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Mudança na lei deve atrair China e França para negócios de água no Brasil

Jill Wellington/ Pixabay
Imagem: Jill Wellington/ Pixabay

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

11/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Nova lei de saneamento deve gerar mais de R$ 750 bilhões em investimentos até 2033, diz setor
  • Concessionárias de energia são candidatas a entrar no saneamento, dizem profissionais de mercado
  • Setor de saneamento interessa tanto a companhias brasileiras como a grupos estrangeiros

A nova lei do setor do saneamento aprovada pelo Congresso em junho vai mudar a cara dos serviços de tratamento de água e esgoto no país ao longo dos próximos anos. Para especialistas, as novas regras vão fomentar investimentos não só das empresas já presentes nesse mercado, como também atrair companhias de outros ramos de atividades. A mudança permite a entrada de empresas privadas em todo o país, não só companhias públicas. Isso inclui empresas brasileiras e estrangeiras, de países como China, França e Espanha.

Para profissionais que acompanham o setor, as concessionárias de energia e de estradas, locais e estrangeiras, são fortes candidatas a entrar no mercado de saneamento, passando a concorrer com as empresas de água e esgoto que já atuam no setor. Esse interesse será compartilhado por grupos locais e estrangeiros, de olho em um negócio de centenas de bilhões de reais.

O analista da gestora de recursos Perfin, Marcelo Sandri, compilou dados que apontam que o faturamento anual do setor de saneamento no Brasil é da ordem de R$ 65 bilhões, chegando a R$ 135 bilhões quando incluídos os investimentos, as receitas e os impostos. Segundo ele, o valor estimado de mercado de todas as estatais de saneamento no Brasil se privatizadas é da ordem de R$ 140 bilhões.

Mais de 100 milhões não têm água e esgoto tratado

Em junho, o Congresso aprovou o novo marco regulatório do saneamento com objetivo de universalizar, até 2033, os serviços de água e tratamento de esgoto que hoje faltam a mais de 100 milhões de brasileiros. As novas regras acabam com as renovações automáticas das atuais concessões e definem índices de eficiência e de qualidade que deverão ser cumpridos, bem como políticas de tarifas.

O texto ainda depende da sanção do presidente da República e, depois, de processos de renovação das concessões por parte das prefeituras. Mas profissionais de mercado dizem que as mudanças vão gerar negócios. Nas contas da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), serão necessários R$ 750 bilhões em investimentos totais nos próximos 10 anos.

Com regras mais claras, haverá mais interesse das empresas em investir.
Simone Pasianotto, economista-chefe da gestora de recursos Reag Investimentos e professora da ESPM

Analistas do setor listaram diferentes perfis de candidatas que devem figurar entre as principais investidoras no setor de saneamento nesse novo ambiente de regras.

Empresas como Sabesp e Sanepar continuam

As atuais grandes empresas de saneamento do país e que já têm ações cotadas em Bolsa devem ganhar espaço, expandindo os atuais mercados, muito provavelmente com novos sócios.

Dessa forma, Sabesp, Copasa e Sanepar, operadoras estaduais de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, respectivamente, vão ser protagonistas. Essas empresas devem ganhar novos sócios, dizem analistas de Bolsa.

"O saneamento é talvez o último grande setor de infraestrutura que permite a investidores que ainda não estão no Brasil entrar.
Marcio Oliveira, chefe da área de negócios de infraestrutura do banco Modalmais

Parecido com o setor de telefonia

Segundo ele, grupos interessados em investir no setor de saneamento podem participar da privatização dessas grandes companhias e usar essas empresas como plataforma de consolidação do setor, avançando para disputar novas áreas de concessões.

Algo como o que aconteceu com os setores de energia e telefonia, depois que passaram pela desregulamentação nos anos 1990.

Empresas privadas e menores também vão atuar

Empresas de saneamento menores e que já são 100% privadas também podem expandir os negócios fortalecidas pelo apoio de recursos aportados por novos sócios financeiros.

São companhias com menos dinheiro, mas que podem atrair sócios, como fundos de investimento, e com eles formar consórcios competitivos para disputar novas concessões.

Segundo analistas, nesse grupo de empresas estão companhias como Grupo Águas Brasil, Aegea e BRK Ambiental.

Combina com negócios de energia e estradas

Um domicílio que já recebe os serviços de eletricidade também precisa de água e ligação de esgoto. Como as fornecedoras de eletricidade já conhecem esses consumidores, algumas dessas empresas podem ampliar o leque de negócios para a área de saneamento.

"Há sinergias comerciais porque a base de clientes é a mesma. Existem sinergias de obras, porque há semelhanças nas infraestruturas das cidades para água, esgoto e energia, e há sinergias regulatórias porque os modelos das regras dos setores de concessões públicas são parecidos", afirma o analista da gestora de recursos Perfin, Marcelo Sandri, especialista no setor de saneamento.

Veja algumas candidatas

  • Equatorial: Grupo que atua na distribuição de energia nos estados de Alagoas, Maranhão, Pará e Piauí, tem também geração e transmissão elétrica. Executivo do grupo já admitiu ter interesse no setor.
  • Cosan: O grupo que nasceu no setor de açúcar e álcool e depois entrou nos negócios de distribuição de combustíveis, também tem operações de energia. É controlador, por exemplo, da Comgás, maior distribuidora de gás natural canalizado do país.
  • CCR: Grupo responsável pela administração de rodovias e aeroportos no Brasil e exterior também opera diferentes tipos de concessões de mobilidade urbana, como metrô, VLT e barcas, com o conhecimento necessário em infraestrutura para disputar concessões de saneamento.

Estrangeiras candidatas

Profissionais de bancos de investimento que atuam na área de fusões e aquisições e têm grupos estrangeiros como clientes dizem que o Brasil vai atrair o interesse de grupos internacionais para o setor de saneamento.

Como ainda faltam etapas para que as novas regras sejam implementadas, como por exemplo, o início as primeiras rodadas de concessões, as empresas estão apenas monitorando.

O UOL apurou que esse interesse vem de três países, principalmente:

  • China: Entre as empresas que são citadas entre analistas de mercado destacam-se o grupo Gezhouba ou a China Railway Construction Corporation;
  • Espanha: Uma empresa que tem buscado informações sobre o mercado brasileiro e que tem interesse no país é a Acciona,
  • França: A Lyonnaise des Eaux aparece entre potenciais fortes candidatos a entrar nos próximos leilões por concessões de serviços de água e esgoto no Brasil.

Vamos ver empresas chinesas e fundos de investimento soberanos interessados no setor.
Vitor Sousa, analista de investimentos da Genial Investimentos