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Nescau a R$ 1,96? Panfleto de supermercado viraliza com preços de 2001

Panfleto de supermercado com Nescau a R$ 1,96 - Reprodução/Instagram/@_homoaranha
Panfleto de supermercado com Nescau a R$ 1,96 Imagem: Reprodução/Instagram/@_homoaranha

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

09/06/2022 11h02Atualizada em 09/06/2022 17h08

A imagem de um panfleto de supermercado do Rio de Janeiro, que era para ser uma lembrança da participação em uma campanha publicitária em 2001, viralizou esta semana no Twitter ao mostrar os preços dos produtos praticados há mais de duas décadas.

Entre latas de molho Pomarola a R$ 0,89 (340g), ervilha a R$ 0,49 (200g), e Sustagen a R$ 10,80 (400g), os internautas se surpreenderam com o valor da lata do achocolatado Nescau, que era vendido a R$ 1,96 (500g).

"500g de Nescau a R$ 1,96 não compra nem a caixinha de 200 ml. 400 g de leite Ninho a R$ 2,79 hoje não compra nem o pacote de 100g do leite em pó mais fuleiro. 1k de queijo por R$ 9,48 hoje não compra nem 5 fatias e dá esse valor. Não acredito que esse Brasil existiu!", declarou uma internauta.

A ideia da postagem inicial era compartilhar a imagem de um bebê saindo de um repolho, que ilustrava a campanha publicitária. Mas o reflexo da inflação nos preços superou a criatividade comercial.

Nos posts, os consumidores comparam não só o preço do achocolatado, mas de outros produtos anunciados, como leite em pó, queijo e iogurte, com os praticados atualmente.

"Ninho 2,79 Sustagen 10,80, Nescau a 1,96 de que época é isso? Mds eu uso tudo isso em um dia com preço absurdo", lamentou uma usuária.

Inflação de 408%

A pedido do UOL, o coordenador de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz, analisou os preços de alguns itens do encarte de 2001 aos valores praticados em 2022.

Segundo Braz, o principal fator que influencia no preço dos produtos é a inflação acumulada do período.

"Se corrigirmos o valor pela inflação de alimentos medida pelo IBGE, nesses 21 anos, ou seja, entre janeiro de 2001 e abril de 2022, a inflação acumulada dos alimentos foi de 408%. Multiplicando o valor do Nescau naquela época pela inflação acumulada, hoje o produto seria vendido a R$ 9,97", afirma. Caso o consumidor encontre 400g do produto por menos deste valor, o preço estará abaixo da inflação.

Os outros produtos presentes no encarte, corrigidos pela inflação acumulada do período, também ficam com valores aproximados aos que são cobrados atualmente no mercado.

Pelas contas feitas pelo economista da FGV, ficaram assim:

-Leite Ninho integral, a R$ 14,20;

-Sabão em pó: R$ 13,20;

-Queijo tipo esfera R$ 48, o quilo;

-Bandeja de iogurte, R$ 10;

-Molho de tomate: R$ 4,50

-Ervilha em lata em conserva, a R$ 2,50.

"Geralmente os valores vão ficar aproximados. É possível que encontre ainda por mais ou menos, dependendo também do local de compra", afirma Braz.

Desvalorização salarial pesa na percepção dos preços

Segundo o economista, a combinação da inflação de alimentos e a desvalorização salarial do período pesam na percepção de que o preço dos alimentos pesa no orçamento familiar.

"O índice da inflação para o cálculo nas negociações salariais não é o mesmo da inflação dos alimentos, mas o IPCA, que é menor. Nesse período esse acumulado foi de 279%. Então quem ganha um salário mínimo vai privilegiar os gastos com alimentos, por isso sente mais essa inflação, já que o custo maior será com a comida. Diferente de quem é classe média alta que tem uma cesta de consumo mais diversificada, com inflação média menor, pois não gasta tanto com comida, mas tem outras despesas que não subiram tanto quanto os alimentos", diz Braz.

O que diz a Nestlé

A Nestlé informou que a adoção de novos formatos e tamanhos de embalagens pela empresa acompanha as tendências de mercado e mantém os padrões dos produtos da marca para garantir a competitividade.

Assim como todas as mudanças são informadas no rótulo dos produtos, seguindo a legislação vigente, respeitando os princípios do Código de Defesa do Consumidor, principalmente o direito à informação, e atendendo a Portaria nº 81/2002 do Ministério da Justiça.

A marca não comentou os preços dos produtos citados na reportagem.