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Brasil não entrar já na OCDE tem pouco efeito na economia, dizem analistas

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

10/10/2019 16h59

Resumo da notícia

  • EUA não irão apoiar entrada do Brasil na OCDE agora, segundo agência Bloomberg
  • Analistas afirmam que decisão não traz efeitos para a economia brasileira no momento
  • Para eles, expectativa não era de entrada no grupo rapidamente
  • Argentina e Romênia, que devem ser indicadas, estavam na frente na fila

A notícia de que os Estados Unidos irão apoiar a entrada de Argentina e Romênia na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e não o Brasil, não traz efeitos para a economia do país no momento, segundo especialistas consultados pelo UOL.

"Os analistas que conhecem bem essa história sabem que não é isso que vai mudar em curto prazo a economia brasileira", afirmou Lia Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

A informação sobre a não indicação dos EUA foi divulgada nesta quinta-feira (10) pela agência Bloomberg, com base em cópia de carta enviada pelo secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, em 28 de agosto.

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o Brasil não ser indicado neste momento não traz "nenhum grande impacto visível".

"O Brasil já não conta com isso, nem o mercado conta com isso", afirmou.

Os analistas dizem que Argentina e Romênia estavam, de fato, na frente do Brasil na fila para entrar na OCDE, seguindo os trâmites burocráticos necessários, por terem feito o pedido antes. Mesmo a proximidade do presidente Jair Bolsonaro com o presidente americano Donald Trump dificilmente aceleraria esse processo, segundo eles.

Além disso, uma eventual indicação dos EUA poderia até trazer algum efeito positivo, com um otimismo do mercado, mas o processo de efetivação ainda seria longo, levando anos, e passaria por muitas etapas, sem trazer efeitos concretos rapidamente.

Pressão por reformas

Para Jason Vieira, o Brasil ainda tem um caminho a percorrer com a agenda de reformas para conseguir a indicação à OCDE. É preciso uma sinalização mais clara de que efetivamente está abrindo o seu mercado.

Além da reforma da Previdência, que está em suas etapas finais no Congresso, ele cita a reforma tributária, que o governo aponta como uma de suas prioridades.

Vieira diz que Argentina e Romênia conseguiram a indicação, entre outras coisas, por já terem feito reformas.

Para ele, o Brasil ser deixado de lado, neste momento, não significa que os EUA estejam virando as costas ao país. É uma sinalização pela necessidade das reformas, sendo uma medida muito mais econômica do que política.

"Essa questão em específico leva muito mais em consideração um conceito de necessidade de avanços em relação a uma agenda de abertura econômica", afirmou.

Já Lia Valls não vê a falta de indicação como um recado do governo americano para que as reformas avancem. Para ela, se esse fosse o caso, a Argentina não sido indicada neste momento, já que o país atravessa uma instabilidade econômica.

A pesquisadora diz que, caso o Brasil tivesse sido indicado, aí sim poderia existir uma pressão mais clara para que a agenda avançasse, de forma a efetivar a entrada.

"[Sem o convite] você retira um pouco da disciplina externa que a OCDE poderia trazer", afirmou.

Perda de status como emergente

Desde que o presidente Jair Bolsonaro foi eleito, o posicionamento da política externa brasileira foi de alinhamento aos EUA, inclusive como forma de conseguir o apoio para a entrada no clube dos países ricos.

Com contrapartida pela indicação, o Brasil abriu mão de ser tratado como país em desenvolvimento em futuros acordos na OMC (Organização Mundial do Comércio), o que garantia vantagens comerciais.

Isso, porém, também não traz um impacto significativo para a economia brasileira, de acordo com os analistas.

Valls afirma que o Brasil já "não estava usando tanto" o status especial que tinha na OMC, enquanto Vieira considera que o mercado já assimilou essa perda.

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