Mercado tem mais medo da volta de Lula ou da reação de Bolsonaro?
A Bolsa caiu quase 4% no dia em que as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram anuladas, e o dólar subiu para a maior cotação em dez meses. Naquela noite, alguns profissionais de mercado atribuíram o resultado do dia à decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), que devolveu a Lula os direitos políticos. Mas dois dias depois, quando Lula fez um longo discurso, a Bolsa subiu 1,3%, e o dólar caiu 2,5%.
O UOL ouviu vários analistas para saber se o mercado de fato teme um eventual governo Lula. Também questionou se o retorno do ex-presidente ao jogo eleitoral pode levar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a abandonar, em busca de popularidade, compromissos assumidos com o mercado, como privatizações e corte de gastos públicos.
Temor é aumento de gastos públicos
O que mais preocupa é a adoção de políticas populistas, baseadas em aumento de gastos públicos, segundo os profissionais de mercado.
Esse caminho, dizem, levaria ao aumento da dívida pública, afastando investidores e reduzindo a capacidade de o país voltar a crescer de forma sustentável. E isso vale para qualquer governo, seja Lula ou Bolsonaro.
Segundo esses profissionais de mercado, o fato de Lula ter se tornado elegível antecipou a disputa eleitoral de 2022 para 2021, aumentando a possibilidade de polarização nas eleições do ano que vem. Nesse caso, candidatos de centro perdem força.
Mercado quer candidato de centro
"O mercado ficou receoso não pelo ex-presidente Lula, até porque o mercado sempre teve uma boa relação com Lula durante o governo dele. O ponto é que o mercado estaria mais interessado em uma terceira via do que numa polarização", disse o economista de um dos maiores bancos do país, que pediu para não ser identificado.
A chegada do ex-presidente Lula ao quadro político gera uma reação negativa, mas por causa do risco de polarização, e não pelo Lula em si. Com a polarização do debate, fica mais difícil ter uma candidatura de centro com chances de vitória. E toda vez que há polarização da política, isso é ruim para a economia.
Ronaldo Guimarães, economista e sócio diretor do banco digital Modalmais
O debate sobre a eleição de 2022 foi antecipado, e isso afeta investimentos. Não acho que o ex-presidente Lula seja o problema. E ainda não vejo Bolsonaro caminhando para um populismo, porque isso afeta a relação dele com uma parcela do eleitorado dele. O problema maior é o de irmos para os extremos. Isso atinge as propostas de centro, que poderiam ser mais ponderadas. Com extremos, você deixa as coisas ainda mais incertas.
Alexandre Espirito Santo, professor do Ibmec e economista-chefe da Órama
Dois dos indicadores de mercado mais usados para medir o humor de investidores tiveram desempenho positivo nos anos de governo Lula, entre 2003 e 2010. Em termos nominais, sem considerar a inflação, o dólar caiu 53%, e o Ibovespa acumulou ganho de 515%.
O governo Bolsonaro tem pouco mais de dois anos, mas para efeito de comparação, o dólar acumulava valorização de 45,7% até 15 de março, e o Ibovespa subia 30,7%.
Veja abaixo o comportamento acumulado do Ibovespa nos períodos de alguns dos últimos governos.
O que é o mercado?
É um conjunto de instituições e pessoas:
- Bancos, corretoras, gestoras de recursos, plataformas de investimento, mais os profissionais que trabalham nessas empresas;
- Pequenos, médios e grandes empresários, que aplicam o capital de giro do negócio;
- Governo, quando vende ou resgata título público, negocia dólar ou aplica recursos de impostos;
- Todo investidor, grande ou pequeno, que dá uma ordem para comprar ou vender uma ação ou para aplicar ou resgatar dinheiro no fundo de investimento, por exemplo.
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