Delfim Netto: Coronavírus colocou pobre no foco e mudará política econômica
Resumo da notícia
- Separação entre ricos e pobres terá que ser objeto importante da política econômica, diz economista e ex-ministro da Fazenda
- Governo deve trabalhar desde já em plano para reativar a economia, afirma Delfim Netto
- Governo e o Congresso não podem repetir erro de 2008, quando despesas emergenciais se tornaram permanentes após a crise
A crise causada pelo novo coronavírus colocou o pobre em foco na televisão e o Brasil nunca mais será o mesmo depois que a pandemia passar, afirmou hoje o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto ao UOL Entrevista.
Segundo ele, a separação entre as pessoas em ricos e pobres vai ter de ser um objeto importante da política econômica que virá após a crise do coronavírus passar.
Como uma das medidas a serem adotadas posteriormente, Delfim citou a reforma no sistema tributário brasileiro. Já há propostas sobre o tema em discussão no Congresso, mas para o economista é preciso um projeto mais amplo, que inclua transferência de renda.
"Teremos de fazer uma reforma tributária séria, não igual essa que está lá, feita pelos joelhos. Terá de fazer uma transferência de renda, sabendo que o crescimento virá do aumento de investimento. Fazer uma política econômica capaz de dar outra vez para o brasileiro, para que o filho esteja melhor que o pai", declarou.
Delfim disse que havia no país um certo "conformismo com a extrema desigualdade" social e que a crise tornou visível parte da sociedade, especialmente os trabalhadores informais, que estava esquecida.
"Você terá de fazer políticas capazes de atendê-las. Fazíamos isso antes. O Bolsa Família era um exemplo. Vamos sair dessa crise com outra concepção. O vírus colocou na televisão o pobre, mostrou um fato que a sociedade talvez soubesse que existia, mas que não tinha visto", afirmou.
'Maior desafio é recuperar economia'
Para o economista, o maior desafio do governo Bolsonaro será recuperar a economia após a pandemia. Segundo ele, a administração federal já deveria pensar e trabalhar desde já em um plano para reativar a economia do país.
"Temos de pensar em como vamos nos organizar para que, tão logo a pandemia esteja controlada, possamos trabalhar e recuperar a economia novamente. Exige do governo uma 'task force' (força-tarefa), um programa com começo, meio e fim, de como vamos sair disso. Mas acho que temos que começar a pensar nele. O que estamos vivendo, está dado", declarou.
Segundo ele, a crise deve provocar uma perda no PIB (Produto Interno Bruto) por volta de 6% neste ano e, como consequência, muitas pessoas vão empobrecer. Para enfrentar essa situação, o governo não pode ter um limite de gastos, disse.
"O Estado tem a obrigação moral de reduzir o número de óbitos. Por isso, para enfrentar a covid-19, não pode ter limite orçamentário. Estamos dependentes não só do comportamento do presidente [Jair Bolsonaro], mas como vai evoluir a pandemia. Estamos na direção certa", afirmou.
Risco de perpetuar despesas
Delfim Netto alertou que o governo e o Congresso não podem repetir um erro cometido em 2008, quando despesas emergenciais se tornaram permanentes após a crise.
"O Congresso aproveitou a confusão para transformar o plano Mansueto no seu oposto. Fazer a alegria ampla e irrestrita, voltar a farra fiscal", afirmou o economista na entrevista. "Estão propondo empurrar para o Tesouro Nacional, para todos nós, empurrar em cima de nós, bilhões para torrar de novo", disse.
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