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MPT recomenda que Caixa Econômica deixe de pagar salários a Pedro Guimarães

Os presidentes da Caixa Ecônomica Federal, Pedro Guimarães e da República, Jair Bolsonaro (PL) - Antonio Cruz/Agência Brasil
Os presidentes da Caixa Ecônomica Federal, Pedro Guimarães e da República, Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

12/07/2022 15h49

O procurador Paulo Neto, do MPT (Ministério Público do Trabalho), recomendou hoje, em ofício enviado à presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, que o salário do ex-presidente do banco estatal Pedro Guimarães seja suspenso. O economista renunciou ao cargo no fim de junho, após o site Metrópoles ter divulgado relatos de funcionárias que teriam sido vítimas de assédio moral e sexual por parte dele. No entanto, o estatuto do banco estabelece que funcionários afastados recebam o valor equivalente ao honorário mensal de sua função. Com isso, ele deve continuar recebendo salário mensal de R$ 56 mil.

Ao UOL, a defesa do economista questionou a manifestação do MPT. "A gestão da equipe de Pedro Guimarães levou a Caixa Econômica Federal a um patamar de excelência jamais visto na sua história. Pedro nega taxativamente a prática de qualquer irregularidade ou ilegalidade, motivo pelo qual não concorda com a posição do MPT", afirmou o advogado José Luis Oliveira Lima.

A Caixa admitiu, em nota divulgada no fim de junho, que recebeu denúncias de assédio e abriu investigação interna em maio deste ano. O posicionamento foi divulgado após a demissão de Guimarães ter sido publicada no DOU (Diário Oficial da União). Ele havia sido indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019.

Para o lugar de Guimarães, o governo anunciou Daniella Marques Consentino, considerada uma das protagonistas da gestão de Paulo Guedes no Ministério da Economia. A nomeação foi antecipada pela colunista Carla Araújo, do UOL.

"O presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere a Constituição, e tendo em vista o Estatuto da Caixa Econômica Federal, resolve exonerar, a pedido, Pedro Guimarães do cargo de presidente da Caixa Econômica Federal e nomear Daniella Consentino para exercer o cargo", destacou o DOU.

Na carta com o pedido de demissão, o ex-chefe da estatal negou as acusações.

A queda de Pedro Guimarães

Os casos relatados por funcionárias da Caixa contra Pedro Guimarães incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho. As denúncias estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal. O TCU (Tribunal de Contas da União) também pediu a órgãos de controle a abertura de investigação.

Após as denúncias, Guimarães afirmou durante um evento da Caixa que tem "uma vida inteira pautada pela ética" e orgulho de como se portou ao longo da vida. O ex-presidente da Caixa é casado com Manuella Guimarães, filha do delator da Lava Jato Léo Pinheiro. Ele tem 57 anos e tem dois filhos. É formado em Economia pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e possui três cursos em nível de mestrado, sendo um na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Antes de assumir a Caixa, passou pelos bancos BTG Pactual e Plural.

Especialista em privatizações, Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro. Desde então, Guimarães se afastou do chefe da pasta e virou um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), participando várias vezes da live semanal do presidente.

Em abril, Guimarães disse que se mudaria para a África caso Bolsonaro não seja reeleito este ano, mostrou a coluna de Bela Megale, do jornal O Globo. De acordo com a colunista, a fala teria ocorrido durante um jantar promovido pelo grupo Esfera Brasil.

Polêmicas

O colunista do UOL Ricardo Kotscho afirma que Guimarães já havia sido investigado em processo administrativo interno da Caixa em 2019 por suspeita de envolvimento com uma funcionária. No fim do ano passado, Guimarães foi alvo de polêmicas por ter colocado funcionários para fazer flexões durante um evento de fim de ano para gestores da instituição. Na ocasião, no palco e na plateia, diretores e vice-presidentes da Caixa fizeram os movimentos em dois momentos, sob contagem do chefe.

Auxílio emergencial deu holofote a Guimarães

Antes considerado uma figura discreta, Guimarães foi colocado no centro das atenções após o início da pandemia, quando o governo federal criou medidas de socorro financeiro à população. A mais conhecida delas foi o auxílio emergencial, benefício pago pelo governo por meio do banco. Com isso, Guimarães se tornou peça central em diversos anúncios e entrevistas do governo sobre o auxílio.

Cogitado em ministérios

Guimarães chegou a ser cotado para assumir o cargo do ex-ministro Rogério Marinho, que deixou o comando da pasta do Desenvolvimento Regional para concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Norte. Além disso, Guimarães também foi cogitado como substituto de Paulo Guedes em momentos de crise na pasta de seu padrinho no governo, de acordo com a Folha.

"Eu não controlo o que as pessoas falam. Mas não tenho diferenças com o ministro Paulo Guedes. Do ponto de vista objetivo, sou presidente da Caixa com muito orgulho — e essa é a minha missão no governo", disse Guimarães à Veja ao comentar esses rumores.