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Nova lei do saneamento vai mexer com ações na Bolsa; veja quais devem subir

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

08/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Nova lei para saneamento, aprovada pelo Congresso, busca universalizar acesso a água e coleta de esgoto
  • Expectativa de governantes e empresários é que bilhões de reais em investimentos sejam destravados
  • Especialistas de mercado já começaram a listar as ações com maior potencial de valorização com novas regras

O Brasil tem uma nova lei para o saneamento, aprovada com o objetivo de universalizar o acesso a água e coleta de esgoto. Com ela, a expectativa de governantes e empresários é que bilhões de reais em investimentos sejam destravados nos próximos anos. Isso deve criar oportunidades de negócios para várias empresas, inclusive para algumas com ações na Bolsa brasileira.

Especialistas já começaram a listar as ações com maior potencial de valorização. Mas cabe alertar que muita água vai rolar antes de os projetos saírem do papel. A lei ainda precisa ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro. Depois, prefeituras e governos estaduais terão que iniciar os processos de concessão para atrair investimentos.

No curto prazo, empresas de saneamento

Quem já está no setor é grande candidato a seguir no negócio com mais força, pois poderá ampliar a operação, atuando em outros estados, por exemplo.
Marcelo Sandri, analista da gestora de recursos Perfin

Sabesp: O governo de São Paulo já manifestou intenção de privatizar a empresa. Ela pode ampliar os serviços no estado e, por meio de sociedades, entrar em outros mercados. Por ter ações negociadas em Bolsa, já sabe como se relacionar com investidores. É a preferida, por exemplo, de BTG Pactual, Genial Investimentos e Perfin.

Sanepar: A empresa de saneamento do Paraná também pode atrair investidores para se capitalizar e entrar em novos mercados. "Na nossa visão, é a empresa do setor mais preparada em termos de saúde financeira e indicadores de balanço para aproveitar as oportunidades", disse a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto.

Copasa: A empresa de saneamento de Minas Gerais tem uma ampla base de clientes e pode expandir os negócios para mais cidades depois que a nova lei entrar em vigor.

No médio prazo, companhias de aço e energia

"Os projetos de saneamento vão exigir mais infraestrutura, por causa das obras, favorecendo os setores de aço e cimento, por exemplo", disse Sandri. O setor elétrico também deve ser beneficiado em uma segunda onda. "Os projetos são grandes consumidores de energia, principalmente por causa das estações elevatórias", afirmou.

Gerdau: Gigante do setor de aços longos, deve receber mais encomendas e aumentar vendas no momento em que os projetos começarem a sair do papel.

Cesp: A Companhia Energética de São Paulo atua na geração de energia elétrica por meio de três usinas hidrelétricas. Pode se beneficiar da maior demanda por energia com o crescimento da Sabesp.

AES Tietê: Tem um parque gerador com 12 hidrelétricas nas regiões central e noroeste do estado de São Paulo, que poderão vender mais eletricidade para atender as novas estações de tratamento de água e esgoto.

Ômega Energia: Menos conhecida e de menor porte, atua em seis estados na geração de energia, com usinas hidrelétricas e parques eólicos. Também terá espaço para atender mais clientes de saneamento.

No longo prazo, empresas de turismo e saúde

O tratamento de esgoto permite a despoluição de rios e praias, criando novos polos de lazer e visitação e favorecendo o turismo. Para a área da saúde, água tratada representa menor incidência de doenças.

CVC: A maior operadora de turismo do país pode ganhar destinos para promoção de viagens e ampliar o leque de clientes para destinos nacionais.

Qualicorp: Uma das líderes na administração, gestão e vendas de planos de saúde coletivos, empresariais e coletivos por adesão no país, pode se beneficiar com a melhora dos índices de saúde da população. Água tratada reduz a incidência de doenças e, consequentemente, diminui o volume de internações e os custos hospitalares.

Por que deve haver mais negócios?

Há 124 milhões de pessoas sem tratamento de esgoto no país, segundo a consultoria KPMG. Universalizar o serviço até 2033, como define a nova lei, demandará R$ 753 bilhões em investimentos, ou R$ 47 bilhões por ano, de acordo com um estudo da Abcon (Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto).

A nova lei provavelmente desencadeará muitos processos de privatização e forçará as empresas a se tornarem mais eficientes, devido ao risco de rescisão de suas concessões.
João Pimentel e Filipe Andrade, analistas do BTG Pactual

Três fatores tornam a lei positiva para os negócios, segundo o BTG Pactual

  • Regulação unificada: órgão nacional vai regular o setor, a ANA (Agência Nacional de Águas). Hoje atuam dezenas de órgãos reguladores, municipais ou estaduais, o que cria confusão de normas;
  • Regras claras: há critérios de investimentos e índices de eficiência e de qualidade que devem ser cumpridos, com prazos e política de tarifas;
  • Mais concorrência: acabam as renovações automáticas das atuais concessões.

"Levando em conta que a gestão seja equidistante e técnica, os ativos que existem hoje ficam mais valiosos. As empresas de saneamento vinham sendo negociadas abaixo de seus pares, como as de energia elétrica. Essa diferença de valor tende a diminuir", afirmou Vitor Sousa, analista de investimentos da Genial Investimentos.