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Bancos têm "risco político alto" no Brasil, diz agência de classificação

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/05/2019 04h00

O risco político é o que mais ameaça os bancos no Brasil, diz um relatório da agência de classificação de risco de crédito Standard & Poor's. Um eventual fracasso do governo em medidas polêmicas no Congresso, como a reforma da Previdência e políticas para reduzir a dívida pública, são alguns exemplos que teriam impacto negativo no negócio dos bancos.

O relatório "Bancos dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] serão testados caso as condições globais se tornem mais instáveis em 2019" classifica os tipos de risco por sua intensidade: alto, médio, baixo e muito baixo. O risco político no Brasil foi considerado alto. O segundo pior risco é o de preço de commodities, qualificado como médio. Condições restritas de financiamento são um risco baixo, O risco de guerra comercial é considerado muito baixo para o Brasil.

Sem reformas, cenário brasileiro piora

Para a S&P, caso o governo do presidente Jair Bolsonaro não consiga aprovar algumas reformas, como a da Previdência, por exemplo, os bancos no país como um todo devem enfrentar pressões de saída de capital e desvalorização cambial, refletindo o sentimento pessimista dos investidores.

Segundo o relatório, isso provocaria uma inversão na recente melhora do otimismo empresarial e desestimularia o investimento.

"O risco político afeta o sistema [bancário] como um todo, uma vez que pode ter implicações para o investimento e para o crescimento econômico", disse ao UOL Cynthia Cohen Freue, diretora e principal analista de ratings de instituições financeiras da S&P Global Ratings.

A agência avalia, no entanto, que, embora a proposta de reforma da Previdência ainda enfrente batalha difícil no Congresso, há um crescente consenso na opinião pública de que ela é necessária, e isso pode favorecer sua aprovação.

Preço de commodities é outro fator de pressão

Um dos fatores de risco para os bancos brasileiros é o preço das commodities. Segundo a S&P, as exportações brasileiras poderão ser afetadas pela queda nos preços das commodities, principalmente a soja, embora represente apenas 17% das exportações totais brasileiras.

O relatório lembra ainda que recentemente as exportações de soja têm se beneficiado com disputa comercial entre Estados Unidos e a China, que suspendeu temporariamente as compras de soja norte-americana e a substituíram pela brasileira.

A S&P afirma também que essa guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, cujas negociações podem ser interrompidas, é também foco de preocupação para a economia global.

Segundo a agência, novas tensões comerciais poderão afastar investidores de mercados emergentes. Entretanto, "a exposição direta do Brasil à disrupção comercial é relativamente baixa porque sua economia é incomumente fechada, e as exportações representaram apenas 14,8% do PIB do país em dezembro de 2018 -inferior à de seus pares no Brics".

"Em geral, esperamos que as principais economias dos mercados emergentes lidem relativamente bem com este cenário este ano. Além disso, esperamos uma desaceleração gradual do crescimento econômico na China e Rússia, uma pequena melhora na Índia e uma ligeira recuperação do desempenho fraco na África do Sul e no Brasil", diz o relatório da S&P.

Bancos públicos geram distorções no mercado, diz S&P

Em entrevista ao UOL, Cynthia Freue, da S&P, disse que a expressiva participação dos bancos públicos brasileiros, de aproximadamente 50% do mercado, gera distorções no setor.

"Entretanto, acreditamos que a administração do presidente Bolsonaro, em linha com a gestão anterior, esteja implementando medidas para reduzir a importância relativa dos bancos públicos [no mercado financeiro] ao longo do tempo", afirmou.

Na avaliação dela, o novo governo nomeou presidentes para essas instituições com o intuito de melhorar o desempenho operacional, reduzir as distorções de mercado, focar seus papéis em políticas fundamentais e vender ativos que não estejam relacionados à sua principal atividade.

"Acreditamos que essas medidas podem ser positivas para o sistema bancário como um todo, inclusive para os bancos públicos. Entretanto, dada a alta participação dessas instituições no mercado, os resultados dessas iniciativas ainda devem levar tempo para se concretizar", declarou Cynthia. "Nesse sentido, não esperamos fazer uma ação positiva para a indústria bancária, ou para seus ratings, [apenas] em função dessas medidas."

Ela não comentou a intervenção polêmica de Bolsonaro em anúncio do Banco do Brasil e seu pedido para que o banco baixasse juros a produtores rurais.

(Reportagem: Vladimir Goitia; edição: Armando Pereira Filho)

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