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Cofundador da Telexfree, Wanzeler é preso no RJ e pode ser enviado aos EUA

O cofundador da Telexfree Carlos Wanzeler - Arquivo pessoal/Facebook
O cofundador da Telexfree Carlos Wanzeler Imagem: Arquivo pessoal/Facebook

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

27/02/2020 16h53

O cofundador da Telexfree Carlos Wanzeler foi preso pela Polícia Federal na semana passada, em um hotel em Búzios (RJ), onde iria curtir o Carnaval ao lado da família e de um casal de amigos, segundo sua defesa.

A prisão foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que quer que Wanzeler seja extraditado para os Estados Unidos. O brasileiro é considerado foragido pela Justiça norte-americana, acusado de comandar uma pirâmide financeira que movimentou US$ 1 bilhão.

Wanzeler não podia ser extraditado antes porque a Constituição do país impede a extradição de brasileiros ao exterior. Porém, na semana passada, a 2ª Turma do STF confirmou a decisão de retirar de Wanzeler a cidadania brasileira, pois adquiriu a cidadania norte-americana em 2009. Segundo a Constituição, o brasileiro perde a nacionalidade quando adquire outra (com algumas exceções, como no caso de descendentes de portugueses e italianos).

É a segunda vez que Wanzeler é preso em menos de três meses. Ele e seu antigo sócio, Carlos Costa, foram detidos preventivamente no final de dezembro, no âmbito da operação Alnilam da Polícia Federal.

Prisão foi desnecessária, diz defesa

De acordo com o advogado Rafael Lima, que defende o empresário, a prisão foi desnecessária. "Vamos mostrar que a decisão não teve cabimento, pois o meu cliente está respondendo aqui no Brasil a todas as ações de forma correta, sem criar qualquer embaraço", disse.

Segundo Lima, a defesa pretende entrar com um agravo contra a decisão do ministro. Isso porque, disse, a Lei de Migração estipula que não deve haver extradição caso o acusado esteja respondendo aos mesmos crimes em ambos os países.

Nos Estados Unidos, segundo o Departamento de Justiça, o empresário é alvo de um mandado federal de prisão por causa das acusações apresentadas contra ele no caso Telexfree.

O empresário pode ser extraditado?

O Brasil, segundo a defesa, já avisou o governo norte-americano sobre a prisão de Wanzeler. Os EUA agora têm 60 dias para dar entrada no pedido de extradição, disse o advogado à reportagem.

O UOL questionou o Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre a informação. A pasta enviou nota dizendo que "não se manifesta e não fornece informações sobre processos específicos de extradição, haja vista conter informações pessoais, entre outras eventualmente protegidas por sigilo legal e/ou segredo de justiça".

Entenda o caso

A Telexfree começou a atuar no país em março de 2012 e dizia operar no sistema de marketing multinível. A empresa afirmava vender pacotes de telefonia via internet (VoIP), serviço semelhante ao Skype. Foi proibida de operar no final de junho de 2013 e considerada culpada de praticar pirâmide financeira em 2015.

Na prática, a empresa ganhava pouco dinheiro com a venda de serviços e fazia milhões de dólares com milhares de pessoas que pagavam uma taxa de assinatura para serem "promotores comerciais" e publicarem anúncios online para a Telexfree. Em todo o Brasil, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas tenham investido suas economias na empresa.

Nos EUA, a empresa foi formalmente acusada pela Justiça de atuar sob um esquema de pirâmide financeira com foco em imigrantes brasileiros e dominicanos. O norte-americano James Matthew Merrill, um dos fundadores da Telexfree, declarou-se culpado em 2014 pelos crimes de fraude e conspiração. Wanzeler fugiu para o Brasil em 2014 e não podia ser extraditado.

A formação de pirâmide financeira é considerada ilegal porque só é vantajosa enquanto atrai novos investidores. Assim que os aplicadores param de entrar, o esquema não tem como cobrir os retornos prometidos e entra em colapso. Nesse tipo de golpe, são comuns as promessas de retorno expressivo em pouco tempo.

Sócio lança nova empresa

Apesar de todos os problemas com a Justiça, Carlos Costa lançou uma nova empresa, a Pipz.

O negócio, assim como a Telexfree, afirma atuar com marketing multinível, além de supostamente funcionar como um clube de compras e de descontos.