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Apesar de perda, setor de turismo apoia antecipar feriados contra covid-19

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

21/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • São Paulo antecipa feriados, e decisão pode afetar retomada das viagens no restante do ano
  • Operadores de viagens dizem que medida deveria ter sido tomada com mais antecedência
  • Mas empresários do setor concordam que mais importante agora é agir para reduzir período de incertezas
  • Quanto antes pandemia for controlada, melhor para recuperar as viagens, dizem representantes do setor

A decisão da Prefeitura de São Paulo e de outros municípios da região metropolitana de antecipar feriados para esta semana pode ter algum impacto na recuperação do turismo ao longo do ano, mas a medida foi bem recebida pelo setor porque o mais importante agora é conter o quanto antes o coronavírus, dizem representantes desse mercado.

Ao trazer para esta semana feriados que aconteceriam em 11 de junho (Corpus Christi) e 20 de novembro (Consciência Negra), com objetivo de aumentar o grau de isolamento, as prefeituras também devem afetar o potencial de viagens no futuro, após passado o pior momento da pandemia. Até porque São Paulo é o maior mercado emissor de turistas do país.

"Para o turismo não é bom. Os feriados costumam ser oportunidades de aumento de vendas de viagens e, especialmente esse de novembro, poderia contribuir para um impacto positivo nas economias das cidades que receberiam esses viajantes. Feriados são oportunos para viagens curtas, para tirar o estresse, uma combinação ideal para o momento de retomada", disse o presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Roberto Haro Nedelciu.

Segundo Nedelciu, a antecipação de feriados até era esperada nessa crise, mas poderia ter sido mais bem planejada. "Entendemos o caráter emergencial do momento, mas a estratégia poderia ser melhor desenhada para ser mais assertiva. Ter que tomar medidas de um dia para o outro foi uma grande surpresa", disse o presidente da Braztoa. Segundo ele, cada mês sem vendas representa em média R$ 1 bilhão a menos de faturamento.

Reduzir incerteza é fundamental

Segundo a Abav (Associação Brasileira dos Agentes de Viagens), em anos de movimentação regular, os feriados prolongados podem representar até 14% de crescimento nas vendas do setor. "Mas quanto antes ultrapassarmos essa fase crítica, mais próximos estaremos da retomada esperada para o segundo semestre", diz a presidente da Abav, Magda Nassar. A entidade destaca que o país terá ainda quatro feriados prolongados entre setembro e dezembro, o que vai ajudar na fase de recuperação.

No segmento de viagens de negócios, que representa mais da metade das vendas de viagens aéreas no Brasil, a antecipação dos feriados é considerada até positiva. "Com menos feriado, o setor pode ter mais datas para fazer eventos e viagens a trabalho no futuro", afirma o presidente-executivo da Abracorp (Associação Brasileira das Agências de Viagens Corporativas), Gervásio Tanabe.

A Fecomercio-SP vai na mesma linha. Para a entidade que reúne empresas do setor de serviços, a antecipação de feriados pode ajudar que os comerciantes tenham mais dias úteis para trabalhar quando a reabertura dos estabelecimentos for viável.

Aéreas também defendem antecipação de feriados

No setor aéreo, a opinião sobre a antecipação dos feriados como medida para conter a covid-19 é a mesma que a da Abav. "Acima de qualquer coisa, a preocupação maior é cuidar das pessoas e deixar as pessoas em casa. Além disso, a verdade é que hoje simplesmente não há demanda", disse o presidente da Associação das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.

Segundo ele, apenas depois de passar o pior da crise será possível que as empresas de turismo comecem a planejar uma estratégia de retomada das vendas, baseadas em uma demanda mais previsível dos passageiros. Antes disso, o foco das companhias aéreas é estabelecer protocolos de segurança da saúde para todos os envolvidos nas viagens e definir os programas de acesso a recursos para atravessar essa crise.

Com a crise, os mais de 2,7 mil voos diários no Brasil caíram para 180 decolagens, provocando prejuízos bilionários no setor no primeiro trimestre. A Gol perdeu R$ 2,26 bilhões e a Azul teve perda de R$ 975 milhões, em termos de prejuízos líquidos apurados entre janeiro e março. O que levou as companhias aéreas a negociar com o governo pacotes de ajuda.

Cancelamentos substituídos por adiamentos

Segundo a associação dos agentes de viagens, há uma sinalização positiva para a retomada do setor no segundo semestre. As solicitações de cancelamento caíram bastante, e atualmente cerca de 80% das viagens estão sendo remarcadas em vez de serem canceladas. "O que é um bom indício para um princípio de recuperação do setor a partir do segundo semestre", diz a Abav.

Para representantes do setor ouvidos pelo UOL, na medida em que as operações forem reiniciadas - com mais voos, reabertura de comércio, de bares e restaurantes e de pontos turísticos - será possível projetar como e quando o turismo terá sua retomada.

Mas a aposta do setor é que haverá uma demanda reprimida por viagens, em um processo que muito provavelmente vai favorecer em um primeiro momento os roteiros mais curtos e próximos da localidade do turista. "O que será muito positivo para o turismo doméstico e regional e, por consequência, para a economia nacional", diz a Abav.

No setor aéreo, aos poucos, as companhias aéreas começam a retomar a malha de voos, com anúncios feitos pela Gol e pela Azul para operações em junho.

Perdas bilionárias

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o setor do turismo no Brasil perdeu R$ 62 bilhões desde 11 de março, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou situação de pandemia para o novo coronavírus.

Apenas no segmento de viagens de negócios, as vendas no primeiro trimestre deste ano foram 19% menores que em igual período de 2019.

No mundo, o turismo é a atividade que mais está perdendo com a pandemia. Segundo estudo global da consultoria internacional Accenture, o setor sofreu impacto de 75% em seu faturamento. Para comparar, as perdas no setor de vestuário ficaram em 66%, no de bares e restaurantes atingiram 60%, enquanto nos supermercados o faturamento cresceu em 16%.