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Empresa chinesa vai monitorar gado brasileiro com sensores na cabeça

Huawei, Embrapa e CPQD vão monitorar o dia a dia de bois - Divulgação/Rodrigo Alva
Huawei, Embrapa e CPQD vão monitorar o dia a dia de bois Imagem: Divulgação/Rodrigo Alva

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/08/2021 13h07

Em uma fazenda instalada em Campo Grande (MS), um grupo de 32 bois que vivem em um pasto de 18 hectares em um sistema mais sustentável (Integração Lavoura Pecuária Floresta, ou ILPF) vai entrar para a era da alta tecnologia. A gigante chinesa de tecnologia Huawei anunciou nesta semana uma parceria com a Embrapa e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) para monitorar o dia a dia dos animais e, com algoritmos, mostrar se eles estão bem, felizes, engordando ou até se o cardápio está adequado.

Sensores de Internet das Coisas (IoT), colares inteligentes e balança de passagem serão usados de forma integrada para monitorar indicadores de produtividade, ambientais e de bem-estar animal do grupo e, com isso, gerar tecnologias baseadas em modelos de Inteligência Artificial (IA) para os pecuaristas. O objetivo é melhorar a gestão e a produção de bovinos em sistemas de integração, que já somam 17 milhões de hectares no país.

Embrapa, Huawei e CPQD vão instalar toda a infraestrutura de conectividade, os sensores de IoT e a plataforma computacional para coleta de dados, além de desenvolver as soluções a partir das informações coletadas. A fabricante de smartphones vai fornecer os equipamentos e armazenar os dados em nuvem, enquanto Embrapa e CPQD irão usar essas informações para criar novas soluções para o gado. Os bois vão passar pela experiência high-tech durante 12 meses.

Algoritmos e sensores inteligentes na pecuária

Boi-high tech: empresa chinesa de smartphones vai monitorar gado brasileiro - Divulgação/Rodrigo Alva - Divulgação/Rodrigo Alva
Imagem: Divulgação/Rodrigo Alva

De acordo com a Embrapa, duas unidades de pesquisa estão diretamente envolvidas no estudo. A Embrapa Informática Agropecuária, Campinas (SP), vai coordenar o trabalho e desenvolver os algoritmos de inteligência artificial para dar suporte às aplicações relacionadas à predição de ganho de produtividade e ao índice de bem-estar animal. Os animais ficam na fazenda da Embrapa Gado de Corte, em MS.

"A pesquisa envolve três eixos: as variáveis fisiológicas do animal, o microclima e o ganho de peso", afirmou Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte. "Os parâmetros de bem-estar animal e conforto térmico permitirão que o produtor rural perceba o nível de estresse do animal e a interferência disso em sua produtividade."

Para o analista de TI da Embrapa, Camilo Carromeu, esse conjunto de dados de sensores, aliado à rede de Internet das Coisas e Inteligência Artificial, vai ajudar a antecipar o ganho de produtividade dos animais e aferir se o sistema de produção está alinhado às boas práticas.

"As informações são importantes também para a adoção de protocolos e a certificação dos produtores, com a obtenção do selo Carne Carbono Neutro (CNC) ou Carne de Baixo Carbono (CBC), por exemplo", disse.

BBB de bois, com dados em tempo real

Para coletar de forma automática os dados fisiológicos e comportamentais relativos ao bem-estar, acompanhar o ganho de peso diário e coletar dados de microclima das condições ambientais, o grupo será monitorado dia e noite usando equipamentos. Serão verificadas a temperatura cutânea de cada um e a frequência cardíaca e respiratória.

"A ideia é coletar o maior número de variáveis e indicadores de conforto para fornecer alertas aos pecuaristas, por meio de aplicativo de celular ou internet, que os ajudem a tomar as melhores decisões, sob o ponto de vista econômico e ambiental", declarou o analista da Embrapa Eduardo Speranza.

A Huawei está de olho na pecuária brasileira já faz algum tempo. No começo do ano, durante a realização de uma feira agrícola no Paraná, já havia anunciado parcerias com empresas do setor e cooperativas para o desenvolvimento de projetos de inovação agropecuária e o investimento em antenas 5G voltadas para o uso no campo.

Segundo Bruno Zitnick, diretor de relações públicas da multinacional, a tecnologia pode trazer uma revolução para o campo ao automatizar a coleta de dados e transformá-los em informação para os produtores.

Na parceria com a Embrapa e o CPQD, os dados serão coletados pelos sensores e enviados à nuvem da Huawei, que contém Inteligência Artificial. "Isso vai permitir que o produtor tenha uma visibilidade sobre a produtividade do gado que hoje ele não tem, o que irá ajudar na tomada de decisão e, consequentemente, aumentará a eficiência e os ganhos na produtividade", afirmou.

"Essa parceria irá viabilizar uma solução tecnológica inovadora para atender demandas e agregar valor ao negócio dos produtores rurais brasileiros que operam no modelo ILPF. A combinação de Inteligência Artificial e IoT em uma plataforma integrada permitirá ampliar a previsibilidade e a produtividade no manejo e, ainda, contribuir positivamente para a sustentabilidade ambiental, com a redução na emissão de gases de efeito estufa", disse Fabricio Lira Figueiredo, gerente de Desenvolvimento de Negócios em Agronegócio Inteligente do CPQD.

Quais tecnologias serão usadas para monitorar o gado

O CPQD vai fornecer ao projeto plataformas abertas de inteligência artificial e para acelerar a criação de aplicações de IoT voltadas à realidade brasileira.

Para o monitoramento diário de ganho de peso, será utilizada a tecnologia do Sistema Automático de Pesagem em Campo com Envio Remoto de Dados (BalPass). O equipamento, desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), funciona com energia solar e mede a curva de peso de cada animal, que é pesado individualmente, todos os dias, no pasto.

Já para as condições de bem-estar, serão usados dispositivos eletrônicos conhecidos como Plataforma Eletrônica Bovina ou BEP, um equipamento acoplado na cabeça do animal, com sensores, que monitora ao mesmo tempo a frequência respiratória, cardíaca e temperatura superficial da pele. Seus sensores também captam a temperatura ambiente, umidade relativa do ar e radiação solar.