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Sem acordo por reajuste, servidores do Banco Central retomam greve hoje

Sindicato considera insuficiente a proposta do governo de dar reajuste salarial de 5% a todo o funcionalismo federal  - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Sindicato considera insuficiente a proposta do governo de dar reajuste salarial de 5% a todo o funcionalismo federal Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

03/05/2022 04h00

Os servidores do Banco Central retomam nesta-terça-feira (3), por tempo indeterminado, a greve por reajustes salariais e mudanças na carreira. A nova paralisação foi aprovada em assembleia deliberativa do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) e já havia sido anunciada na sexta (29).

O sindicato considera insuficiente a proposta do governo de dar um reajuste linear de 5% para todo o funcionalismo federal a partir de julho. Os salários de analistas do BC variam de R$ 19.197 a R$ 27.369.

"As razões principais foram o descumprimento, por parte do presidente do BC [Roberto Campos Neto], da promessa de conseguir uma reunião entre o sindicato e o ministro Ciro Nogueira [Casa Civil], a não apresentação de uma proposta alternativa aos 5% [de reajuste] e a não apresentação de uma proposta sobre a parte não salarial de nossas demandas", afirmou na semana passada Fábio Faiad, dirigente do Sinal.

Os servidores do BC aprovaram a primeira etapa da greve em 1º de abril e, antes disso, já vinham promovendo paralisações, o que afetou a divulgação de estatísticas e indicadores e atrasou a implementação de projetos do banco. O movimento foi suspenso em 19 de abril, mas, na ocasião, os servidores haviam alertado que cruzariam os braços novamente caso não houvesse avanço nas negociações.

Mesmo com a greve suspensa, os funcionários continuaram a trabalhar em esquema de operação-padrão e a fazer paralisações diárias, das 14h às 18h.

Impactos

Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, as paralisações parciais e a primeira fase da greve impediram "uma série de trabalhos internos do BC", incluindo a compilação de estatísticas. Essa situação deve se repetir a partir desta terça, e a divulgação de dados econômicos sofrerá novos atrasos.

"Mas o BC permanece com aquela política de avisar [à imprensa] da retomada da publicação de estatísticas com pelo menos 24 horas de antecedência", disse na segunda (2), durante entrevista coletiva sobre estatísticas fiscais.

O UOL também procurou o Sinal para perguntar sobre possíveis impactos da nova greve, mas não teve resposta até a publicação deste texto.

Nos últimos dias, a apresentação de relatórios e estatísticas atrasadas foi retomada, como o boletim Focus (pesquisa semanal com instituições financeiras), o Relatório de Poupança e o fluxo cambial. O BC também já divulgou os relatórios de crédito —que revelam os juros médios das operações de crédito— e do setor externo (balanço das transações do Brasil com o exterior) relativos a fevereiro, mas as estatísticas de março seguem pendentes.

O desenvolvimento de projetos do BC, porém, continua suspenso. O início da segunda fase de consultas e saques de valores esquecidos em bancos, por exemplo, que aconteceria na segunda (2), foi adiado por tempo indeterminado. "A nova data será informada com a devida antecedência", informou a assessoria do BC ao UOL.

Reivindicações

Os servidores do BC reivindicam reajuste salarial suficiente para repor as perdas inflacionárias nos últimos anos, que chega a 27%. Eles também pedem a mudança da nomenclatura de analista para auditor e a exigência de nível superior para ingresso dos técnicos do BC.

Desde o início do ano, os funcionários do BC, assim como de outros órgãos federais, trabalham em esquema de operação-padrão em protesto, porque o Orçamento de 2022 destinou R$ 1,7 bilhão ao reajuste a forças de segurança. Os servidores do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), por exemplo, estão em greve desde 23 de março.

"Nós temos colegas [no INSS] que fazem 50, 60 horas por semana para conseguir cumprir as metas de produtividade. Mas nossos salários estão congelados há cinco anos. E aí o que o governo faz? O governo mantém o congelamento salarial e fica estipulando esses bônus de produtividade —que na prática não são bônus, são apenas uma complementação de renda, das perdas salariais dos últimos períodos", disse ao UOL Cristiano dos Santos Machado, diretor da Fenasps (Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Previdência e Assistência Social).

(Com Agência Brasil e Reuters)