Investidor estrangeiro teme calote do Brasil por política e gasto com crise
Resumo da notícia
- Indicador que mede risco de calote do Brasil está em níveis elevados há quase um mês
- Risco-país mostra investidores preocupados com falta de plano do governo para tirar país da crise
- Dólar em alta contra o real tem relação com aumento do risco Brasil, dizem analistas
- Se risco-país continuar elevado por muito tempo, empresas vão ter dificuldade para financiar dívidas, dizem analistas
Faz quase um mês que investidores estrangeiros estão mais preocupados com o risco de o Brasil atolar na crise econômica e começar a ter dificuldades para pagar suas dívidas. É o que mostra o risco-país, indicador que mede o receio que o mercado tem de tomar um calote de algum governo.
Neste ano, o risco, medido por um indicador chamado CDS (Credit Default Swap), mais que triplicou, indo de 106 em janeiro para 341 em maio. Desde 22 de abril, o índice tem se mantido acima dos 300 pontos, o mais elevado entre algumas das principais economias emergentes. Isso mostra que investidores e instituições financeiras internacionais estão preocupados com a capacidade de o governo brasileiro enfrentar a crise econômica provocada pelo coronavírus sem quebrar as contas públicas depois que a pandemia passar.
A valorização do dólar em relação ao real, dizem profissionais de mercado, é maior no Brasil que em outros países também por causa dessa desconfiança crescente em relação à economia brasileira.
O CDS é um contrato que funciona como uma apólice de seguro. Quem empresta para o Brasil - comprando títulos do governo ou de empresas brasileiras - pode ter CDS para cobrir perdas caso o devedor não pague o que deve. Ou seja, se o CDS está ficando mais alto isso quer dizer que o medo de um calote é maior.
"O Brasil já teve o risco-país muito mais elevado, acima de mil pontos, por exemplo, antes da eleição do Lula. Mas era outra época. Para os padrões de hoje, esse indicador está elevado", afirma o economista da Órama, Alexandre Espirito Santos.
E por que o risco de calote cresceu?
Segundo economistas, o Brasil entrou na crise do coronavírus em uma situação pior que a de outros países por causa da dívida pública, que aqui é mais elevada - cerca de 75% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto no México, por exemplo, está abaixo de 60%.
Como a fonte de recursos para o país sair da crise tem que ser o governo - como está sendo em todos os outros lugares do mundo -, quanto mais endividado o setor público estiver, mais difícil vai ser a recuperação.
Além de perceber isso, os investidores estrangeiros também temem que os políticos brasileiros transformem os gastos emergenciais para enfrentar o coronavírus em uma despesa fixa, transformando a dívida pública em uma bola de neve ainda maior.
"É um ciclo vicioso. Como a economia já vai mal, o coronavírus provoca uma pressão para que o governo adote medidas populistas que pioram as contas públicas", afirma o estrategista do banco digital Modalmais, Felipe Sichel.
Segundo ele, a cada briga do presidente Jair Bolsonaro com o Congresso cresce a sensação de que o governo não tem articulação politica -nem para barrar pautas que transformem gastos emergenciais em despesas fixas no futuro, nem para retomar as reformas, como a tributária e administrativa, consideradas pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, fundamentais para que o país possa retomar o caminho do crescimento.
A gente vê pouca ou nenhuma articulação do executivo para barrar pautas populistas, ou para avançar com pautas reformistas.
Felipe Sichel, estrategista do banco digital Modalmais
Impacto na vida real
O risco-país é uma referência também para os juros que um país paga ao tomar empréstimos. Isso quer dizer que, se o risco Brasil continuar nos atuais patamares, o governo e as empresas brasileiras terão que gastar mais para levantar recursos para projetos e assim reaquecer a economia.
E daí? Daí que o Brasil precisa de investimento estrangeiro. Para crescer, o país tem que investir um volume de recursos equivalente a pelo menos 20% do PIB. Mas nossa poupança interna - ou seja, capital do próprio país disponível para investimentos - está abaixo de 16%. O restante tem que vir de fora. Ou o Brasil não cresce.
O risco-país também entra na conta que empresas fazem na hora de decidir se vale a pena ou não investir em novos projetos no Brasil. Por exemplo, uma nova concessão de rodovia, um novo aeroporto ou exploração e produção de petróleo.
Se o risco Brasil continua elevado, isso encarece o custo de captação de recursos e afeta a decisão de investimentos no Brasil.
Alexandre Espirito Santo, economista da Órama
A alta do dólar é outro sintoma do risco Brasil elevado, dizem profissionais de mercado. A desconfiança que afasta investimentos reduz a oferta de moeda americana aqui, provocando então a desvalorização do real. "O dólar está subindo no mundo todo, Mas aqui, a valorização é mais forte por causa da desconfiança", afirma o responsável pela mesa institucional da Genial Investimentos, Roberto Motta.
Se o mercado desconfia que o governo vai seguir com esses gastos, volta a conversa de que o Brasil pode ter insolvência da dívida, e o risco-país vai ser muito maior.
Roberto Motta, Genial Investimento
E se o dólar permanecer alto por muito tempo isso pode contaminar a inflação, afetando diretamente a vida das pessoas no dia a dia. E, nas contas de muitos bancos, o dólar vai seguir em alta, superando os R$ 6, antes de perder força.
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