País terá mais trabalho em 2022, mas taxa de desemprego não cairá; por quê?
Resumo da notícia
- Setor de serviços deve liderar abertura de vagas em 2022, dizem economistas
- Taxa de desemprego vai cair pouco porque a quantidade de pessoas procurando emprego vai aumentar
- Massa salarial cresce, mas inflação impede que renda média real melhore
A abertura de vagas de emprego vai manter em 2022 a tendência de recuperação registrada em 2021, tanto na carteira assinada como no trabalho informal. Mas esse incremento de trabalhadores ocupados não deve reduzir muito a taxa de desemprego, que vai seguir ao redor dos 13%, preveem economistas.
Com a normalização das atividades na economia, em especial no comércio e no setor de serviços, haverá aumento das vagas. Mas a taxa de desemprego não vai recuar porque mais pessoas que não estavam nem sequer procurando recolocação no mercado por causa da crise agora voltarão a buscar oportunidades. Dessa forma, essas pessoas passarão a contar nas estatísticas. Ou seja, mais gente estará empregada, mas ao mesmo tempo mais gente estará procurando emprego.
Para a taxa de ocupação, a gente espera aumento de 3,8%, mas a taxa de desemprego cai pouco, de 13,4% em 2021 para 13% ao fim de 2022 porque vai ter mais gente voltando à força de trabalho.
Mário Sérgio Carraro Telles, gerente executivo de economia da CNI (Confederação Nacional das Indústrias)
Renda média não deve subir
Com mais pessoas trabalhando, a quantidade total de renda paga aos trabalhadores no país, a chamada massa salarial, vai aumentar.
Mas a renda média real, ou seja, aquilo que cada empregado recebe em média, deve seguir estável ou até recuar, por causa da inflação, que seguirá elevada em 2022.
O mercado de trabalho deve melhorar. É a última variável econômica que entra na crise, e a última que sai. Mas será uma melhora pequena.
Joelson Sampanio, professor de economia da FGV EESP (Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas)
Normalização de atividades abrem vagas
A pandemia interrompeu o funcionamento de diversas atividades da economia, em especial do comércio e dos serviços (bares, restaurantes, hospedagem, viagens, academias, salões de beleza etc) e do trabalho informal (ambulantes, por exemplo), justo os ramos que mais empregam brasileiros, respondendo por 68% dos trabalhos no país.
A taxa de desemprego chegou a bater recorde de 14,9% no primeiro trimestre de 2021. Com a reabertura das atividades ao longo do ano, o setor de serviços voltou a contratar. A taxa de desemprego passou a recuar, mas numa velocidade menor que a do ritmo de criação de novas vagas.
Taxa de desemprego (segundo IBGE)
- 3º trim. 2021: 12,6%
- 2º trim. 2021: 14,2%
- 1º trim. 2021: 14,9%
- 4º trim. 2020: 14,2%
- 3º trim. 2020: 14,9%
- 2º trim. 2020: 13,6%
- 1º trim. 2020: 12,4%
- 4º trim. 2019: 11,1%
- 3º trim. 2019: 11,9%
- 2º trim. 2019: 12,1%
- 1º trim. 2019: 12,8%
- 4º trim. 2018: 11,7%
A taxa de desemprego no país caiu para 12,6% no terceiro trimestre, o que representa ainda 13,5 milhões de pessoas. Quando a taxa bateu 14,9%, eram 14,8 milhões de desempregados. A população empregada chegou a 93 milhões, com o crescimento das vagas.
O percentual de trabalhadores informais atingiu 40,6% da população ocupada, ou 38 milhões de trabalhadores. Isso fica acima dos 40% do trimestre anterior e dos 38% de um ano antes.
Importante destacar que a recuperação do mercado de trabalho em 2021 ocorreu sobre uma base muita baixa de 2020. Então, para 2022, não devemos ter melhora significativa em meio a uma economia ainda fraca.
Fábio Pina, economista da FecomercioSP
Mais vagas onde os salários são menores
Esse cenário deve se manter ao longo de 2022, em especial no primeiro semestre, afirmam economistas. A abertura de vagas vai se concentrar no setor de serviços, em especial nas atividades que pagam salários mais baixos.
Por isso, a renda média real da população, ou seja, já descontando o impacto da inflação, deve continuar em queda.
Em 2021, até setembro, o rendimento real habitual foi de R$ 2.459,00, uma queda de 4% em relação ao segundo trimestre do ano, e de 11,1% em relação ao terceiro trimestre de 2020.
Não prevemos crescimento do PIB em 2022, e as empresas ainda enfrentam dificuldades. Vai ser difícil que haja melhora substancial no emprego.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Faculdade de Economia da PUC-SP e presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia)
Inflação e juros atrapalham emprego e renda
Como destaca Corrêa de Lacerda, a criação de emprego não vai acelerar o ritmo em 2022, por causa de uma economia que estará mais fria.
O PIB (Produto Interno Bruto) vai desacelerar, de um crescimento de 4,6% em 2021, para apenas 0,5% ano que vem, segundo as projeções feitas por mais de mais de cem instituições financeiras e consultorias para a pesquisa semanal Boletim Focus, do Banco Central.
Já há entre economistas de mercado alguns que dizem que o PIB vai diminuir em 2022, ou seja, que o Brasil terá uma recessão de verdade.
Caso se confirme o cenário recessivo, o desemprego deve se elevar, com aumento da subocupação do trabalho na economia, a qual já supera 20% da força de trabalho.
André Roncaglia, professor de economia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Essa economia mais fraca é culpa em grande parte dos juros que estão subindo, dizem economistas. A taxa básica de juros Selic, que começou 2021 em 2%, já está em 9,25% e deve ir até 11,75% ano que vem -a mais elevada desde 2017.
Os juros estão subindo para combater a inflação, que saiu do controle do governo e atingiu o maior patamar desde 2003.
O problema, dizem economistas, é que enquanto a inflação não recua, o trabalhador segue sendo prejudicado de duas formas.
De um lado, ele vê os preços da economia subindo mais rapidamente que os salários. De outro lado, as empresas contratam menos, por causa dos juros mais elevados.
Sem perspectivas de investimentos do governo ou estímulo ao crescimento da economia e à geração de novos postos de trabalho, o mercado de trabalho seguirá patinando, criando ocupações precárias, com menor rendimento. Assim, com a renda familiar em queda, mais pessoas vão precisar sair para buscar colocação no mercado de trabalho, o que manterá altas as taxas de desemprego.
Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)
Dólar alto pode ajudar emprego na indústria
O gerente executivo de economia da CNI, Mário Sérgio Carraro Telles, tem uma visão mais otimista, em especial para a indústria, que deve registrar abertura de novas vagas em 2022.
Segundo ele, o dólar vai seguir valorizado em 2022, na casa de R$ 5,60. Isso vai favorecer as exportações da indústria e mesmo a substituição de importações aqui dentro do país.
Ou seja, a indústria brasileira vai produzir mais para vender no exterior e também para atender o mercado doméstico, que pode trocar produtos importados por nacionais em alguns setores. Para aumentar a produção, a indústria deverá contratar mais trabalhadores.
O economista da CNI tem uma das previsões mais otimistas para o PIB brasileiro em 2022. Esse é um dos motivos que também sustentam a expectativa dele para o aumento do emprego em 2022.
A gente projeta um PIB crescendo 1,2% puxado pela massa salarial e pelo aumento da taxa de ocupação no mercado de trabalho, além da queda da inflação ao longo do ano, mas considerando que não teremos aumento de casos de covid que provoquem novos fechamentos das atividades.
Mário Sérgio Carraro Telles, CNI
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