Guedes pede que indústria e supermercados congelem preços por '2, 3 meses'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu na quinta-feira (9) a supermercados e indústria que congelem os preços dos produtos "por dois ou três meses". A declaração aconteceu durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, organizado pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Antes, o presidente da Abras, João Galassi, havia proposto que a indústria congelasse os preços que são cobrados dos supermercados, reajustando valores apenas em 2023. Ao G1, Guedes disse que a declaração não se refere ao tabelamento de preços, como foi adotado pelo governo do ex-presidente José Sarney para conter a inflação nos anos 1980.
"ICMS, IPI? Nós reduzimos esses impostos. Então, ao longo da cadeia, trégua. É aquilo que você, João Galassi, disse muito bem: nova tabela de preços, só em 2023. Trava os preços. Vamos parar de aumentar os preços aí, dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil", disse Guedes no evento da Abas, referindo-se às eleições presidenciais. O presidente Jair Bolsonaro (PL) está atrás nas pesquisas de intenção de voto. Algumas apontam vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno.
Reforço o pedido do presidente [Bolsonaro], é hora de dar freio nos preços. O empresariado precisa entender que temos que quebrar a cadeia inflacionária. Se o presidente está pedindo para baixar preços, quem tem voto é ele, vamos baixar. Vamos dar uma trégua de preços.
Paulo Guedes, a empresários
O próprio Bolsonaro, no mesmo evento, havia pedido que os supermercados e a indústria aplicassem o "menor lucro possível" aos preços dos alimentos.
"O apelo que eu faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, é que os produtos da cesta básica, cada um obtenha o menor lucro possível, para a gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, em especial os mais humildes", disse. "Eu sei que a margem de lucro tem cada vez diminuído mais também, os senhores já vêm colaborando dessa forma. Mas colabore um pouco mais na margem de lucro dos produtos da cesta básica. Esse é o apelo que faço aos senhores. Se for atendido, eu agradeço e muito, e se não for, é porque realmente não é possível."
As declarações de Bolsonaro e Guedes foram dadas no mesmo dia em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação acumulada em 12 meses no Brasil chegou a 11,73%. O governo tem avaliado que a disparada no custo de vida tem prejudicado o desempenho de Bolsonaro entre os eleitores. Por isso, o governo tem planejado medidas para tentar conter os preços. Uma delas, criticada por governadores, zera o ICMS dos combustíveis.
Tabelamento de preços
Ao G1, Guedes criticou o tabelamento de preços, como foi adotado pelo ex-presidente José Sarney nos anos 1980 para conter a inflação.
"Eu não sou o Sarney. Os fiscais do Sarney são uma desgraça do Brasil que não podem ser reeditada. Todo mundo que apoiou o cruzado tem medo dos seus próprios fantasmas", disse o ministro.
"O que eu disse é 'olha, reduzimos os impostos'. Foi uma orientação, uma sugestão, mas de forma voluntária: se puder pausar os preços voluntariamente, pausar o reajuste, ótimo", afirmou.
Guedes critica estados
Guedes ainda afirmou que os produtos do campo passam por um "corredor polonês" de impostos até chegar às prateleiras e cobrou governadores para que "ajudem" o Brasil, citando os repasses feitos pela União aos estados nos últimos anos.
"Está na hora de os governadores ajudarem o Brasil. Os governadores tiveram um aumento de arrecadação brutal. O governo federal não conseguiu dar aumento para funcionalismo, mas reduziu impostos. Alguns governadores não querem compartilhar aumento de arrecadação com a população. É a primeira vez que os estados vão colocar a mão no bolso", declarou, em referência ao projeto sobre combustíveis.
Os estados, por outro lado, afirmam que a proposta de Guedes tira dinheiro da saúde e da educação e não resolve o problema do preço dos combustíveis. Segundo eles, a redução provocada pela não cobrança do ICMS poderia ser compensada rapidamente em caso de aumento na cotação do petróleo e do dólar. Hoje, a política de preços da Petrobras segue cotações internacionais, repassando aumentos lá fora para o consumidor aqui dentro.
Imposto sobre cesta básica
No evento, a Abras pediu ao governo federal que zere os impostos sobre produtos da cesta básica. Um levantamento feito na quinta (9) pelo UOL mostrou que, embora a inflação geral esteja em 11,73% nos últimos 12 meses, a alta para alguns produtos da cesta básica já passa de 67% no mesmo período.
"Sobre a cesta básica, o ministro Paulo Guedes e eu tivemos reunião com o setor de supermercados. É preciso um benefício fiscal mais assertivo na cesta básica", disse a secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, que também participou do evento.
Por outro lado, a secretária afirmou que a lista de isenções hoje "talvez seja ampla demais". "A lista do que é isento hoje [a cesta básica] acabou ficando complexa e ampla demais, talvez seja válido um debate para a gente ser mais focado e pagar produtos que são realmente básicos", disse, citando isenções existentes hoje sobre salmão e queijos nobres.
(Com Estadão Conteúdo e Reuters)
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