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Em carta, Guimarães oficializa saída da Caixa e nega assédio a funcionárias

Pedro Guimarães, quando assumiu a presidência da Caixa - Valter Campanato/Agência Brasil
Pedro Guimarães, quando assumiu a presidência da Caixa Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

Beatriz Gomes e Carla Araújo

Do UOL, em São Paulo e colunista do UOL, em Brasília

29/06/2022 17h49Atualizada em 29/06/2022 18h32

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, oficializou, em carta (leia a íntegra abaixo), o seu pedido de demissão do cargo após as denúncias de assédio sexual de funcionárias contra ele serem divulgadas pela imprensa. No texto, entregue ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e divulgado em suas redes sociais, o economista declarou que combateu o assédio dentro do banco, negou as acusações e disse ser colocado em uma "situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade".

Guimarães afirmou que sua ascensão profissional não ocorreu em decorrência de "troca de favores" ou "pagamento por qualquer vantagem".

Na atuação como Presidente da Caixa, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. (...) As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta. Pedro Guimarães em nota

Indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, o agora ex-presidente da Caixa declarou que "notícias e informações equivocadas" atingiram sua esposa, os dois filhos, seu casamento de 18 anos "antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa". Ele também citou a abertura de investigação do MPF (Ministério Público Federal) para apurar as denúncias. Agora, o MPT (Ministério Público do Trabalho) do Distrito Federal e o TCU (Tribunal de Contas da União) também apuram o caso.

Além disso, o economista destacou no texto algumas premiações do banco estatal e alegou que o seu trabalho à frente da empresa sempre foi "pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades".

Guimarães ainda corroborou às informações do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, ao jornal O Estado de São Paulo, ao afirmar que deixa o cargo para não "prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral".

Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a Caixa, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro. Pedro Guimarães

Na tarde de hoje, Flávio disse que Guimarães deixaria o cargo no banco para que as denúncias não sejam usadas contra o mandatário na campanha à reeleição e também confirmou o nome de Daniella Marques, atual secretária especial de Produtividade e Competitividade e parceira do ministro da Economia, Paulo Guedes, para a chefia da Caixa no lugar de Guimarães. A informação foi adiantada pela colunista do UOL Carla Araújo na manhã de hoje.

Por fim, Guimarães disse que irá se defender "das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram". "A minha confiança de que a verdade prevalecerá."

Confira abaixo a íntegra da carta de demissão assinada pelo ex-presidente da Caixa:

"À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:

A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.

Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.

Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.

Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 - Great Place To Work®, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.

Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.

Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.

As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.

Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.

Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.

Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.

Pedro Guimarães"

Queda de Pedro Guimarães

Os casos relatados por funcionárias da Caixa contra Pedro Guimarães incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho.

Após as denúncias, Guimarães afirmou hoje, durante um evento da Caixa, que tem "uma vida inteira pautada pela ética" e orgulho de como se portou ao longo da vida, mas não mencionou diretamente o caso.

O ex-presidente da Caixa é casado com Manuella Guimarães, filha do delator da Lava Jato Léo Pinheiro. Ele tem 57 anos e é pai de dois filhos pequenos. É formado em Economia pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e possui três cursos em nível de mestrado, sendo um na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Antes de assumir a Caixa, passou pelos bancos BTG Pactual e Plural.

Especialista em privatizações, Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro. Desde então, Guimarães se afastou do chefe da pasta e virou um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro, participando várias vezes da live semanal do presidente.

Em abril, Guimarães disse que se mudaria para a África caso Bolsonaro não seja reeleito este ano, mostrou a coluna de Bela Megale, do jornal O Globo. De acordo com a colunista, a fala teria ocorrido durante um jantar promovido pelo grupo Esfera Brasil.

Polêmicas

O colunista do UOL Ricardo Kotscho afirma que Guimarães já havia sido investigado em processo administrativo interno da Caixa em 2019 por suspeita de envolvimento com uma funcionária.

No fim do ano passado, Guimarães foi alvo de polêmicas por ter colocado funcionários para fazer flexões durante um evento de fim de ano para gestores da instituição. Na ocasião, no palco e na plateia, diretores e vice-presidentes da Caixa fizeram os movimentos em dois momentos, sob contagem do chefe.

Denúncias de assédio sexual

Ontem, o portal Metrópoles divulgou denúncias de funcionárias do banco, que incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis com a relação de trabalho supostamente praticadas por Pedro Guimarães. Os atos começaram a surgir no fim do ano passado.

Todas as mulheres que falaram ao Metrópoles, sem que seus nomes fossem divulgados, trabalham ou trabalharam em equipes que atendem diretamente o gabinete da presidência da Caixa. As cinco entrevistadas disseram que se sentiram abusadas em diferentes ocasiões, e sempre em compromissos de trabalho.

Os casos teriam acontecido, muitas vezes, em viagens relacionadas ao programa Caixa Mais Brasil. Segundo relato, o presidente do banco escolhe, preferencialmente, "mulheres bonitas" para as comitivas nas viagens. De acordo com Ana*, uma das funcionárias que denunciaram o assédio, o comunicado de escolha é como um prêmio.

Outra prática comum, segundo as funcionárias, é que mulheres que despertam a atenção de Guimarães durante as viagens sejam chamadas para atuar em Brasília, muitas vezes promovidas hierarquicamente sem preencher requisitos necessários. A prática deu, inclusive, origem a uma expressão usada para se referir a elas: "disco voador".

Em contato com o UOL, o Ministério da Economia disse que não irá se manifestar sobre o caso.

Em nota, a Caixa afirma que "não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo e que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio.". Ainda no texto enviado ao UOL, a instituição diz que "o banco possui um sólido sistema de integridade, ancorado na observância dos diversos protocolos de prevenção, ao Código de Ética e ao de Conduta, que vedam a prática de 'qualquer tipo de assédio, mediante conduta verbal ou física de humilhação, coação ou ameaça'".

*Nome fictício