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Agronegócio cresce, reduz tombo da economia e deve ser motor da recuperação

Ruy Baron/Valor/Folhapress
Imagem: Ruy Baron/Valor/Folhapress

Bruno Cirillo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/06/2020 04h00Atualizada em 15/06/2020 16h08

Mesmo em meio à crise e ao cenário de pandemia, o agronegócio vem apresentando resultados positivos, ajudando a reduzir o tamanho do tombo da economia brasileira e deve ser o motor da recuperação, quando ela começar, segundo números do setor e especialistas ouvidos pela reportagem.

Foi o único setor da economia que teve resultado positivo no PIB do primeiro trimestre. Enquanto indústria e serviços encolheram, a agropecuária cresceu 1,9% na comparação com os três meses anteriores. O valor gerado pelo campo foi de R$ 120 bilhões e, até o fim do ano, com safras recordes, as lavouras devem render R$ 697 bilhões.

Nas exportações, o setor agropecuário gerou ganhos de US$ 6,7 bilhões para a balança comercial entre janeiro e abril, movimentando US$ 18,3 bilhões em embarques para o exterior e US$ 11,6 milhões em importações. A alta nas vendas externas foi de 17,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A participação do agronegócio nas exportações totais subiu de 18,7% para 22,9% no quadrimestre.

O Brasil mostra sua força num momento como esse, em que a maior parte dos países produtores amargam perdas em função do coronavírus.
Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

"Temos encontrado um caminho de dar segurança ao produtor, mas sem parar a produção", disse a ministra, em evento online do setor.

Motor da recuperação

Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, a crise e a pandemia também colocam o setor em um "momento complicado", mas ele vê boas perspectivas.

O agro vai ser um motor da recuperação da economia brasileira porque os produtores, apesar de todas as dificuldades, conseguiram uma safra recorde.
Celso Moretti, presidente da Embrapa

Exportações em alta

Alguns dos principais produtos do agronegócio bateram recordes de exportações nos quatro primeiros meses do ano. Foi o caso da soja (16,3 milhões de toneladas), farelo de soja (1,7 milhão), carne de boi (116 mil), carne suína (63 mil) e algodão (91 mil). Cliente número um do Brasil, a Ásia, com liderança da China, respondeu por 47,2% dos embarques brasileiros, alta de 15,5% em relação ao mesmo período de 2019.

O cenário é muito bom para a soja, com a procura chinesa aquecida em função da renovação da criação de suínos, que precisa de farelo. Somado aos bons preços e o dólar alto, a demanda externa gerou recorde de faturamento.
Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria

O setor de proteínas também vai bem. "Não só o mercado de carne bovina, mas também o de suínos e de aves estão aquecidos", afirmou Ribeiro.

Safra recorde

Carro-chefe da agricultura, a produção de soja deve chegar a 121 milhões de toneladas neste ano, de acordo com a Companha Nacional de Abastecimento (Conab) —alta de 6,7% em relação à última safra.

A questão do coronavírus para a soja do Mato Grosso foi praticamente irrelevante porque, quando surgiu o surto aqui no Brasil, nossa safra já estava colhida.
Lucas Costa Beber, diretor-administrativo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja-MT)

A safra de grãos deste ano é estimada em 250 milhões de toneladas, um volume inédito, com liderança da soja, mas também graças ao aumento de culturas como a do arroz.

Numa conta rápida, o volume total de alimentos produzidos no Brasil é capaz de sustentar 1,5 bilhão de pessoas, ou sete vezes a população brasileira. Nos últimos dez anos, a oferta total do setor agropecuário cresceu 68%, enquanto as exportações tiveram uma evolução de 87%, de acordo com dados recentes da Conab.

O novo diretor-geral da Conab, Sérgio De Zen, destaca que, neste ano, houve um aumento de 15% na oferta de produtos destinados à exportação e a abertura de pelo menos vinte novos mercados no exterior. "O que chama atenção é o tamanho da safra, que é gigantesca", ele diz.

Milho: à frente dos EUA

Segunda maior cultura em volume do setor, o milho deve passar de 100 milhões de toneladas, outro recorde.

O milho brasileiro é o cereal que está sendo mais demandado pelo mercado internacional.
Alysson Paolinelli, líder da Associação Brasileira dos Produtores do Milho (Abramilho)

O representante pontua que, pela segunda vez, o produto do Brasil superou o dos EUA em volume de exportações, com 37 milhões de toneladas embarcadas, ante 35 milhões de toneladas do país concorrente.

Crise para flores e camarão

Celso Moretti, da Embrapa, pondera que a atual crise afetou alguns segmentos.

A floricultura está num momento muito difícil porque praticamente não tem mais evento, congresso, feira e outras ocasiões que usam flores de corte.
Celso Moretti, presidente da Embrapa

"O segmento de frutas e hortaliças também sofreu um baque no ponto de vista de entrega direta, por causa do fechamento de bares e restaurantes", disse.

Outro setor com redução drástica na comercialização foi a aquicultura: só a comercialização de camarão teve queda de 80%.
Celso Moretti, presidente da Embrapa

Algodão também preocupa

No ramo do algodão, cuja produção também está batendo recorde neste ano (2,8 milhões de toneladas e 70% da safra já vendidos para o exterior), a preocupação é na colheita. "A pandemia tem nos afetado agora, pois chegou no meio da lavoura, quando colhemos e beneficiamos a fibra", disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbujio. "Se continuar, teremos problemas de mão de obra", afirma.

O representante prevê uma redução na área plantada da próxima safra, uma vez que o mercado comprador começa a dar sinais de desaceleração.

As indústrias têxteis estão paradas --por causa dos shopping e lojas parados. Então, a produção [de algodão] fica estocada.
Milton Garbujio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informava o texto, Rafael Ribeiro é da Scot Consultoria, e não da consultoria Safras & Mercado. A informação foi corrigida.