Líder de petroleiros apoia militar na Petrobras contra "neoliberal" Guedes
A federação de sindicatos de petroleiros espera que a chegada dos militares ao comando da Petrobras, representados pelo general Joaquim Silva e Luna, signifique mudanças na política da estatal, e que as Forças Armadas enfrentem "a ala liberal do [ministro da Economia] Paulo Guedes no governo [do presidente Jair] Bolsonaro [sem partido]".
É o que afirma Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros, entidade que reúne sindicatos da categoria em todo o país), filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Ele também disse que a Petrobras teve "ampliação grande" durante a ditadura militar e considera que ação de Bolsonaro, ao determinar a troca do presidente da companhia, não foi uma interferência indevida.
Há, sim, uma expectativa das pessoas de que esses [militares] que hoje ocupam cargos no governo, ministérios, cargos de segundo escalão, diversos conselhos de administração e presidências de empresas públicas, não se submetam tanto à política neoliberal da ala do Paulo Guedes
Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP
Bacelar afirma, porém, que a troca no comando da empresa não vai adiantar se não houver mudança na política de preços da empresa.
Confira os principais trechos da entrevista ao UOL Economia.
Militares investiram na Petrobras na ditadura
Ao comentar a possível volta dos militares ao comando da Petrobras, algo que não acontecia desde o final da década de 1980, Bacelar lembra a gestão da empresa durante a ditadura (1964-1985).
A Petrobras teve uma ampliação grande e altíssimos investimentos também nos governos da ditadura civil-militar, com a descoberta do grande campo na época, da Bacia de Campos --descoberta, exploração e início da produção
Deyvid Bacelar
Para ele, é papel das Forças Armadas "defender a soberania nacional, a soberania energética, o patrimônio público nacional, as riquezas naturais do nosso país e o abastecimento nacional para a população."
"Farão isso? É o que nós esperamos. Vamos ver se vão enfrentar a ala liberal do Paulo Guedes no governo Bolsonaro", questiona.
Bolsonaro não interferiu indevidamente
O coordenador da FUP afirma que o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, "já devia ter saído há muito tempo".
Os líderes dos petroleiros são contra a política de preços da empresa, acompanhando o mercado internacional, e a venda de ativos, como refinarias e a BR Distribuidora.
Apesar de ser crítico do atual governo, Bacelar não vê interferência indevida de Bolsonaro na estatal, ao indicar o general Silva e Luna para a presidência —que ainda precisa ser confirmado no cargo pelo Conselho de Administração da Petrobras.
Não usaria esse termo [interferência]. Um setor desses, de petróleo, gás, de energia, no sentido mais amplo, é tratado nos outros países como uma política de Estado. Inclusive nos EUA, um país extremamente liberal na sua economia
Deyvid Bacelar
"Sejam republicanos ou democratas que cheguem [ao governo dos EUA], a política de Estado para o setor energético é a mesma. Por sinal, lá o setor elétrico é controlado por militares", afirma.
Preços não podem seguir mercado internacional
Bacelar diz que os combustíveis podem seguir as movimentações do preço do barril do petróleo no mercado internacional, mas os demais custos de produção, embutidos no valor final, não podem ser em dólar.
"Você [Petrobras] deve se referenciar no mercado internacional com relação ao preço do barril de petróleo, sim, mas não dolarizar todos os custos e embutir nos preços", afirma.
O que nós deveríamos ter no Brasil era a definição de um preço, seja da gasolina, do diesel, do gás de cozinha, do gás natural e de todos os outros derivados, a partir de nossos custos internos, dos custos nacionais
Deyvid Bacelar
Corte de impostos
Para o representante dos petroleiros, a proposta de Bolsonaro de suspender impostos federais sobre o diesel temporariamente não irá controlar a alta, porque eles não representam a maior fatia do preço.
"Não vai adiantar muito mexer nos impostos, porque a escalada de preços vai continuar. Qualquer suspiro desses três principais indicadores que fazem parte do preço de paridade de importação [barril no mercado internacional, oscilação do dólar e custo de importação], os preços vão subir", afirma.
Subsídio ao combustível durante crise
Bacelar defende a criação de um fundo para controlar o avanço do preço em momentos atípicos ou de crise, em que há uma disparada dos combustíveis.
"Em casos extremos, se houver oscilações gigantescas no preço do barril de petróleo no mercado internacional, que são conjunturais, não permanecem por muito tempo, pode existir um projeto de lei via Congresso para a criação de um fundo que consiga minimizar essa situação. Assim, não se pune a Petrobras, nem a população brasileira", diz.
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