros
Desde que foi anunciado para presidir o BC (Banco Central) no governo de Jair Bolsonaro, o economista Roberto Campos Neto tem tido atuação discreta. Não dá entrevistas nem faz nenhum comentário sobre a economia brasileira.
Entretanto, documento que ele enviou ao Senado Federal, uma espécie de currículo, como exige a regra da indicação do presidente do BC, traz alguns indícios de suas prioridades. Ele fala em incentivar a inovação tecnológica e atrair investimento privado para o país, mas não cita o problema de falta de concorrência bancária, o que ajudaria a reduzir juros.
Prioridade para o banco do futuro
Campos Neto ainda precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado para tomar posse. Até assumir o posto, ele foi nomeado assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Por determinação do regimento interno do Senado, o indicado precisa apresentar uma argumentação escrita para demonstrar experiência profissional, formação técnica, além de afinidade intelectual e moral que o habilitam para o cargo.
Campos Neto declarou nesse documento que uma das prioridades será preparar o BC para lidar com as inovações tecnológicas do sistema financeiro. Ele também sinalizou que acompanhará o desenvolvimento de ativos digitais, como as criptomoedas.
"Tenho estudado e me dedicado intensamente ao desenho de como será o sistema financeiro do futuro. Participei de estudos sobre blockchain e ativos digitais, por exemplo. Uma das contribuições que espero trazer para o Banco Central é preparar a instituição para o mercado do futuro, em que as tecnologias avançam de forma exponencial, gerando transformações de uma forma mais acelerada", afirmou.
Quer atrair dinheiro de fora
Os efeitos do aumento e da queda de preços, as implicações das variações das taxas de juros, a queda ou não do desemprego e as oscilações no valor do dólar também estarão no radar de Campos Neto.
"Sempre estive ligado na economia real por meio dos mercados, conduzindo diversas mesas de operações em distintos países. Eu vivi de perto erros e acertos das políticas monetárias e cambiais e interagi com os formuladores. Tenho certeza de que essa experiência será útil na formulação de políticas a serem implementadas pelo Banco Central", declarou.
O economista também afirmou que trabalhará para que o Brasil receba ainda mais investimento privado, estrangeiro ou nacional, para promover o desenvolvimento do país.
"Participei da criação das maiores tesourarias internacionais da América Latina, com foco em clientes estrangeiros. Graças a essa experiência, acumulei vasto conhecimento do segmento de investidores internacionais, que espero utilizar em prol do desenvolvimento do país por meio da promoção do investimento privado, seja ele de origem nacional ou estrangeira", disse.
Independência do BC
Campos Neto terá de trabalhar para aprovar a autonomia do BC. Tramitam no Congresso Nacional várias propostas para que o presidente e os diretores do órgão tenham mandato fixo.
Atualmente, os dirigentes do BC não possuem mandato e podem ser exonerados pelo presidente da República a qualquer momento. Outra meta estabelecida pelo governo e que deverá ser cumprida por Campos Neto é a de estabelecer normas para a escolha de dirigentes de bancos públicos.
Os presidentes de bancos públicos, atualmente, são nomeados pelo presidente da República, sem análise prévia do BC. No caso dos dirigentes de bancos privados, todos precisam ser analisados pelo BC.
Concorrência bancária não foi citada
Nem Campos Neto nem o governo definiram como prioridade estimular a concorrência bancária e reduzir os juros cobrados dos consumidores por bancos e financeiras.
Série de reportagens do UOL mostrou causas e soluções para as taxas praticadas no Brasil. A concentração é tão grande que, de cada R$ 10 depositados nas instituições financeiras, R$ 8,50 ficam em apenas cinco bancos.
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