Só comércio salva 2021, mas precisa de vacina ou auxílio, dizem analistas
Resumo da notícia
- Economia brasileira neste ano depende principalmente do desempenho das atividades de serviços, dizem especialistas
- Mas para crescer, comércio, restaurantes, transportes e outras áreas de serviços precisam da vacina ou do auxílio emergencial, segundo economistas
- Agropecuária e mineração devem ir bem em 2021, mas participação desses setores no PIB é menor
O Brasil depende do setor de serviços em 2021 para retomar o crescimento sem tropeços, dizem economistas. Segundo eles, o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) do país só avança neste ano se houver retomada firme de vendas e emprego em comércio, salões de beleza, restaurantes, bares, transportes e outros segmentos de serviços.
O problema, afirmam economistas, é que essas atividades precisam da população imunizada contra o coronavírus, ou, caso a vacinação seja lenta, do auxílio emergencial prorrogado. Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz isso. Segundo os especialistas, os setores da agropecuária e da mineração, que vendem grãos, carnes e metais para o exterior, devem ir bem neste ano. Mas são atividades que não possuem participação suficiente na economia brasileira para atuarem como motor de arranque nessa volta da pandemia.
O crescimento do Brasil em 2021 deve ficar na casa de 3,5%, segundo o boletim Focus, levantamento semanal feito pelo Banco Central com economistas. Mas considerando que o PIB brasileiro deve ter fechado 2020 com uma retração de 4,5%, o avanço neste ano nem sequer recupera o terreno perdido no ano da pandemia.
E o crescimento econômico do Brasil vai desacelerar em 2022, para 2,5%. O que se torna ainda mais grave levando em consideração que o mundo vai crescer, na média, mais de 5% neste ano, destaca o economista PhD pela University of Kent at Canterbury, Reino Unido, e diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília, Reginaldo Nogueira.
Por que o setor de serviços é fundamental para a economia em 2021? O setor de serviços representa mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e, por isso, dizem economistas, tem a capacidade de espalhar uma retomada de crescimento econômico mais rapidamente para o restante dos setores.
Ele está em cada quarteirão de todas as cidades, grandes ou pequenas, do salão de beleza ao grande shopping center, passando pelos transportes, operadoras de telefonia, bares, restaurantes, educação e saúde. Por isso, é uma área que emprega muita gente, também com vagas para pessoas com as mais diferentes qualificações e formações. Quando o setor de serviços vai bem, o emprego aumenta, a renda cresce, o consumo anda e a roda da economia gira.
Não tem como gerar crescimento e empregos se o setor de serviços não crescer de forma acelerado em 2021 e também em 2022. Mas esse setor é o que mais sofre quando temos que voltar atrás com as restrições da pandemia.
Reginaldo Nogueira, diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília
Por que setor de serviços precisa da vacinação ou do auxílio emergencial? O setor de serviços é o que mais sofre com as medidas de isolamento social e restrição à circulação das pessoas.
Shopping centers, escolas, bares, restaurantes, hotéis, academias, entretenimento - tudo fecha ou tem que trabalhar com atendimento limitado enquanto a população não for vacinada, afirma o economista Nelson Marconi, coordenador executivo do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da Fundação Getulio Vargas. Por isso, diz, a retomada do crescimento neste ano depende tanto da vacinação.
Mas aparentemente a pandemia vai se estender, e a vacinação no Brasil vai demorar este ano todo. Ou seja, o impacto da pandemia sobre a retomada das atividades de serviços vai ocorrer durante todo o ano. Assim, nosso PIB deve crescer pouco, algo como 1% ou 1,5%. Mas, se houver uma extensão do auxílio emergencial, isso pode ajudar os setores de serviços e até o da construção civil.
Nelson Marconi, coordenador executivo da FGV-SP
O agronegócio pode ajudar o Brasil em 2021? O setor do agronegócio deve manter em 2021 o ritmo de crescimento alcançado em 2020, apontam economistas. A retomada da atividade no exterior, em especial na China, vai garantir compradores para produtos brasileiros, como soja, minério de ferro e carne.
O campo é um dos setores mais fortes da economia brasileira, líder mundial na produção de grãos e metais, e também um dos menos afetados pelas medidas de isolamento social. Mas a participação dessas atividades no PIB brasileiro é pequena, na casa de 10%.
Se tivesse que apostar em um setor que vai ter desempenho acima da média e ajudar o PIB, eu iria com agricultura. Mas levando em conta o tamanho da participação dessa atividade na economia, o crescimento do PIB em 2021 terá que vir mesmo do setor de serviços.
Sillas de Souza Cezar, professor da Faap
Indústria pode ajudar o PIB brasileiro em 2021? O dólar valorizado, estacionado acima de R$ 5,00, pode ajudar a produção da indústria brasileira que usa poucos componentes e insumos importados.
Mas para setores que dependem de itens comprados do exterior para fabricar o produto final, o real fraco segue sendo um problema. O fechamento de empresas aqui, como a Ford, são exemplos disso, diz o economista Nelson Marconi, da FGV.
Indústria de bens de capital deu sinais positivos em 2020, muito em cima da demanda da agricultura, mas teremos um baque forte no setor automobilístico, em especial por conta da Ford.
Nelson Marconi, economista da FGV
Construção civil não tem força para puxar o PIB? A construção civil é parte da indústria que não depende de insumos importados, ou seja, não sofre tanto com o dólar caro. Além disso, os juros baixos estão ajudando o setor. Isso explica por que a construção civil conseguiu retomar as vendas em 2020, apesar da pandemia, que fechou stands de vendas e restringiu lançamentos.
O problema do setor da construção civil em 2021 é que ele precisa agora de mais consumidores - e isso depende da volta do emprego, afirma o economista Otto Nogami, professor do Insper, economista pela FEA/USP.
A construção civil cresceu por causa dos juros baixos e dos preços que estavam defasados depois de dois anos de recessão, o que gerou a demanda. Mas esse é um movimento de fôlego curto, se a base de compradores não crescer. E isso depende do aumento do emprego no país.
Otto Nogami, professor do Insper
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