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Senado aprova PEC dos Precatórios, que banca auxílio de R$ 400

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

02/12/2021 13h57

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios foi aprovada na tarde desta quinta-feira (2) no plenário do Senado em votação de segundo turno, por 61 votos a 10. Houve uma abstenção. Nesta tarde, os parlamentares já haviam aprovado a PEC também em primeiro turno. Agora, ela volta para a Câmara, onde passará por nova votação também em dois turnos.

A proposta aprovada abre espaço para o pagamento de R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família).

Com a PEC dos Precatórios, o governo planeja pagar R$ 400 por mês para cerca de 17 milhões de pessoas em 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentará a reeleição. Porém, pela MP (Medida Provisória) que cria o Auxílio Brasil, o benefício seria concedido a 20 milhões de famílias. A MP também foi aprovada no Senado nesta quinta.

Na sessão desta quinta-feira, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da PEC, reconheceu que o auxílio poderá ser estendido a 20 milhões de pessoas, como prevê a MP. No entanto, ele não entrou em detalhes sobre o custo dessa ampliação do número de famílias.

Mudanças para conquistar apoio

Uma alteração feita por Bezerra na PEC abre espaço para que o Auxílio Brasil possa se tornar um programa social previsto na Constituição.

A mudança fez parte do esforço do governo para conseguir os votos necessários para aprovação da proposta. Eram necessários 49 votos dos 81 senadores para aprovação.

Bezerra informou que, em acordo com outros parlamentares, incorporou à PEC um trecho que prevê que "todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá o direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda".

Conforme o relator, o trecho viabiliza a permanência do Auxílio Brasil para além de 2022. "Essa foi uma preocupação central de todos os senadores, de que o programa fosse permanente", afirmou. Tecnicamente, a mudança trazida pela PEC insere na Constituição a obrigatoriedade de um programa de renda mínima para pessoas com vulnerabilidade.

Pagamento após 2022 depende de existir dinheiro

Durante as discussões do plenário, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), levantou dúvidas sobre como ficaria o programa depois de 2022.

"O artigo 6º torna permanente o programa social, incorpora ao texto constitucional o princípio da renda básica", elogiou Randolfe. "O que me preocupa é que, no artigo 4º, abre-se a margem necessária para o pagamento do Auxílio Brasil. A dúvida é: abre margem no exercício fiscal de 2022. Como ficam os anos que virão, os anos posteriores a 2022? Qual a margem fiscal para estes anos?"

Em resposta, Bezerra afirmou que outro trecho da PEC determina que toda folga de recursos aberta nos próximos anos será direcionada para o pagamento do Auxílio Brasil e para outras despesas sociais.

"Estamos resolvendo o problema de 2022. E estamos também dizendo que, nos anos seguintes, qualquer adição de valor [para pagamento do Auxílio Brasil] precisará atender ao disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal", acrescentou o relator.

A obediência a esta lei é preocupação de alguns senadores e de economistas de fora do governo. Ela determina que a criação de qualquer despesa permanente —como a do Auxílio Brasil— precisa ser acompanhada pela indicação de que o governo também tem uma receita permanente.

Nesta quinta-feira, Bezerra afirmou que todo o espaço para gastos criado pela PEC vai para a ampliação de programas sociais. Na prática, ocorreria uma vinculação dos recursos ao Auxílio Brasil e a outras iniciativas na área social (revisão de pensões, aposentadorias e benefícios, por exemplo).

PEC vai bancar novo programa social

Defendida pelo governo de Jair Bolsonaro, a PEC dos precatórios altera uma série de regras para o pagamento desses títulos e o controle de gastos. Um dos objetivos é conseguir uma folga de R$ 106,1 bilhões no orçamento de 2022, o que viabiliza o pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil.

Para isso, a PEC traz duas mudanças principais.

Em primeiro lugar, permite o adiamento do pagamento de parte dos precatórios devidos pela União em 2022. Pelos cálculos do Tesouro, isso gerará uma folga de R$ 43,8 bilhões.

Precatórios são títulos que representam dívidas que o governo federal tem com pessoas físicas e empresas, provenientes de decisões judiciais. Quando a decisão judicial é definitiva, o precatório é emitido e passa a fazer parte da programação de pagamentos do governo federal.

Em segundo lugar, a PEC muda o teto de gastos, a regra fiscal constitucional que limita a despesa pública ao Orçamento do ano anterior corrigido pela inflação. Críticos dizem que isso representa, na prática, furo no teto de gastos. Com isso, haverá uma folga de R$ 62,2 bilhões em 2022, pelos cálculos do Tesouro Nacional.

Pelo texto apresentado por Bezerra, toda folga de recursos precisará ser usada no Auxílio Brasil e em outras despesas sociais.

Adiamento de precatórios apenas até 2026

Outra mudança trazida na PEC, a partir de sugestões de senadores, é a de que o adiamento do pagamento de parte dos precatórios ocorrerá só até 2026 —e não até 2036, quando termina o prazo de vigência do teto de gastos.

Na visão de senadores, ao limitar o adiamento para o ano de 2026, o governo evitará que se crie uma "bola de neve" de dívidas judiciais para o futuro. Cálculos recentes da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado indicam que o montante a ser pago depois de 2026 pode chegar a R$ 850 bilhões.

Governo corre contra o tempo

Já em vigor, o Auxílio Brasil — substituto do Bolsa Família — paga atualmente a seus beneficiários um valor médio de R$ 217,18. Para chegar aos R$ 400, o governo corre contra o tempo.

A PEC dos precatórios, que bancará o benefício maior, ainda precisará voltar para a Câmara, onde começou a tramitar, para nova votação, porque o texto aprovado na Câmara passou por mudanças no Senado.

Desde o início das discussões no Congresso, a PEC foi alvo de críticas da oposição e de parlamentares independentes. A proposta foi vista como uma estratégia do governo Bolsonaro para conseguir apoio popular, em ano eleitoral, e para obter suporte parlamentar no Congresso.

Parlamentares da oposição, em especial, alertavam que a folga fiscal, calculada pelo Tesouro em R$ 106,1 bilhões, abriria espaço para o pagamento de mais emendas de relator —as emendas do chamado "orçamento secreto", usado pelo governo para manter sua base de apoio.

Além disso, havia o receio de que o governo utilizasse parte dos recursos para cumprir outras promessas consideradas eleitoreiras, como as de reajuste de salários dos servidores federais e de pagamento de um auxílio aos caminhoneiros.

Nas negociações no Senado, Bezerra acabou por direcionar os recursos para o Auxílio Brasil e a área social.

Durante a sessão, senadores também defenderam que o texto da PEC aprovado no plenário não seja novamente alterado quando retornar à Câmara.