Ex-sócio da pirâmide Telexfree cria outra empresa de marketing multinível
Resumo da notícia
- Carlos Costa, ex-sócio da Telexfree no Brasil, está à frente da Pipz, que promete "renda extra" por meio do consumo diário
- Há uma adesão grátis e uma paga ao sistema; a modalidade paga custa R$ 600 mais mensalidades de R$ 49,90
- A empresa promete descontos para quem consome produtos e ganhos para quem vender itens como chinelo magnético, poltrona e perfume
- A Pipz apresentou laudo pericial da Justiça e declarou não ter ligações com a Telexfre
Carlos Costa, ex-sócio da Telexfree no Brasil, considerada pirâmide financeira, está à frente de uma nova companhia de marketing multinível, a Pipz. Um mês depois de ter sido preso preventivamente em uma operação que investiga ocultação de valores obtidos pela antiga companhia, ele promove o novo negócio, do qual é fundador e CEO, por meio de vídeos em página da empresa no Facebook.
Nas gravações, em que convida novos parceiros para participar da companhia, Costa fala em "renda extra" por meio do consumo diário. Ao UOL, a empresa apresentou um laudo pericial da Justiça sobre a plataforma e declarou não ter ligações com a Telexfree, apesar de as redes sociais da pirâmide terem divulgado o lançamento da Pipz.
Conheça um pouco mais sobre o novo negócio de marketing multinível de Carlos Costa e entenda as diferenças entre empresas de marketing multinível, como a Pipz se apresenta, e pirâmides financeiras, como a Telexfree foi declarada:
Como funciona a Pipz
Fundada há dois anos, a Pipz se define como uma mistura de clube de compras, clube de descontos e marketing multinível. A empresa oferece uma plataforma de programas de pontos que podem levar a descontos em produtos e serviços e trazer retorno em dinheiro.
Com uma série de etapas e números, o trâmite para chegar até a remuneração é um pouco complicado de entender. Segundo a Pipz, funciona de duas maneiras:
Gratuita: o usuário que se inscreve no programa de fidelidade acumula pontos por meio de compras em empresas e lojas parceiras (R$ 1 = 1 ou mais pontos). Depois, ele pode trocar estes pontos por descontos em outras lojas ou por dinheiro via conta bancária, mas só quando chegar a 50 mil. Segundo a Pipz, o valor repassado em troca é "variável".
Por assinatura: o usuário se torna assinante do clube de descontos e passa a ter ganho de pontos e dinheiro por meio da venda de produtos da marca e indicação de novos participantes.
Para fazer parte da plataforma, o interessado precisa desembolsar R$ 600 (segundo a empresa, é valor promocional; o normal seriam R$ 1.000) e pagar uma mensalidade de R$ 49,90. Com isso, ele tem acesso a um kit de produtos da marca com desconto, para revenda, e vouchers de descontos para utilizar nas lojas parceiras.
Chinelo magnético, poltrona e perfume
Os produtos oferecidos pela marca são: pulseira magnética, colchão magnético, palmilha magnética, chinelo magnético, poltrona automatizada "estilo presidente" e perfumes.
Para os assinantes, há ainda o sistema de indicação de novos associados, característico de empresas de marketing multinível. A venda direta de uma assinatura com kit de pulseiras para um novo membro, por exemplo, oferece ganho de 4.000 pontos.
Estes pontos podem ser trocados por descontos ou dinheiro. Segundo a empresa, este sistema de recompensa por indicação segue "a mesma prática de concorrentes", como Dotz e Multiplus.
Como a Pipz ganha dinheiro
Ao UOL, a empresa afirmou que seu modelo de negócios consiste na compra de pontos pelos participantes, mensalidades pagas pelos assinantes e comissões sobre as vendas de pontos, produtos e vouchers de descontos.
Segundo a companhia, a Pipz tem hoje mais de 10 mil usuários, entre cadastrados gratuitos e assinantes do clube.
Empresa apresenta perícia e nega ligação com Telexfree
Costa, fundador, CEO e principal rosto da Pipz nas redes sociais, foi preso em dezembro de 2019 em meio a uma operação que investiga ocultação de valores obtidos pela Telexfree. No começo daquele mês, sua filha, Priscila Freitas Costa, também foi acusada de lavar dinheiro em imóveis nos Estados Unidos.
Ao UOL, a empresa afirmou não temer que sua credibilidade sofra. A companhia disponibiliza em seu site um laudo pericial da Justiça do Espirito Santo.
