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Sem diretriz do governo Bolsonaro, empresários divergem sobre isolamento

A Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços) defende o isolamento rigoroso de toda a população - Divulgação/Fiesp
A Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços) defende o isolamento rigoroso de toda a população Imagem: Divulgação/Fiesp

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

30/03/2020 16h47

Com a falta de uma diretriz do governo federal sobre os critérios de isolamento, empresários divergem sobre o modelo que o país deve adotar.

Representantes do setor de serviços defendem o isolamento horizontal, com base nas orientações técnicas do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Já grandes varejistas entendem que o caminho é o isolamento vertical para preservar a economia como defende Jair Bolsonaro (sem partido).

O governo Bolsonaro dá sinais trocados sobre a pandemia. Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, orienta a população a permanecer em casa, o presidente sai às ruas e faz selfies com a população.

O presidente do Brasil 200, instituto ligado a grandes varejistas, Gabriel Kanner entende que o momento é para isolamento vertical, como defende Bolsonaro. Ou seja, apenas para grupos pessoas em grupos de risco, como idosos e doentes crônicos.

"Defendemos a quarentena até dia 6 de abril e a partir daí retomar gradualmente, evitando aglomerações. O Brasil 200 defende a quarentena vertical que seria isolar grupos de risco e aos poucos permitir que a população adulta e saudável volte a trabalhar", afirmou o presidente da instituição, Gabriel Kanner.

O grupo representado por Kanner é formado por diferentes empresários do ramo varejista e apoiadores do governo Bolsonaro, entre eles, o seu tio Flávio Rocha (Riachuelo), Luciano Hang (Havan), João Appolinário (Polishop). A visão sobre o isolamento brando é semelhante à da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

"Se fizermos a paralização total por muito tempo é um grande risco para economia e para população. A Riachuelo, por exemplo, consegue segurar 40 mil funcionários em casa, tem fôlego para suportar dois ou três meses. Mas e os menores?", questinou Kanner.

O entendimento é diferente na Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços), que defende o isolamento rigoroso de toda a população e reclama da falta de orientação do governo Bolsonaro. Para Diniz, o isolamento deve ser total agora e se flexibilizar ao longo dos próximos dois meses.

"A gente tem um período para trabalhar em cima disso. Nós esperamos em maio algum refresco nesse sentido. Então começa com isolamento mais intenso agora e progressivamente, com base na ciência, libera o isolamento", disse Diniz.

Ele acredita na base de cálculo do ministro Mandetta, que por ora, descarta o isolamento vertical e criticou indiretamente Bolsonaro, que defende a medida.

"Infelizmente o chefe da equipe [Bolsonaro] abre a boca e contradiz boa parte do que a equipe técnica diz. Pela orientação de cientistas e da OMS, vimos que o ideal é conter a circulação de pessoas e aos poucos liberar, consideramos que essa flexibilização poderia ocorrer a partir de maio", disse o presidente da Cebrasse João Diniz.

Ambos concordam com as medidas econômicas apresentadas pelo governo nas últimas semanas. "Vimos que estão dando remédio, só não sabemos se é a dose certa. Ainda não temos como avaliar, pois nem sabemos como a renda será distribuída", disse Diniz sobre as propostas de crédito aos empresários e dos R$ 600 para pessoas com baixa renda.