Argentina: nova ministra aliada de Kirchner preocupa mercado; entenda crise
A nova ministra da Economia da Argentina, Silvina Batakis, terá como desafio acalmar os mercados, equilibrar o jogo político travado entre o presidente Alberto Fernández e a sua vice, Cristina Kirchner, e promover mudanças para acalmar os argentinos que aguardam por melhorias na qualidade de vida — especialmente quando o assunto é a inflação, que já acumula alta anual de 60%, e a pobreza no país, que atinge 37% da população.
Batakis foi anunciada para o cargo ontem, após a divulgação da renúncia de Martín Guzmán. Em sua carta de renúncia, Guzmán deu a entender que as divergências internas o levaram a deixar o cargo:
"Será primordial trabalhar em um acordo político dentro da coalizão governista para que quem me substitua (...) tenha a gestão centralizada dos instrumentos de política macroeconômica", escreveu.
A economista de 53 anos é heterodoxa, aliada de Cristina Kirchner, contrária ao ajuste e a favor do gasto público. Já atuava no governo como secretária de Províncias do Ministério do Interior, cargo no qual mantinha relação direta com os governadores. Entre 2011 e 2015, foi ministra da Economia da província de Buenos Aires.
Depois de intensas negociações, a designação de Batakis foi o único ponto de acordo entre Alberto Fernández e Kirchner, que detém o poder na coalizão de governo.
No entanto, o mercado quer saber o quão comprometida está a nova ministra com as metas do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e quais serão as medidas econômicas destinadas a conter a crise financeira gerada pelo déficit fiscal crescente, pela emissão monetária sem respaldo, pelo endividamento interno descontrolado e pela inflação galopante prevista entre 80% e 100% em 2022.
Jornais argentinos como o "La Nación" e o "Clarín" repercutem a preocupação do mercado com o nome de Batakis, especialmente por sua proximidade a ideais que estimulam o gasto público em detrimento de um maior controle fiscal.
Mesmo assim, os analistas ainda não cravam o caminho a ser tomado pela nova ministra e aguardam um posicionamento a respeito de temas urgentes, como os acordos financeiros internacionais, a queda dos títulos públicos e a inflação.
Crise
A turbulência política coincide com um clima de insegurança econômica na Argentina. A saída abrupta de Guzmán deixa o país em apuros, já que ele deveria viajar para a França nesta semana para renegociar um acordo de dívida de US$ 2 bilhões com o grupo de credores do Clube de Paris.
A dívida original de US$ 57 bilhões com a Argentina era a maior já emitida pelo FMI. A última parcela do acordo foi recusada pelo presidente Fernández depois de assumir o cargo de seu antecessor liberal, Mauricio Macri.
Com a inflação em alta e a sangria das reservas em moeda estrangeira devido aos altos custos de importação de energia, os investidores estão questionando a capacidade do país de honrar seus compromissos de dívida. Os retornos dos títulos do governo estão entre os mais altos do mundo, demonstrando a falta de confiança dos investidores.
Greves de caminhoneiros deflagradas duas vezes somente neste ano devido à falta de diesel também prejudicaram a economia. A demanda por diesel aumentou nos últimos meses na Argentina, na esteira do aumento da atividade em setores como transporte e mineração em um contexto de recuperação econômica, mas o controle dos preços feito pelo estado prejudica a importação de petroleiras privadas.
Resposta do mercado financeiro
A crise política que arrasta a economia terá nesta segunda-feira uma prova crucial diante da reação dos agentes financeiros locais ao novo nome. O presidente Alberto Fernández se reuniu com a nova ministra já na manhã de hoje.
No entanto, será um teste apenas parcial já que, com o feriado pelo dia da Independência nos Estados Unidos, o mercado de títulos públicos em dólares e o índice de risco-país só retornam na terça-feira. Mesmo assim, a referência doméstica deve passar por fortes turbulências nos próximos dias.
"A única maneira de o governo gerar expectativas positivas é mostrar à sociedade como vai corrigir as contas públicas. Para isso, precisa apresentar um plano econômico sustentável. E, para que um plano seja implementado, é preciso um poder político que não parece haver. As expectativas negativas sobre a economia não serão revertidas só com uma mudança de nome no Ministério da Economia", avaliou à RFI o analista de mercado de capitais Claudio Zuchovicki, uma referência no país.
*Com informações da Deutsche Welle, RFI e AFP
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