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Carro, comida, corte de cabelo, exames: como a conta de luz encarece tudo

Getty Images
Imagem: Getty Images

Wal Azevedo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/10/2021 04h00

O custo da energia elétrica tem pesado no bolso dos consumidores não só por causa da conta de luz que chega mais cara, mas porque ela também puxa para cima preços de muitos produtos e serviços.

O item energia e combustíveis já subiu 23% nos 12 meses encerrados em agosto, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Só a conta de luz residencial aumentou 21,08% no período.

Veja abaixo por que a energia está mais cara e como isso afeta os preços para os consumidores.

Carro, comida, corte de cabelo, exame médico

A produção de produtos e serviços, em geral, depende da energia elétrica, explica Nadja Heiderich, professora e coordenadora do Núcleo de Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

Sendo assim, qualquer aumento na tarifa faz com que os custos de produção sejam pressionados para cima. A depender do mercado, as empresas precisam repassar esses custos ao consumidor, o que encarece bens e serviços finais.
Nadja Heiderich, professora da Fecap

O impacto é maior para setores que fazem usam intensivo de aparelhos elétricos. Nesses casos, o custo mais alto será repassado, em algum grau, aos clientes, afirma.

Alguns exemplos desses setores são: produção de alimentos, porque as fábricas dependem de refrigeração, serviços como de cabeleireiro e de tratamentos estéticos, laboratórios de exames de imagem e sorveterias.

André Braz, economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), também destaca o custo da energia para a indústria e os serviços.

As indústrias automobilística e da construção civil usam muita energia elétrica, então os preços tendem a subir. O mesmo acontece na prestação de serviços como barbearia e salão de beleza.
André Braz, do Ibre/FGV

Por que a energia só sobe?

O Brasil atravessa a maior crise hídrica em 91 anos, o que esvaziou os reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia do país.

"Como a matriz energética depende essencialmente de energia hidrelétrica, o nível de reservatórios torna-se uma variável extremamente importante para o cálculo de ajuste tarifário", diz Alexandre Almeida, economista da CM Capital. Isso significa que o nível baixo dos reservatórios acaba gerando aumento na conta.

Para conseguir suprir a demanda, o governo precisa então acionar mais as usinas termelétricas, a gás e carvão mineral, explica Nadja Heiderich, professora e coordenadora do Núcleo de Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). O problema é que essa energia tem um custo de produção maior que a das hidrelétricas.

Esse custo extra é bancado com o sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015, que cobram uma taxa extra na conta de luz. A cor da bandeira é que vai determinar se o consumidor pagará mais ou menos pela energia, dependendo da condição de produção.

A taxa é calculada por 100 kWh consumidos, nessa ordem:

  • Bandeira de escassez hídrica - R$ 14,20
  • Bandeira vermelha patamar 2 - R$ 9,49
  • Bandeira vermelha patamar 1 - R$ 4,169
  • Bandeira amarela - R$ 1,343
  • Bandeira verde - sem cobrança extra

A bandeira de escassez hídrica, mais cara, foi criada durante a crise hídrica, está em vigor desde setembro e vai até o final de abril de 2022.

Para Braz, o aumento de preços deve continuar e puxar a inflação, no geral. "Temos uma energia cada vez mais cara, impactando vários setores, e não só as famílias, o que ajuda a espalhar as pressões inflacionárias", diz.

Dependência das hidrelétricas caiu desde o apagão, mas ainda é alta

Heiderich diz que o grande problema do setor elétrico brasileiro é a dependência de uma única fonte de energia, a hidrelétrica, apesar de ela ter diminuído desde a crise energética de 2001, que gerou até apagões. De 85%, caiu para 65,2% em 2021, de acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Apesar do investimento em outras fontes nos últimos 20 anos, o risco energético ainda é alto.

"Olhando para o futuro, cada vez mais precisamos diversificar nossa matriz energética, apostando em fontes de energia limpas e renováveis", diz.

Reportagem do UOL mostrou, porém, que o plano do governo federal para o setor elétrico prevê que 48% dos investimentos em novas fontes de energia irão para combustíveis fósseis, como gás natural e carvão. Além de mais caras, essas fontes poluem mais.

Apesar disso, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, diz que a previsão para os próximos dez anos é de forte expansão das fontes limpas de energia, como solar e eólica, e de "grandes chances de ampliar a participação de fontes limpas" na matriz brasileira. Porém, o ministro não informou números.

Governo pede que brasileiro poupe energia

O Ministério de Minas e Energia recomenda que os brasileiros economizem energia, principalmente nos horários de pico, entre as 18h e as 21h, quando as pessoas retornam para casa depois do trabalho. Segundo o ministério, o maior vilão do consumo nesse horário é o chuveiro elétrico.

Além disso, Heiderich indica "diminuir o uso de ar condicionado, abrir a geladeira menos vezes ao dia, usar menos o micro-ondas e aproveitar a luz natural o máximo possível algumas possibilidades".

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