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Reforma elevaria imposto de média e grande empresa em até 72%, diz entidade

Simulações consideram proposta de redução no IRPJ e tributação de dividendos - Getty Images/iStock
Simulações consideram proposta de redução no IRPJ e tributação de dividendos Imagem: Getty Images/iStock

Giulia Fontes

Do UOL, em São Paulo

05/07/2021 04h00Atualizada em 12/07/2021 13h53

Cálculos do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) apontam que a proposta de reforma tributária do governo, que inclui alterações no IR (Imposto de Renda), deve aumentar em até 71,5% o imposto pago por médias e grandes empresas.

O projeto do governo para o IR reduz o imposto pago pelas empresas, mas institui uma nova tributação, sobre lucros e dividendos, que recairia sobre os sócios. De acordo com especialistas, a diminuição não compensa o aumento, e o resultado é uma carga tributária maior, que acaba onerando as empresas.

Questionado pelo UOL, o Ministério da Economia afirmou que não é possível fazer uma equivalência entre as duas tributações, somando o IR pago pelas empresas e pelos sócios na distribuição de dividendos, porque "são tributações distintas sobre pessoas diferentes".

O que o cálculo considerou

Hoje, a tributação das empresas ocorre da seguinte forma:

  • 25% de IR
  • 9% de CSLL (Constribuição Social sobre o Lucro Líquido)
  • Isenção de lucros e dividendos

A proposta do governo reduz a alíquota do IR em duas etapas. Em 2022, passaria de 25% para 22,5%. Ao final, em 2023, o resultado seria o seguinte:

  • 20% de IR
  • 9% de CSLL
  • 20% de tributação sobre lucros e dividendos

As contas do IBPT também levaram em consideração a primeira etapa da reforma do governo, que une PIS e Cofins em um único tributo, a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços).

Resultados das simulações

O instituto calculou o possível impacto da reforma para dois tipos de empresa: as que declaram IR pelo sistema de lucro presumido (uma forma simplificada) e pelo de lucro real. As contas também levaram em consideração as duas fases de redução da alíquota, em 2022 e 2023.

No caso do lucro presumido, a simulação foi para uma empresa com faturamento de R$ 100 mil e despesas de R$ 60 mil. No sistema atual, essa empresa pagaria R$ 8.880 em tributos. Os resultados foram os seguintes aumentos de impostos:

  • 2022: R$ 14.464 em impostos, + 62,88%
  • 2023: R$ 13.824 em impostos, + 55,68%

Para o sistema de lucro real, o IBPT considerou uma empresa com receita bruta de R$ 1 milhão e despesas de R$ 700 mil. Hoje, os tributos somam R$ 87.450. Pelas novas regras, os novos valores seriam os seguintes:

  • 2022: R$ 149.980 em impostos, + 71,5%
  • 2023: R$ 144.680 em impostos, + 65,4%

Quem será afetado

A nova regra proposta pelo governo prevê que ficariam isentos de IR os lucros e dividendos distribuídos por microempresas ou empresas de pequeno porte até o limite de R$ 20 mil por mês. Por isso, tendem a ser mais afetadas as empresas médias e grandes.

Mesmo assim, segundo Gilberto Luiz do Amaral, presidente do Conselho Superior do IBPT, algumas pequenas empresas também podem ser atingidas, principalmente as que estão perto do limite máximo de faturamento permitido no Simples (o regime de cobrança de impostos aplicado a micro e pequenas empresas).

Para ele, não faz sentido o argumento do Ministério da Economia de que a tributação de lucros e dividendos não pode ser somada ao IR das empresas, por incidir na pessoa física.

Quando os lucros são taxados, na verdade são os investidores que estão sendo taxados. Se ele paga na pessoa jurídica ou na pessoa física, o resultado é o mesmo.
Gilberto Luiz do Amaral

Tributação de dividendos poderia ser progressiva

Caio Takano, professor do Ibmec em São Paulo, afirma que o projeto poderia ter seguido o modelo aplicado em outros países, como os EUA, para a tributação de dividendos.

Nesses lugares, a cobrança de imposto é progressiva, ou seja, quanto mais dividendos uma pessoa recebe, maior é a alíquota do tributo. Na proposta do governo, a taxação de 20% é uniforme, independentemente do valor recebido.

É uma regra que enfraquece a progressividade [ou seja, o aumento da tributação com o aumento da renda].
Caio Takano

Para Elisabeth Libertuci, advogada e sócia da Lewandowski Libertuci Advogados, o projeto "aumenta a carga tributária em todos os níveis", e tem um caráter "arrecadatório".

A questão principal, segundo ela, é que a redução no Imposto de Renda de empresas, de 5 pontos percentuais em 2023, não é proporcional à tributação dos dividendos, de 20%.

Pode ser que o governo tenha feito a proposta nesses moldes porque sabia que isso não seria aprovado pelo Congresso e, com isso, tem um mecanismo de negociação, uma gordura para queimar. O aumento é surreal.
Elisabeth Libertuci

Governo está recalculando alíquotas

Na quinta-feira (1º), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo está recalculando as alíquotas propostas na reforma do IR. Ele também já disse que o corte na alíquota do Imposto de Renda de empresas pode ser maior do que o proposto no texto do governo, chegando aos 10%.

Em nota ao UOL, o Ministério da Economia afirmou que a reforma foi idealizada com a diretriz de não elevar a carga tributária e de não comprometer as metas de resultado do governo. Disse, ainda, que não é possível fazer uma equivalência entre a cobrança do IR sobre pessoas jurídicas e a taxação de dividendos, já que "são tributações distintas sobre pessoas diferentes".