Elas costuram máscaras 12h por dia na periferia de SP para comprar comida
Fazer e vender máscaras caseiras virou um complemento de renda para muita gente nesta pandemia de coronavírus. Há mães aliviadas por comprar comida para casa e até dar um mimo para um filho, como um chocolate. Outras trabalhadoras, porém, dizem que a concorrência está ficando grande e as vendas, diminuindo. Elas trabalham mais de 12 horas por dia na periferia de São Paulo para tentar vencer as dificuldades. Aqui estão as histórias de algumas delas
A percepção é que o número de pessoas que vendem máscaras cresce dia após dia. É o que diz Caroline Galvão, 27, representante de uma marca de joias. Ela comercializa uma máscara de TNT (tecido não tecido), de uso descartável, por R$ 3 e duas por R$ 5. No entanto, o que mais tem saído são kits de 30 máscaras por R$ 35.
O preço da concorrência pode chegar a R$ 2 no bairro onde ela mora, no Jardim Peri Alto, zona norte de São Paulo.
Para reverter o cenário adverso, ela e sua esposa começaram a fazer também pães e caldos. Entre uma venda de alimento e outra, Caroline oferece aos clientes as máscaras caseiras.
No começo só conseguíamos pagar o material. Quando começamos a ter algum lucro, já tinha muita gente vendendo. Se eu tiro R$ 1.200 por mês, estou bem.
Caroline Galvão
Esse valor é um terço de sua renda antes da pandemia de covid-19.
Um chocolate para a filha
Daniela dos Santos, 35, recebe metade do seu salário como embaladora em uma confecção de roupas no Brás, no centro de São Paulo, e trabalha dois dias na semana desde o início da quarentena na capital paulista. Com apenas R$ 800 na mão e tempo livre, começou a fazer máscaras caseiras para amigos se protegerem do coronavírus. Após receber elogios, pensou que seria uma boa ideia produzir para vender.
Sentada à máquina de costura, ela ultrapassa 12 horas por dia para fabricar cem máscaras de tricoline, que são laváveis e reutilizáveis. Daniela prepara o tecido, põe as mãos para criar, higieniza e grampeia o material em um saquinho plástico que é vendido por seu irmão na entrada de uma estação de trem na zona leste de São Paulo. Uma máscara custa R$ 4. Os irmãos vendem em média R$ 2.400 por mês.
"Eu pago R$ 10 pelo metro do tecido, sei que é barato, não acho justo vender uma máscara por R$ 7 ou R$ 8. Tem gente que não tem dinheiro para comprar", diz.
Agora eu pago as contas de água e luz, faço mercado e compro algo a mais para a minha filha [de 12 anos]. É muito bom você abrir o armário e ver comida. Se ela pede um chocolate, eu vou e compro.
Daniela dos Santos
Vendia bolo e agora ganha o triplo
O trabalho extenuante no corte e na costura também faz parte da rotina da desempregada Tabata Barros, 30, de Mogi das Cruzes (SP).
Já cheguei a 'virar' até as 3h. Cansa, haja coluna para aguentar tanto tempo.
Tabata Barros
Sem emprego formal desde 2014, a autônoma teve de interromper a venda de bolos e salgados para professores em uma escola do seu bairro antes do início da quarentena.
A ideia de produzir máscaras caseiras surgiu após seu marido exibir com sucesso no trabalho o modelo que ela mesma fez. Autodidata, aprendeu a costurar assistindo a vídeos na internet.
As redes sociais, aliás, servem como o principal canal de divulgação de seu trabalho. As vendas são unitárias ou em grandes volumes, retiradas em sua casa ou entregues de moto com seu companheiro — a uma taxa de R$ 5. A demanda de enfermeiras por máscaras e toucas fez com que ela criasse um kit no valor de R$ 25.
Desde o início da pandemia, sua renda mensal chega a R$ 1.300, três vezes o que ela conseguia com bolos e salgados. Com o dinheiro, comprou uma segunda máquina para aumentar a produção. Ela diz se sentir mais aliviada para criar os três filhos, em especial a caçula, de quatro anos, mas reclama do cansaço físico.
Eu me pergunto às vezes se realmente vale a pena. As crianças querem atenção, querem brincar, têm atividades da escola para fazer. Aí dou aquela respirada e falo que preciso fazer, porque esse dinheiro está ajudando. Eu faço porque sou guerreira.
Tabata Barros
Diarista reforça salário
A urgência para colocar as contas em dia e pôr comida na mesa motivou Aldirene Leite, 40, a fazer máscaras caseiras. Ela trabalha como diarista, sem registro em carteira, e o orçamento estava apertado por não ter como exercer sua profissão havia dois meses.
A ajuda financeira do irmão era uma das poucas entradas de dinheiro em sua casa - até a ocupação temporária ganhar forma. Comprou uma máquina de costura industrial usada de uma amiga para acompanhar o ritmo das encomendas.
Os primeiros dias foram difíceis, porém aos poucos foi se adaptando até chegar ao resultado que queria. Moradora de Itaquaquecetuba (SP), Aldirene fatura R$ 1.500 mensais com as vendas. Passou a usar personagens nas máscaras.
Minha maior demanda é por Mickey e Minnie.
Aldirene Leite
Ela também vende máscara com tiara, para proteger as orelhas e não causar desconforto, além de kits para adultos e crianças.
A maior parte de sua receita chega graças à ajuda de amigos, que se ofereceram para entregar o acessório à clientela.
Eu estava desesperada, me perguntava como ia pagar as contas. Não costumo me abater com as dificuldades, prefiro buscar soluções. E nas dificuldades eu vejo com quem posso contar. Receber ajuda de amigos sem nada em troca é muito gratificante.
Aldirene Leite
Além da venda, Aldirene doa máscaras para quem não tem dinheiro para comprar
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