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Clientes dizem que mercados no Rio escondem carne nobre e que faltam opções

Daiana Zanandrea, cliente de uma loja no Extra no Largo do Machado, zona sul do Rio - Marcela Lemos/UOL
Daiana Zanandrea, cliente de uma loja no Extra no Largo do Machado, zona sul do Rio Imagem: Marcela Lemos/UOL

Marcela Lemos e Henrique Santiago

Colaboração para o UOL, no Rio e em São Paulo

15/11/2021 04h00

Consumidores do Rio de Janeiro reclamam que supermercados estão evitando deixar carnes nobres nas prateleiras (como aconteceu em São Paulo). Também dizem que há falta de alguns cortes de carne em geral.

Uma cliente do Extra, no Largo do Machado, zona sul da capital fluminense, contou ao UOL que cortes como picanha e coração da alcatra, embaladas a vácuo, que têm preços mais altos, sumiram do freezer no corredor do açougue.

"A gente vinha nesse freezer, escolhia um pedaço maior ou menor, e era só pegar e levar ao caixa. Agora, não vejo mais. Temos que pedir açougue", disse a cliente Daiana Zanandrea.

O UOL esteve dois dias no mercado. No primeiro deles, constatou que os cortes nobres não estavam à mão do consumidor como ocorria normalmente.

Questionada, uma funcionária disse que somente as peças em promoção estavam sendo disponibilizadas nos freezers, mas afirmou que as ofertas "não tem acontecido".

A reportagem entrou em contato com assessoria de imprensa do mercado e não obteve retorno. No dia seguinte, em uma nova visita à unidade, as peças estavam disponíveis ao consumidor no freezer.

Depois dessa segunda visita, o Extra informou ao UOL, por telefone, que foi feita uma apuração interna nas lojas da rede e não foi constatada alteração nem diminuição dos cortes oferecidos aos clientes.

Iracema do Carmo, 58, cliente do mercado Mundial em Botafogo, zona sul do Rio - Marcela Lemos/UOL - Marcela Lemos/UOL
Iracema do Carmo, 58, cliente do mercado Mundial em Botafogo, zona sul do Rio
Imagem: Marcela Lemos/UOL

No mercado Mundial, em Botafogo, há cliente sentindo falta de opções de carnes cortadas, embaladas e oferecidas em bandejas. É o caso da cozinheira Iracema do Carmo, 58, que frequenta a unidade.

"A impressão é de menos opção. Quando venho ao mercado, fico procurando o que vale mais a pena. Na minha casa, reduzi o consumo de carne de seis quilos por mês para dois quilos. Acabei substituindo a carne por frango, ovo ou linguiça", afirma.

Na ocasião, a cliente levou um pedaço de músculo para sopa e alcatra. Os cortes eram para uma idosa para quem ela trabalha. "Ainda tenho que ligar para a minha patroa para ela autorizar a compra", disse.

Em uma das unidades da rede Hortifruti, no Flamengo, também na zona sul, clientes dizem que a carne disponível tem variado conforme o dia e o horário, o que não acontecia antes, de acordo com clientes. Segundo Helena Maria Pinto, antes o mercado oferecia diferentes tipos de carnes, mas atualmente há cortes em falta, e ela chega a ir embora sem comprar o que precisa.

"Há dois dias vim aqui para comprar uma porção de picadinho e não tinha. Olhei para os bifes. Antes sempre havia bastante, mas só tinha uma bandeja. Desisti. Escolhi uma peça inteira para durar mais de um dia" afirma.

Questionado se o número de opções havia diminuído nas prateleiras, um funcionário explicou à reportagem que a unidade passou a fazer os cortes em função das vendas ao longo do dia.

"Agora estou vendo aqui que está faltando [na prateleira] o baby beef. Já vendemos as peças que tínhamos. Vou avisar lá dentro e mais tarde vamos repor. Quem chegar agora realmente não vai achar, só mais tarde", disse.

"Nada mudou nas lojas em relação ao mix de produtos oferecidos e ao abastecimento", informou o Mundial por telefone à reportagem.

O Hortifruti foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Em São Paulo, pão vira jantar

O zelador Josenildo dos Santos,44 em uma unidade do supermercado Madrid, no centro de São Paulo - Henrique Santiago/UOL - Henrique Santiago/UOL
O zelador Josenildo dos Santos diz que está difícil comprar até frango
Imagem: Henrique Santiago/UOL

Em uma unidade do supermercado Madrid, na Vila Buarque, centro de São Paulo, a principal reclamação dos clientes é o preço. Os freezers, cheios de ponta a ponta, exibem picanha, filé mignon e contrafilé acima de R$ 70 o quilo.

Morador do bairro, o zelador Josenildo dos Santos, 44, saiu do supermercado com um saco de pães para o jantar. "O dinheiro não está rendendo nada. As coisas vão aumentando, e o salário vai diminuindo", afirma.

Ele diz que passou a consumir carne vermelha apenas uma vez por semana, e não mais três. No entanto, até mesmo as alternativas estão mais difíceis de entrar no carrinho. "Na semana passada, eu ia comprar dois quilos de frango e daria R$ 40. Larguei lá, não levei, não", diz, com risos de frustração.

O estudante Leonardo Martins, 23, em uma unidade do supermercado Madrid, no centro de São Paulo - Henrique Santiago/UOL - Henrique Santiago/UOL
O estudante Leonardo Martins pesquisa preços em mercados e açougue da região
Imagem: Henrique Santiago/UOL

O estudante Leonardo Martins, 23, evita comprar carne no supermercado porque diz que ele é "mais caro". Para encontrar opções mais em conta, faz pesquisas em até três concorrentes no bairro, incluindo um açougue.

De acordo com ele, a busca pelo melhor preço reduziu o seu consumo de carne bovina. "Tenho procurado comer mais frango e ovo. Se a carne estivesse mais barata, eu comeria mais", declara. "Que o preço diminua nos próximos meses, porque atrapalha a dieta do brasileiro ter que mudar o prato toda hora. Seria bom ter uma estabilidade."

Perto dali, em uma unidade do supermercado Master, no Shopping Frei Caneca, uma cliente que não quis ser identificada se mostrou surpresa ao ver uma bandeja de pé de frango à venda por mais de R$ 3. Ela sondou o preço das carnes de boi, porco e peixe e saiu da seção com as mãos vazias.

"Olha, está cada dia pior. Costumo vir aqui, mas está ruim em todo lugar. Não tem para onde correr mais", disse.

Supermercado diz que inflação afeta todos

Felipe Moreno, gerente comercial do Madrid Supermercados, diz que a inflação prejudica clientes e comerciantes.

"Estamos passando por um período bem preocupante, no que diz respeito à inflação. A crise econômica e alimentar que o país enfrenta prejudica tanto o consumidor final quanto os supermercados e outros setores. Mesmo assim, toda a precificação dos produtos vendidos no Madrid é feita após uma pesquisa que busca atender às necessidades do cliente, bem como às do estabelecimento."