"O Programa de fidelidade Pipz teve, antecipadamente, seu modelo de negócio todo apresentado à Justiça e periciado, por um perito nomeado pelo juiz (perito da Justiça), tendo o resultado da perícia comprovado que o modelo de negócio é na sua integridade totalmente lícito, e idêntico a qualquer outro do mercado", declarou a companhia, em resposta ao UOL.
Além disso, a empresa também afirma que "não possui ligação", direta ou indireta, com a Telexfree. "Trata-se de pessoas jurídicas absolutamente distintas, que ficam sediadas em países diferentes, não mantendo nenhum tipo de ligação empresarial ou comercial", declarou.
Apesar disso, a página da Telexfree no Brasil compartilhou ativamente vídeos da Pipz em que Costa convida pessoas para lives que explicam como funciona a empresa.
Após a publicação desta reportagem, a Pipz procurou o UOL e informou que "os vídeos na página da Telexfree sobre a Pipz foram publicados erroneamente pelo setor de marketing" e que já foram apagados.
Veja as diferenças entre marketing multinível e pirâmide
As práticas de marketing multinível e pirâmide financeira são distintas e definidas pela lei. A primeira, como a Pipz se apresenta, é legal, enquanto a segunda, conforme a Telexfree foi considerada pela Justiça, é crime contra a economia popular, previsto na legislação brasileira desde 1951.
No entanto, de acordo com o advogado Luís André Azevedo, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), a linha que separa as duas é tênue e pode confundir os leigos.
"É uma diferença sutil, que demanda muita atenção de quem vai participar. Uma vez que você entra, é difícil de ver", afirma Azevedo, doutor em direito comercial. "Também pode acontecer de a companhia ser legítima e, em um dado momento, se desvirtuar [para pirâmide] e o participante nem perceber. É complicado."
Veja algumas diferenças entre a empresa de marketing multinível legítima e um esquema de pirâmide financeira:
- A principal fonte de renda é o produto
Em ambas, há compensação por indicar novos participantes, mas, em uma empresa de marketing multinível, a principal fonte de renda de quem adere é o produto que ela vende -a indicação é um adicional. Em pirâmides é o oposto, com o produto sendo apenas um detalhe no pagamento.
"A maior parte da receita tem de ser proveniente das vendas de produtos reais. O ganho do recrutamento é menor, como um bônus para quem sabe atrair pessoas. E este ganho a mais [se dá] porque essas pessoas indicadas também vendem. Na pirâmide, não. Geralmente o produto ou não existe ou até existe, mas representa uma dimensão irrisória, para ocultar que o ganho [dos participantes] vem mesmo do recrutamento, não da venda", explica o especialista.
- Não pode prometer ganho fácil e rápido
Empresas não podem prometer retornos financeiros exorbitantes para quem aderir de maneira fácil e rápida. Este é um dos grandes indicativos de uma pirâmide. "A empresa não pode falar: 'você receberá 20% em um mês', como algumas fazem. Isso não existe. Ela pode oferecer oportunidades, não prometer esses ganhos", afirma Azevedo.
- Participantes são treinados
De acordo com o advogado, um bom indicativo da operação em empresas de marketing multinível é que elas oferecem treinamento para seus parceiros. "Há uma estrutura de treinamento dos participantes em empresas [de marketing multinível] sérias, para que eles se tornem melhores vendedores e influenciadores", explica.
Perguntas para identificar se a empresa é séria
Algumas perguntas podem ajudar a avaliar uma empresa de marketing multinível caso você tenha sido convidado para fazer parte do negócio:
- De onde virão meus ganhos?
- Há um produto real para comercializar?
- Como é a empresa? Ela é transparente ou opaca?
- Quem são as pessoas que a gerenciam?
- Há muitas informações disponíveis sobre ela ou é misteriosa?
- Como é seu histórico? Os participantes têm conseguido resultados por meio dos seus esforços?
Para quem tiver dúvidas há ainda uma cartilha da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que esclarece melhor estas diferenças.
O que fazer se eu me sentir lesado
Quem se sentir lesado por empresas de marketing multinível deve procurar órgãos de defesa do consumidor, CVM ou Ministério Público para fazer a denúncia.
"Em qualquer situação, seja investimento ou não, o consumidor deve verificar as condições e a procedência de qualquer oferta de negócio, parceria ou trabalho. Esquemas irregulares de captação como pirâmides financeiras, normalmente têm a aparência de investimentos ou negócios legítimos, mas podem ser considerados, a depender das características, como crimes contra a economia popular", destaca a CVM.
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