Essência do Auxílio Brasil é de que pobre é preguiçoso, diz ex-ministra
A ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello disse hoje no UOL Entrevista que o Auxílio Brasil foi desenvolvido sob a ideia de que "pobre é pobre porque é preguiçoso". Para ela, o programa social do governo Bolsonaro criado para substituir o Bolsa Família é "cheio de penduricalhos".
"Essa é a essência do Auxílio Brasil. O pobre tem que se esforçar para arranjar emprego, como se a gente tivesse um país lotado de emprego e as pessoas estivessem deitadas na rede querendo ficar em casa, encostadas no Estado", disse Campello.
A economista afirmou que o novo programa social deveria ser feito para aumentar o valor do benefício e o número de beneficiários, e não apenas mudar seu nome. Para ela, a essência do Auxílio Brasil é "desorganizada".
O programa (Auxílio Brasil) tem nove diferentes benefícios, calcados não na inclusão, não em trazer essa população para dentro do Estado, as crianças para dentro da sala de aula, e garantindo atenção médica
Tereza Campello
'Anúncio pela metade'
A ex-ministra também critica a rapidez com que o assunto está sendo tratado. Ela diz que ouve há três anos anúncios de que o Bolsa Família seria extinto.
"Esperam a última hora, o último momento, a véspera do ano eleitoral, para, numa operação bastante atabalhoada, para dizer o mínimo, perigosa, para tratar da gravidade do ponto de vista de políticas publicas, fazer um anúncio pela metade", disse Campello.
A economista afirmou que a Medida Provisória que anunciou o novo programa, de 9 de agosto, não especifica uma série de questões que deveriam ser tratadas, como o valor do benefício, o público a ser destinado e os critérios para sua concessão.
Me surpreendo até o Tribunal de Contas da União não ter feito nada. Me surpreendo que o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira, não tenha devolvido a Medida Provisória, porque é uma Medida Provisória ilegal e inconstitucional
Tereza Campello
Substituição
A ex-ministra defende o Bolsa Família ao dizer que a substituição do Auxílio Brasil está sendo feita sem critério. Ela afirma que o programa criado em 2001 no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o nome de Bolsa-Escola, e que mudou de nome em 2003, no governo Lula (PT), é reconhecido internacionalmente.
"Nenhum estudo explica por que esse programa é melhor do que o Bolsa Família. Não explica porque não é. Eles não têm como explicar, até porque não fizeram estudo nenhum", disse Campello.
Para a economista, o programa de transferência de renda do governo federal deveria ser tratado como uma política de Estado e não como uma política de governo. Ela diz ainda que o país se destaca no mundo como construtor e exportador de tecnologia social, com o próprio Bolsa Família e o CadÚnico, Cadastro Único.
Por tudo aquilo que se acumulou, o Brasil é um exemplo. Não é só um orgulho para a gente. Tinha que ser tratado como uma ação de Estado e não como um programa de um partido e outro
Tereza Campello
Guedes e teto de gasto
Sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, Campello afirma que ele "já deveria ter entregado o boné". Para ela, tudo o que Guedes prometeu, não fez.
"E agora adere a uma agenda eleitoreira, que fere o conjunto das regras, fere a legislação eleitoral... o Guedes, sinceramente, enterrou todo aquele discurso dele, que já era furado. Agora, ele se assumiu como um ser que está lá exclusivamente para fazer política, e não para cuidar de suas regrinhas sagradas", disse a ex-ministra
A economista defende um estouro no teto de gastos, apesar de dizer que é somente sobre isso que está sendo discutido ao falar do Auxílio Brasil. Para ela, o corte nos investimentos públicos está fazendo o Brasil virar um "fazendão", já que está deixando a industrialização, a ciência e a tecnologia para trás.
Dada a situação dramática que o país vive hoje, não tomar uma medida seria um erro à toda prova. Esse drama que está se fazendo por conta do teto de gasto é uma ameaça de caráter ideológico, porque o teto não foi cumprido em nenhum momento
Tereza Campello
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