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"Governo é incapaz", diz CUT após proposta de cortar 4 meses de salário

Filipe Andretta

Do UOL, em São Paulo

23/03/2020 17h16

Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), criticou a atuação do governo de Jair Bolsonaro nesta crise econômica causada pelo coronavírus. Na opinião do sindicalista, o governo erra ao propor suspensão de contratos de trabalho e redução de salários.

Bolsonaro publicou na noite deste domingo uma medida provisória [MP 297/2020] que autorizava a suspensão de contratos de trabalho por quatro meses sem pagamento de salário, dentre outras flexibilizações de direitos trabalhistas. Hoje, o governo voltou atrás sobre a suspensão dos contratos, mantendo as demais mudanças.

"Vejo com muita preocupação [a MP publicada neste domingo], porque mostra o quanto o governo é incapaz de enfrentar a crise. A MP veio em seguida a uma proposta da CNI [Confederação Nacional da Indústria], dando legitimidade a tudo que eles queriam", declarou o sindicalista ao UOL.

Na opinião do presidente da CUT, o governo cria atritos desnecessários tentando se intrometer na relação entre empresas e empregados, enquanto deixa de focar em quem mais será afetado na crise: pequenos empresários e trabalhadores sem carteira assinada.

"Sindicatos estão acostumados a enfrentar crise. Empresa chama, a gente senta e negocia. Não precisa de MP para regulamentar quem tem carteira assinada", diz. Ele cita como exemplo montadoras de carros, que pararam a produção em acordo com representantes dos trabalhadores sem precisar demitir —elas optaram por férias coletivas ou banco de horas.

Nobre diz que grandes empresas têm condição de suportar meses de redução no faturamento. Ele afirma que o governo tem recursos para socorrer as pequenas e médias empresas, mas não anunciou medidas capazes de socorrê-las. "O dono do bar e o dono da padaria não aguentam 30 dias parados."

Segundo o presidente da CUT, o que mais o preocupa são os trabalhadores informais, como motoristas de aplicativos e vendedores ambulantes, porque não contam com a proteção do sindicato. "Esse povo precisa rapidamente de um fundo para receber pelo menos um salário mínimo e ficar em casa, mas o governo se finge de morto. Está perdido."

O sindicalista afirma que as principais centrais estão em diálogo constante com o Congresso e empresários. Só o governo resolveu se isolar. "A CUT não tem atrito com ninguém, conversamos com quem tem responsabilidade."

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