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'Mercado prefere Lula a Bolsonaro', analisa ex-ministro Maílson de Nóbrega

Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda - Divulgação
Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

04/10/2021 09h27Atualizada em 04/10/2021 10h36

O ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson da Nóbrega, afirmou ontem que, se a disputa das eleições de 2022 for entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mercado escolherá Lula. A afirmação foi dada em entrevista à colunista Marta Sfredo, do jornal digital GHZ.

Se a disputa for entre Bolsonaro e Lula, o mercado vai de Lula. Por menos alvissareira que seja a candidatura dele, é menos ruim do que Bolsonaro, que não sabe nem como funcionam as instituições.
Ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, em entrevista ao GZH

Bolsonaro criou uma crise institucional após convocar atos no dia 7 de setembro, quando fez ameaças golpistas contra os Poderes e inflou apoiadores contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Apoiadores do presidente levaram faixas pedindo o fechamento do STF e contra o Congresso Nacional.

Dias depois, Bolsonaro precisou recorrer ao ex-presidente Michel Temer (MDB) para acalmar os ânimos.

Segundo Maílson da Nóbrega, grande parte do mercado já desembarcou do governo Bolsonaro. "É a primeira vez que vejo executivos de bancos assinando manifestos por democracia, porque têm a percepção de que está sendo atacada. E as perspectivas econômicas não estão nada boas para 2022", afirmou o ex-ministro.

"A promessa de uma agenda liberal à la Margaret Thatcher não vai acontecer. E todos os sinais são de que a economia não está decolando, como disse o ministro Guedes, mas ocupando a capacidade ociosa."

Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a economia brasileira está "bombando" e "voando", apesar de indicadores econômicos ainda vacilantes —o país tem 14,4 milhões de desempregados e a inflação já passou dos dois dígitos no acumulado em 12 meses até a metade de setembro.

O ex-ministro também comentou a pesquisa Datafolha, que mostrou que 47% dos empresários consideram "ótima" ou "boa" a gestão de Jair Bolsonaro.

"Empresários são uma pequena minoria do eleitorado. Podem ser formadores de opinião, podem financiar campanha, mas não ganham eleição. E o financiamento hoje está mais restrito, empresas não podem fazer doações formais."

Em 2022, o mercado não terá dúvida sobre o fracasso do governo Bolsonaro e das promessas de seu ministro da Economia.
Ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, em entrevista ao GZH

Maílson da Nóbrega ressaltou que os mais maduros do mercado conhecem Lula. "É verdade que ele está com um discurso muito ruim de que vai revogar teto de gastos. Isso é uma loucura, mas já provou que é pragmático. Deve fazer, ao longo da campanha, vários movimentos em direção ao centro. Fez isso em 2002, escolhendo José Alencar (empresário, dono da Coteminas) como vice e incluindo na equipe econômica nomes como os de Murilo Portugal e Marcos Lisboa (economistas identificados com a economia de mercado). Isso pode acontecer de novo".

"Não me surpreenderia se, durante a campanha, anunciasse quem seria o ministro da Fazenda, com um perfil próximo de Marcos Lisboa."

Segundo o ex-ministro, a terceira via depende da continuidade da queda de Bolsonaro nas pesquisas e da cristalização de sua rejeição. "Os eleitores percebem que ele não merece o segundo mandato pelo desastre que foi o primeiro. Desde a volta da democracia, nenhum presidente se elegeu com mais de 30% de avaliações negativas, e Bolsonaro está perto de 60%. Se perceber que não chegará ao segundo turno, pode desistir da candidatura. Pode preferir não enfrentar o dissabor da derrota".

Maílson de Nóbrega diz ainda que Bolsonaro tem o "discurso pronto" para desistir da disputa pela reeleição ao alegar fraude eleitoral e a ausência do voto impresso. "Aí a terceira via ganha força, mas isso teria de acontecer já no primeiro turno. E será preciso uma liderança com capacidade de coordenação e articulação para induzir a escolha de um só nome e dizer aos demais 'esperem a próxima vez'. Mas quem vai, por exemplo, convencer Ciro Gomes [Pré-candidato pelo PDT]? Se não for assim, dá Lula".