Rejeição de Bolsonaro ao Renda Brasil foi 'entrada perigosa', brinca Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez piada com as críticas que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez publicamente à proposta apresentada para o Renda Brasil, que substituirá o Bolsa Família. Brincando, Guedes comparou a atitude de Bolsonaro com uma "entrada perigosa" do futebol, que, se fosse dentro da área, "seria pênalti".
"Tomei uma [crítica] dessas", disse o ministro, citando o que chamou de "vazamento" da proposta inicial para o Renda Brasil, que previa um benefício mensal de R$ 247 condicionado a outras medidas, como o fim do abono salarial e do Farmácia Popular. "Pô presidente, isso aí é carrinho, entrada perigosa. Ainda bem que foi fora da área, senão era pênalti."
As declarações foram feitas durante conferência virtual promovida pelo Instituto Aço Brasil.
Guedes também afirmou ainda que o governo está na "reta final" para definir o Renda Brasil. Segundo ele, ainda não foi decidido se a opção será "aterrissar" no auxílio emergencial em um valor mais baixo até o fim do ano ou diretamente no novo programa, que será, nas palavras do ministro, "robusto, mas que exige ajustes".
Ele ainda garantiu que "tudo será feito dentro do teto, com responsabilidade fiscal, com transparência".
'Bolsonaro teve razão'
Para Guedes, a reação contrária de Bolsonaro à proposta de acabar com o abono salarial é natural e deriva de instinto político, e o presidente teve razão ao avaliar que isso representaria "tirar dos pobres para dar aos paupérrimos".
Quando isso é imaginado, aí o presidente reage naturalmente e fala 'espera aí: tirar do pobre e dar para o mais pobre?'. O salário de 75% dos brasileiros que estão na CLT é abaixo de 1,5 salário mínimo [R$ 1.567,50], então realmente [acabar com abono] é tirar da base de trabalhadores brasileiros e passar para o que está desempregado, que está pior ainda."
Reformas e privatizações
O ministro também avaliou que a economia brasileira está deixando a crise da pandemia do coronavírus para trás e reafirmou o compromisso do governo com as reformas para a retomada ser sustentável. Ponderou, contudo, que a política é quem dita o ritmo das medidas econômicas.
"No ano que vem, vamos ter tudo com mais intensidade", disse, voltando a defender a desvinculação do Orçamento e se queixando do fato de o governo estar sendo pressionado entre um teto e um piso (investimentos mínimos obrigatórios) que não para de subir.
Guedes ainda reafirmou a ideia de retomar a agenda de desestatização, citando Eletrobras, Correios, PPSA e Docas como exemplos após repetir que sua equipe trabalha para anunciar três ou quatro grandes privatizações.
"Mas é a política que define o ritmo das reformas. A essência da política é decidir para onde vão os recursos públicos", completou, sem deixar de observar, contudo, que o presidente "dá todo apoio às reformas".
'Enxurrada' de crédito
Durante a videoconferência, o ministro adiantou que o governo está "ultimando" uma série de medidas de crédito para dar apoio a empresas para enfrentar a pandemia. "Vai ter uma enxurrada de crédito até o fim do ano. O dinheiro finalmente chegou na ponta", comentou.
Segundo Guedes, algo entre R$ 2 milhões e R$ 4 milhões estão sendo concedidos em crédito por meio de programas como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e das maquininhas de cartão, para microempreendedores individuais.
"A economia já pegou no tranco", disse. "O crédito, que teve problema no início, agora chegou e está entrando."
*Com Estadão Conteúdo e Reuters
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