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'Não tive o apoio que tinha de ter', diz Guedes sobre agenda liberal

Ministro da Economia, Paulo Guedes tem se enfraquecido com aproximação do governo com o Centrão - Antonio Molina/Folhapress
Ministro da Economia, Paulo Guedes tem se enfraquecido com aproximação do governo com o Centrão Imagem: Antonio Molina/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

08/02/2022 08h59Atualizada em 08/02/2022 13h19

O ministro da Economia, Paulo Guedes, culpou o "fogo amigo" e a falta de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso para a agenda liberal estar travada.

Em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", o chefe da pasta reconheceu que as reformas prometidas "não estão andando na velocidade em que gostaríamos", mas também atribuiu o ritmo lento ao "establishment" da política. "Não tive o apoio que tinha de ter. Realmente, esperava mais apoio para essa agenda", afirmou Guedes.

As reformas liberais estiveram entre as principais propostas de campanha de Bolsonaro, que prometia uma série de privatizações para combater a corrupção no país. Para Guedes, no entanto, o desempenho abaixo do desejado das reformas se deve a uma aliança entre conservadores e liberais que não vingou.

"Nós entramos com uma plataforma que é o resultado de uma aliança de conservadores e liberais, que funcionou politicamente para a eleição, mas a engrenagem não girou. Essa aliança não conseguiu nem implementar as propostas dos conservadores, porque os liberais têm valores um pouco diferentes, nem as reformas liberais, porque às vezes têm fogo amigo dos conservadores. O establishment é muito forte", afirma.

Mesmo reconhecendo a frustração, o chefe da Economia diz que a percepção de falta de avanço é "razoável, mas em parte é completamente injusta", levando em conta que o governo passou a enfrentar a pandemia da covid-19 no segundo ano de mandato de Bolsonaro e, segundo ele, por haver uma politização radicalizada.

"Há muita militância e falsas narrativas, por desinformação mesmo e talvez por falhas nossas de comunicação, mas também por desonestidade intelectual", diz Guedes.

O ministro também criticou a "elite brasileira", que, em sua avaliação, tem falta de compreensão de necessidade das reformas.

"Mesmo que o Brasil tenha constatado a corrupção no sistema político, orgânica, sistêmica, e tenha vivido uma estagnação econômica de três ou quatro décadas, mesmo com o mensalão e o petrolão, é surpreendente que a elite brasileira ainda não tenha compreendido a necessidade de fazer essa transição incompleta, com a transformação estrutural do Estado [...] As coisas até vão acontecendo, mas levam tempo demais", afirma.

'Bolsonaro precisa fazer a coisa certa'

Guedes ainda falou sobre a relação com o presidente Jair Bolsonaro e a influência que o chefe do Executivo recebe para que as reformas não avancem. Em conversas com seu superior, o ministro conta que já deu alertas, citando inclusive o risco de Bolsonaro não ser reeleito.

"Mil vezes eu falei para o presidente o seguinte: 'O senhor quer dar certo? Vamos fazer a coisa certa. Eu estou aqui para ajudá-lo a fazer a coisa certa. Se o senhor fizer a coisa certa, será reeleito, o senhor tem chance de ganhar a eleição. Se não fizer, não'", disse Guedes, defendendo que a agenda liberal pode ajudar Bolsonaro a recuperar popularidade.

Alçado ao alto escalão do governo como um "superministro" no início da gestão Bolsonaro, Guedes tem sofrido uma série de derrotas e se enfraquecido em meio às tentativas do presidente de garantir a governabilidade de seu governo, sobretudo a após a aproximação com o Centrão.

Um dos últimos reveses de Guedes foi a perda de parte do controle do Orçamento da União, que passou para a Casa Civil, hoje comandada pelo ministro Ciro Nogueira (PP). Em outra ocasião, essa mais recente, o Centrão driblou Guedes e o Senado para tentar baixar o preço de combustíveis com a circulação de uma nova PEC.