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Todos a Bordo

REPORTAGEM

Avião de Marília Mendonça parecia pouco danificado; por que todos morreram?

A cantora Marília Mendonça morreu após queda de seu avião em Piedade de Caratinga - Reprodução
A cantora Marília Mendonça morreu após queda de seu avião em Piedade de Caratinga Imagem: Reprodução

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/11/2021 16h10Atualizada em 09/11/2021 14h21

A queda do avião de Marília Mendonça na sexta-feira (5) em Minas Gerais chamou atenção pelo fato de o avião não ter ficado completamente destruído, como é comum ocorrer em quedas de aeronaves.

Segundo imagens do local do acidente, é possível ver que a estrutura principal do avião não ficou destroçada, e apenas a cauda se rompeu. Ao observar uma cena como essa, é comum pensar que o avião fez um pouso forçado e que, com os aparentes danos não tão severos, quem estava a bordo conseguiria sair com vida ou ferimentos leves. Mas por que todos a bordo morreram?

Queda na vertical

Caso o avião faça um pouso forçado, geralmente, as forças se distribuem entre a movimentação vertical e a horizontal da aeronave. É a trajetória de pouso comum de um avião, que desce aos poucos enquanto avança para a frente, mas agravada pelo fato de isso ocorrer em um local improvisado, e não uma pista.

O que poderia ter ocorrido com o avião de Marília Mendonça é uma perda de sustentação, e ele teria caído na vertical, e não voando para a frente, como costuma ocorrer. Isso é apenas uma especulação, mas serve para entender um pouco mais sobre a força que o corpo humano recebe nesse tipo de queda.

"Se fosse um pouso forçado e o avião tivesse pousado e parado naquela posição, provavelmente, todos estariam vivos", diz o piloto Raul Marinho, gerente técnico da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).

"Aparentemente, o avião caiu de maneira abrupta, perdendo a sustentação e girando em relação ao solo. Essa rotação seria como a de um ventilador de teto. Se fosse isso que ocorreu, o avião teria caído e, ao tocar no solo, sofrido uma desaceleração brusca, ocasionando a morte das pessoas a bordo. Mas isso é apenas uma hipótese", afirma o piloto.

Órgãos internos em colisão

De acordo com Aly Said Yassine, médico de Tráfego do Hospital Sírio-Libanês, as desacelerações bruscas impactam sobre o corpo humano independentemente do meio em que a pessoa esteja se deslocando, seja em um carro, avião ou trem, por exemplo. Esses impactos podem ocasionar múltiplas fraturas e ruptura de órgãos internos, muitas vezes, levando à morte.

"Quando estamos dentro de um meio de transporte e ele colide, nós temos na verdade três colisões: A primeira colisão é a do veículo contra um objeto fixo, que pode ser uma parede ou o chão. A segunda colisão é a que acontece dos ocupantes desse veículo com as estruturas fixas internas, como teto e bancos", diz o médico, que afirma que a maior parte das lesões ocorre nessa segunda colisão.

"Ainda existe uma terceira colisão, entre os órgãos internos da pessoa contra as estruturas ósseas dela. Nessa terceira colisão, costumam acontecer as lesões mais graves, como rupturas de órgãos e hemorragias", diz Yassine.

Isso ocorre devido ao fato de que, embora o veículo, interrompa seu movimento, os órgãos internos não, e essa desaceleração ocorre em cerca de 120 milésimos de segundo.

"Em uma aeronave que se desloca a 190 km/h, os órgãos da pessoa dentro dela continuam tendo uma energia de deslocamento também nessa mesma velocidade. Quando existe o impacto entre o corpo humano e a estrutura do ambiente, ele também ocorre nessa mesma velocidade, e, os órgãos internos colidem nas estruturas ósseas nessa mesma velocidade", diz o especialista.

Yassine ainda afirma que, apesar da gravidade da segunda colisão, é na terceira batida que os ferimentos mais graves costumam acontecer. Nesse momento, o cérebro bate na caixa craniana, e coração e pulmão são jogados contra a caixa torácica. O corpo pode chegar a 28 vezes o seu peso caso o veículo esteja a 100 km/h, diz o médico.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
A versão original deste texto continha trechos idênticos a uma reportagem da Folha de S.Paulo de 1994 que mencionava a morte de Ayrton Senna. A cópia ocorreu nas partes em que a especialista Adnamare Tikasawa, mestre em terapia ocupacional neurológica, explicava os efeitos da desaceleração nos órgãos internos. Os trechos idênticos foram enviados por escrito à reportagem do UOL pela especialista. Essa parte da reportagem foi retirada e outro especialista foi entrevistado.