Economia vai bem, mas política atrapalha, diz pesquisa com grandes empresas
O ambiente econômico está favorável para grandes empresas no Brasil comprarem outros negócios, mas a situação política não é nada boa. A conclusão consta de pesquisa da consultoria Deloitte sobre o panorama das fusões e aquisições no Brasil, obtida com exclusividade pelo UOL.
O estudo mostra que a economia está favorável para essas aquisições, segundo 48% dos entrevistados, enquanto 30% afirmam que está desfavorável. Mas, para 62% das companhias entrevistadas, o ambiente político é desfavorável aos negócios.
A Deloitte ouviu mais de 100 executivos no Brasil, entre CEOs e diretores, cujos negócios faturam acima de R$ 50 milhões.
Pandemia afetou quem não estava preparado
Venus Kennedy, sócia da área de consultoria da Deloitte, afirma que a pandemia afetou empresas que não estavam preparadas, abrindo espaço para as grandes companhias com caixa irem às compras.
Os preços das companhias disponíveis no mercado, o avanço da vacinação e a necessidade de as empresas apresentarem soluções inovadoras aos clientes cada vez mais rapidamente impulsionam as companhias que veem a economia como favorável para fazer novos negócios, segundo o estudo.
Além disso, pesa a favor dessas empresas o bom momento de vendas. Apesar da pandemia, 30% dos executivos afirmaram que aumentaram o faturamento em 10% ou mais -mesmo com a crise a partir de março do ano passado.
Os principais setores que viram esse aumento no faturamento foram tecnologia, mídia e comunicações, atividades financeiras, agronegócio, alimentos e bebidas.
Pandemia acelera planos das empresas
A pesquisa mostra que 71% dos entrevistados buscam fazer compras ainda neste ano. Para essas empresas, as aquisições ajudam a resolver problemas que elas não solucionariam em um curto prazo.
Com a pandemia, foi necessária uma adaptação rápida das empresas, principalmente na área de logística. Essa adaptação está muito mais ligada à inovação e à tecnologia do que ao caixa. A pandemia reforçou a necessidade do digital e acelerou os planos dessas empresas.
Venus Kennedy, da Deloitte
As companhias, diz a especialista, anteciparam os planos de digitalizar alguma área do negócio, ou aproveitaram a demanda crescente pelo digital para criar novos produtos e serviços, e querem fazer isso via aquisições.
Não é o momento para grandes negócios. Estamos vendo mais acordos menores e razoáveis, normalmente porque alguma empresa quebrou, e a outra teve caixa para comprar.
Não é à toa que empresas de tecnologia são as prioridades de compra para 41% dos entrevistados.
Ambiente político é entrave para mais acordos
A visão sobre economia está mais otimista do que sobre a política. O estudo mostra que 62% das companhias entrevistadas veem o ambiente político como desfavorável para fusões e aquisições; 26% afirmam que a política não interfere nessa decisão, e outros 12% afirmam que favorece.
Nesse ponto, afirma Kennedy, o que gera temor nas empresas não é uma grande novidade: encaminhamento lento das reformas, sistema regulatório burocrático e o avanço da pandemia no país.
Faz quatro anos que as leis sobre a parte tributária estão na pauta, o Brasil é um dos países mais complexos de se fazer negócios e tudo isso não é surpresa para ninguém. A proposta de simplificar as leis tributárias vai fazer muita diferença quando se pensa em investimentos no país. A crise de saúde também faz diferença.
O descolamento entre as visões das empresas sobre economia e política também não surpreendeu, afirma a especialista.
"Todo mundo reclama sobre a parte política porque é algo que está fora das mãos das empresas, e depende de muitas coisas complexas que demoram a mudar. Mas a parte econômica está mais nas mãos das empresas, elas conseguem agir para vender mais, se posicionar no mercado."
Eleições de 2022 vão afetar acordos
O período pós-pandemia pode afetar as compras entre as empresas, mas o fator que certamente afetará os acordos são as eleições de 2022, e isso já é esperado, segundo Venus Kennedy,
"Eleições sempre afetam o mercado de fusões e aquisições. No primeiro trimestre do ano que vem, as empresas não vão fazer nada", afirma. Ela diz que se "um candidato menos favorável aos negócios" crescer nas pesquisas, o efeito é ainda maior.
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