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Abertura de vagas com carteira em 2020 foi metade da divulgada pelo governo

Getty Images/iStockphoto/FG Trade
Imagem: Getty Images/iStockphoto/FG Trade

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

03/11/2021 14h12

Comemorada pelo governo, a geração de empregos formais em 2020, durante a fase mais crítica da pandemia do novo coronavírus, não foi tão positiva quanto divulgado pelas autoridades. Dados revisados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), atualizados até setembro deste ano, mostram que 75.883 postos de trabalho foram abertos no ano passado. O número é 46,82% menor que os 142.690 postos alardeados pelo governo em janeiro.

Essa diferença se deve a ajustes realizados na base de dados do Ministério do Trabalho e Previdência, responsável pelo Caged. Pelas regras em vigor, empresas de todo o Brasil precisam declarar ao ministério demissões e contratações de empregados feitas a cada mês do ano. Só que as empresas têm até 12 meses para informar a movimentação, a partir da data de demissão ou contratação.

Se um trabalhador foi demitido em dezembro do ano passado, por exemplo, a empresa tem até dezembro deste ano para fazer a declaração ao ministério.

As atualizações feitas durante o ano de 2021 até o momento mostraram um saldo maior de demissões no ano passado do que o reportado anteriormente. Em janeiro, o governo havia divulgado um total de 15,02 milhões de desligamentos em 2020. Com a revisão, as demissões subiram 2,25%, para 15,36 milhões.

As contratações também aumentaram após as atualizações, mas não compensaram o saldo maior de demissões. Pelos dados informados em janeiro, haviam ocorrido 15,166 milhões de contratações em 2020. Os números atualizados até setembro mostram total 1,79% maior, de 15,437 milhões.

Governo comemorou dados em janeiro

Os números do Caged referentes ao ano de 2020 foram comemorados pelo governo em janeiro, quando saíram. Na ocasião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou o desempenho do mercado de trabalho durante a pandemia com os resultados registrados em crises anteriores, enfrentadas por outros governos.

A boa notícia é o acumulado do ano. Na recessão de 2015, na qual o PIB caiu 3,5% por erros de política econômica, nós destruímos 1,5 milhão de empregos. Na recessão de 2016, também em consequência de erros, perdemos 1,3 milhão de empregos. No acumulado de 2020, quando fomos atingidos pela maior pandemia dos últimos 100 anos, nós geramos 142 mil empregos
Paulo Guedes, em janeiro, durante divulgação do saldo do Caged de 2020

As revisões feitas até setembro de 2021, no entanto, mostram que a geração de vagas foi 46,82% inferior, de 75.883 postos. E como as atualizações pelas empresas podem ser feitas até dezembro deste ano, esta diferença pode ser ainda maior.

Subnotificação na pandemia

Em outubro do ano passado o UOL já havia alertado que, em função da pandemia, as empresas poderiam estar atrasando o envio das notificações de demissão ao governo. Muitas empresas, na fase mais aguda da crise sanitária, simplesmente fecharam as portas, deixando as notificações formais para depois.

Os indícios de subnotificação, porém, eram percebidos ao se comparar os dados do Caged com os números da Pnad Contínua — pesquisa de desemprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que considera as vagas com e sem carteira assinada.

Esses levantamentos têm metodologias diferentes, mas alguns especialistas alertavam para a diferença maior de resultados entre eles durante a pandemia.

Ministério destaca saldo positivo apesar de revisões

O Ministério do Trabalho e Previdência afirmou ao UOL, por meio de nota, que mesmo com as revisões "o saldo do Caged de 2020 se mantém positivo, em que pese o pior momento da pandemia da covid-19".

O órgão disse que houve uma ocorrência maior de revisões em função da adoção do eSocial, o novo sistema usado para declarações por parte das empresas.

Tradicionalmente, os dados do Caged podem ser atualizados até 12 meses após a data de realização da movimentação (admissão ou demissão). A entrada de dados fora do prazo acontece quando as empresas declaram as informações de admissão e demissão após a competência em que a movimentação se realizou. A possibilidade de realizar esse tipo de declaração já existia no antigo Caged, havendo uma ocorrência um pouco maior neste momento devido ao processo de transição para a declaração via eSocial, que ocorreu para um número significativo de empresas ao longo de 2021
Ministério do Trabalho e Previdência

O ministério pontuou ainda que, em 2021, o saldo de vagas segue positivo. Os dados do Caged mostram que este ano, até setembro, foram gerados 2,51 milhões de empregos formais. Este número, assim como ocorreu com o dado de 2020, ainda passará por revisões.