Regra de ouro não será cumprida nos próximos anos, diz Mansueto
O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou hoje que a regra de ouro precisará ser revista porque não será possível cumpri-la nos próximos anos.
Mansueto participa de audiência pública virtual promovida pela Comissão Mista do Congresso Nacional para acompanhar a situação fiscal e a execução orçamentária e financeira das medidas relacionadas ao novo coronavírus, causador da covid-19.
A regra de ouro proíbe o Executivo de se endividar para pagar as despesas correntes —como são chamados os gastos da administração pública para manter seus serviços em funcionamento, como salários de servidores.
Mansueto lembrou que, desde o ano passado, a regra de ouro não é cumprida. "A regra de ouro é boa, mas o gasto e a perda de receita ficaram tão grandes, o buraco fiscal ficou tão grande, que hoje a gente tem que pedir emprestado para pagar despesas correntes essenciais. A gente vai ter que mudar a regra de ouro", disse o secretário.
Ele acrescentou que a regra não deve ser cumprida até o final do atual governo e "talvez não seja cumprida no início do próximo também".
Dívida pública
O secretário disse que a dívida pública é alta, mas destacou que a preocupação do mercado é com a trajetória do endividamento nos próximos anos. "O mercado não consegue enxergar a dívida caindo em relação ao tamanho da economia."
De acordo com Mansueto, quanto mais o mercado tem dúvida sobre a trajetória da dívida, mais pede prêmio de risco para financiar o governo.
O secretário estimou que a dívida pública encerre este ano em cerca de 90% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país).
Ele acrescentou que a média da relação entre dívida e PIB dos países emergentes é de 50%. Para lidar com essa situação, será preciso manter o ajuste fiscal nos próximos anos, afirmou.
Mansueto disse também que o aumento de gastos este ano será necessário para enfrentar a pandemia de covid-19, mas ressaltou que a expansão de despesas deve ser limitada a 2020. "Esse gasto é para despesa temporária, não para permanente."
Investimento privado
O secretário do Tesouro disse ainda que a retomada da economia precisará de investimento privado. "E investimento privado vem. Olha o caso dos aeroportos no Brasil. A gente se acostumou no Brasil, por mais de 40 anos, que todos os aeroportos fossem públicos. Os aeroportos passaram para investimento privado. O serviço piorou? Não piorou."
Mansueto citou também as radovias, lembrando que várias são concessões que pagam pedágio, e diversas distribuidoras de energia elétrica, que foram privatizadas, e o serviço melhorou.
"O grande fator de recuperação tem que ser o investimento, em especial o privado. Se tiver marco regulatório, o investimento vem", declarou.
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