APS, um plano com 11 mil clientes, pode cuidar de 337 mil usuários da Amil?
Desde 1º de janeiro deste ano, os planos de saúde individuais e familiares da Amil são administrados pela APS (Assistência Personalizada à Saúde). Antes disso era uma empresa pequena, com apenas 11 mil clientes. De repente, a operadora de saúde passou a ser responsável por 337 mil vidas, com a transferência dos clientes da Amil.
Sua atuação era focada no interior, e agora mudou para gestora de clientes de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Consumidores relatam perda de hospitais e laboratórios anteriormente contratados e dificuldades em marcar exames rotineiros.
Especialistas questionam a capacidade da empresa de atender aos clientes recém-chegados com qualidade. A APS diz ter os instrumentos necessários para prestar assistência aos usuários.
A empresa declara que seu objetivo é "prestar assistência médica de qualidade com dignidade e ética, promovendo a saúde de forma integral e humanizada."
Advogado diz que transição é difícil
Para Frederico Glitz, advogado especialista em direito contratual, a entrada da APS nessa administração causa "desconfiança" sobre sua capacidade. Ele afirma que a operadora tem que fortalecer a equipe profissional para atender aos clientes migrados da Amil.
"A gestão de mais de 330 mil contratos não é simples. Até mesmo grandes empresas têm um tempo para se adequar à nova realidade. Não é algo a ser feito do dia para a noite".
O fato de a empresa estar sediada em Jundiaí, interior de São Paulo, também traz questionamentos sobre a gestão. Glitz afirma que isso não atrapalha, desde que a companhia ampare o consumidor.
"Acredito que a APS tenha que criar uma estrutura local para fazer essa microgestão. Tem de avaliar o perfil do consumidor, ou seja, a faixa etária, a incidência de doenças. O consumidor de São Paulo tem uma necessidade diferente do de Curitiba", afirma.
Descredenciamentos ainda podem acontecer?
A advogada especialista em direito do consumidor Patrícia Santos avalia que os clientes saídos da Amil devem ficar atentos a mudanças na rede credenciada.
Ela recomenda que os usuários guardem documentos, como registros de internações e laudos de exames, para comprovar qualquer alteração nesse sentido. "O medo que se instala é o do sucateamento da rede que a APS vai oferecer. Já houve reclamações de perda de hospitais e laboratórios antes dessa transferência", declara.
Análise comprova capacidade, diz APS
Questionada pelo UOL, a APS diz que as análises econômicas e financeiras feitas pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) comprovam sua competência para atender aos novos beneficiários.
"A APS disponibilizou uma central de atendimento exclusiva para orientar as pessoas durante o processo de transferência, tranquilizando-as a respeito da continuidade das coberturas estabelecidas em seus contratos, da manutenção da rede credenciada, da continuidade dos tratamentos em curso e da conformidade total com a regulamentação dos planos de saúde", diz nota da empresa.
Mais de 20 anos de mercado
A APS é uma empresa do UHG (Grupo United Health), dono da Amil. Tem como atuais sócios a própria Amil e a Santa Helena Saúde, que faz parte do conglomerado. Mas a APS está sendo vendida pelo grupo.
Em 8 de fevereiro, no entanto, a ANS suspendeu a venda da operação da companhia para um grupo composto por três controladores: Fiord Capital, gestora de investimentos, Seferin & Coelho, de administração de hospitais, e o executivo Henning von Koss, que tem experiência na direção de outros planos de saúde. A negociação está avaliada em R$ 2,34 bilhões.
"Nada muda para os beneficiários, que continuam sendo atendidos pela mesma rede credenciada, amparados pelas mesmas condições das prestações de serviços contratadas e sob as mesmas regras da agência reguladora", declarou a APS em nota na ocasião.
Site com poucas informações
O site da APS reúne poucos conteúdos a respeito do histórico da empresa. Apenas diz que sua fundação foi em 1999. Há até um segundo endereço hospedado na plataforma Wix, que traz informações desatualizadas sobre a empresa, com links que não podem ser acessados. A empresa não tem perfis em redes sociais.
A APS é associada da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) desde 2014. A aprovação de um novo ingressante depende da adequação às normas da ANS de modelos de contratos e produtos comercializados, além do registro de contrato social na agência reguladora, diz a entidade de classe.
Lucro acima de R$ 6 milhões
Em setembro de 2018, a APS foi comprada pelo grupo que controla a Amil. A operadora de Jundiaí integrava o Grupo Sobam, que também foi vendido com o plano de saúde Sobam, o Hospital Pitangueiras e oito centros médicos. O valor da compra não foi revelado.
Em 2020, último balanço disponível, a APS registrou lucro de R$ 6,466 milhões, segundo relatório financeiro da empresa. O documento mostra que houve cortes de custos no primeiro ano de pandemia, destacando apenas a renegociação de aluguel de imóveis.
Na parte de investimentos, menciona a implementação de telemedicina para os beneficiários da rede própria. Também, informa que disponibilizou um profissional de enfermagem no serviço de call center para tirar dúvidas dos usuários sobre a covid-19.
No primeiro semestre de 2020, observou uma "redução brusca e relevante" por atendimento médico na rede credenciada, motivada pelo isolamento social e restrições de atividades. Isso, de acordo com a operadora, trouxe "resultados positivos".
Com a retomada de consultas, exames e cirurgias a partir de julho de 2020, a empresa elevou seus gastos e teve "redução nos resultados", resume o relatório financeiro.
"Apesar dos desafios no enfrentamento da pandemia e suas consequências, a operadora encerrou o exercício de 2020 com resultado líquido satisfatório, com suficientes ativos garantidores e boa margem de solvência", diz trecho do documento.
O balanço da APS foi seguido de um relatório independente da empresa de auditoria Grand Thornton. O relatório financeiro de 2021 ainda não está disponível.
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