Em vez de iPhones, investidores do Bitcoin Banco ganham caneca e camiseta
Resumo da notícia
- Grupo Bitcoin Banco oferece produtos de luxo, como iPhone e carros, para quitar parte da dívida com investidores
- Os itens não estão sendo entregues, segundo clientes. No lugar, estariam sendo enviados brindes baratos
- Além dos produtos, a empresa também fez várias promessas aos investidores, que, segundo eles, não foram cumpridas
- Empresa diz que processos judiciais impediram entregas
- Especialista diz que falha na prestação de serviço é passível de ações
O Grupo Bitcoin Banco, que há mais de quatro meses não libera saques para seus investidores, começou a oferecer em junho deste ano iPhones, carros e itens de luxo na Get4Bit, plataforma criada para a troca de criptomoedas por produtos. Foi uma das estratégias da empresa para quitar parte da dívida milionária com os clientes.
Investidores ouvidos pela reportagem, no entanto, afirmaram não ter recebido os produtos, solicitados em julho deste ano. Os únicos itens enviados, segundo eles, foram canecas, bandanas para pets e camisetas com a frase "to go sleep I count bitcoins not sheep" ("para ir dormir conto bitcoins, não ovelhas").
O investigador de polícia Rodrigo Vrubel, 41, cliente do grupo desde março, pediu um refrigerador da marca Consul 334 litros (R$ 2.520) no dia 19 de julho. Segundo Vrubel, sua namorada também solicitou na plataforma dois aparelhos de celular iPhone 8 (R$ 9.980). O prazo para a entrega dado foi de 30 dias.
"Já estamos quase em outubro, e nada chegou para gente. Eu enviei email duas vezes para a empresa questionando o porquê do atraso, mas nenhum foi respondido", disse Vrubel.
O investidor João Vitor Sanches, 28, adquiriu na plataforma um Apple Watch (R$ 2.000) e uma câmera GoPro Hero-7 (R$ 2.560), além de um conjunto com dois aparelhos iPhone 8 (R$ 9.980). Os pedidos foram feitos no dia 18 de julho, e o prazo de entrega foi de um mês.
"Também não recebi nada e nem perdi mais meu tempo [indo atrás]", disse Sanches. Há dezenas de relatos como o dele e de Vrubel nos grupos de investidores do Telegram.
Empresa diz que processos judiciais impediram entregas
A empresa informou, por meio de nota, que a utilização da plataforma Get4Bit foi uma das soluções apresentadas para solucionar o problema nos saques, mas "os processos jurídicos que se formaram impediram isso de ser viabilizado, travando a operação na plataforma".
Nos tribunais de Justiça do Paraná e de São Paulo, segundo apuração do UOL, há cerca de cem processos contra o Grupo Bitcoin Banco e seus proprietários. Só o advogado Lorenzo Scripes, de Curitiba (PR), representa 50 investidores, que têm cerca de R$ 10 milhões presos nas plataformas da empresa.
Só fizeram promessas, mas não cumpriram nada, diz investidor
A troca de criptomoedas por produtos foi só uma das tentativas apresentadas pelo grupo. Desde maio, a empresa criou fila de pagamentos, fez acordos individuais, desenvolveu uma criptomoeda própria (Br2x) e reformulou a NegocieCoins (exchange para negociar criptoativos) duas vezes, além de fazer várias promessas que, segundo investidores, não foram cumpridas.
"A primeira promessa foi que se eu transferisse tudo para uma plataforma da empresa, eu conseguiria sacar. Não funcionou. A segunda foi que se eu comprasse Br2x aí sim iria sacar, mas também não deu certo", disse o enfermeiro Hederson Freitas, 36, que investiu R$ 14 mil nas exchanges do grupo.
A empresa ainda prometeu, segundo Freitas, que se ele vendesse as moedas digitais Br2x adquiridas e transferisse o valor para a plataforma do grupo, ele iria conseguir sacar, mas também não deu em nada. A quarta foi um acordo assinado há quase três meses, disse ele, que também não foi cumprido.
"Só nessas quatro operações realizadas eu já perdi mais de R$ 6.000. Hoje, quando entro para ver meu saldo, não tem mais dinheiro lá. Simplesmente sumiu", disse.
O Grupo Bitcoin Banco informou que as tentativas apresentadas desde o início da crise também foram "travadas" pelos processos judiciais. A empresa disse também que já cadastrou 8.000 clientes (50% da base de investidores ativos) na NegocieCoinsPro, última reformulação da exchange. Ainda informou que os saldos dos investidores não foram migrados para a nova plataforma devido à "verificação dos saldos atuais".
Especialista diz que clientes podem entrar com ações por danos materiais e morais
O advogado Alexandre Aguilar, especialista em direito do consumidor, disse que todo fornecedor que oferece um produto é obrigado a entregar no tempo em que foi prometido, caso contrário está infringindo o Código de Defesa do Consumidor.
Aguilar ainda falou que uma empresa, ao fazer promessas e não honrar com o que foi dito, também deixa de cumprir as regras de publicidade estabelecidas pela legislação de direito do consumidor, o que seria, segundo ele, uma prática abusiva.
"Quando há uma falha na prestação de serviço oferecido, é possível entrar com ações por danos materiais e morais. Se a empresa não tiver recursos para arcar, basta pedir a desconsideração da pessoa jurídica e ir atrás dos bens dos sócios", declarou.
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