INSS começa a retomar perícias, mas beneficiários se queixam do agendamento
Cerca de uma semana após a data oficial de reabertura das agências do INSS, os postos voltaram gradualmente a realizar perícias médicas agendadas. Os atendimentos, suspensos por cinco meses por causa do coronavírus, deveriam ter sido retomados em 15 de setembro. Mas uma disputa entre o INSS e os médicos peritos adiou o reinício das perícias para esta semana.
O UOL visitou agências da região metropolitana de São Paulo para conferir a situação. Em cada uma delas havia pelo menos um médico, atendendo apenas quem tinha horário agendado. Mas em uma delas um médico não apareceu, e quem tinha horário marcado não foi atendido.
Apesar das orientações do INSS, de que os beneficiários agendem atendimento pelo telefone 135 e pelo aplicativo Meu INSS, em todas as agências o UOL ouviu reclamações sobre esses canais. De forma geral, os beneficiários dizem que têm dificuldade com canais online ou que o telefone só dá ocupado e que não conseguem finalizar o agendamento.
Questionado sobre o problema, o INSS afirmou que "os agendamentos continuam sendo feitos normalmente pelo telefone 135".
Segundo o governo, 202 peritos federais trabalharam presencialmente em 86 agências nesta terça-feira.
Atrasos e perícia remarcada
Uma agência de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, realizava atendimentos agendados, de acordo com beneficiários. Mas nem todos saíram satisfeitos.
O motorista Osmar de Oliveira, 57, queixou-se do atraso de mais de três horas na perícia. "Estava agendado para 7h20, mas só fui atendido agora [11h]", disse.
O operador de empilhadeira Osmar Sousa, 45, foi recebido na agência, mas saiu sem a perícia que precisava, porque um dos médicos faltou.
"Tive que pagar até táxi para chegar aqui no horário, vindo de Barueri. O médico não veio e remarcou para 8 de outubro. Parece que ele teve algum imprevisto", disse.
Sousa precisa de uma perícia para receber auxílio-doença —o trabalhador tem um problema na coluna e passará em breve pela quinta cirurgia.
Problemas no atendimento por telefone
Em Taboão da Serra (SP), a queixa mais frequente entre as pessoas que não conseguiram atendimento foi em relação ao telefone 135. Uma portaria publicada nesta terça diz que o número deve ser usado para remarcar perícias, mas os usuários afirmam que o canal não funciona.
Já tem dias que estou tentando ligar e não consigo. Também não consigo entrar no site. É um descaso.
Helena Vasconcelos, autônoma de 61 anos
Com o pé imobilizado, a autônoma Helena Vasconcelos, 61, está sem trabalhar há dois meses e busca receber o auxílio doença. Ela conta que não conseguiu agendar o atendimento por telefone nem pelo aplicativo, porque não tem familiaridade com celular.
Mesmo sem agendamento, ela foi até a agência para tentar passar por perícia, mas não foi atendida. Agora, diz que vai pedir ajuda a um vizinho ou familiar para fazer o agendamento pelo Meu INSS.
Erika de Souza, que acompanhava o pai de 82 anos, Walter de Souza, também relatou que não conseguiu agendamento por telefone. "O atendimento eletrônico fala que os dados estão incorretos", disse.
O caso do aposentado nem é de perícia. Ele precisa apenas apresentar documentos para contestar uma decisão que cancelou seu BPC (Benefício de Prestação Continuada) por critério de renda familiar.
Peritos seguem vistoriando as agências
O atraso na reabertura das agências ocorreu porque os peritos federais questionaram a segurança sanitária dos postos de trabalho e se recusaram a voltar até que uma vistoria feita pela própria categoria certificasse o estado das agências.
Ontem, a ANMP (Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais) vistoriou 108 agências e considerou 87 delas aptas para a realização de perícias. "Os colegas que estão lotados nas 21 agências consideradas inaptas deverão se manter em trabalho remoto por risco sanitário à vida do servidor e do segurado", informou a associação.
Hoje, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho e o INSS disseram que 202 peritos compareceram aos postos de trabalho e realizaram mais de 1.000 perícias até às 9h45. Esses atendimentos ocorreram em 86 agências, das 148 que estavam oficialmente com a agenda aberta para hoje.
A expectativa do governo é que, a partir de amanhã (23), mais 486 peritos retornem ao trabalho presencial, totalizando 201 agências abertas.
O impasse entre o governo federal e os peritos médicos afetou diretamente mais da metade das pessoas que estão na fila para conseguir algum auxílio, benefício ou aposentadoria.
Segundo levantamento feito pelo IBDP (Instituo Brasileiro de Direito Previdenciário) na semana passada, do 1,57 milhão de procedimentos na fila, 790,4 mil (50,4%) precisavam de perícia.
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