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Empregados obrigados a dançar Gretchen receberão indenização de R$ 150 mil

Aviso colocado na porta de sala de reunião avisava qual seria a "prenda do dia" a ser paga - Reprodução/Processo judicial
Aviso colocado na porta de sala de reunião avisava qual seria a "prenda do dia" a ser paga Imagem: Reprodução/Processo judicial

Colaboração para o UOL

11/08/2022 21h59

A Telefônica Brasil e outras duas terceirizadas terão de indenizar 22 funcionários em R$ 150 mil, ao todo, por danos morais. Os empregados, que atuavam como vendedores em Goiânia (GO), eram obrigados a "pagar uma prenda" diferente todos os dias, caso não batessem as metas instituídas pelas gerências.

"Pagar uma prenda" era uma forma de dizer que os funcionários receberiam um castigo por não cumprirem as metas, segundo a advogada Danyelle Zago, que representou os funcionários. Entre os castigos, eles eram obrigados a dançar músicas da Gretchen e do É o Tchan, além de terem que imitar cachorros e até fazer polichinelos.

As empresas citadas são a Telefonica Brasil S/A, que hoje atende pelo nome de Vivo, e as empresas terceirizadas Life Mobile Telecom e Cerrado Digital Telecom, ambas pertencentes ao mesmo grupo, segundo consta no processo judicial.

Um dos vendedores tirou foto de um aviso colado na porta da sala de reunião da loja, que fica em Goiânia, comunicando que a prenda do dia era imitar a cantora Gretchen.

"Prezados colaboradores, quem não realizar imput de venda hoje terá que pagar prenda na sala de reunião. Prenda do dia: imitar a Gretchen. O líder do vendedor deverá acompanhá-lo", dizia o aviso.

As ações dos 22 ex-vendedores foram movidas pelos advogados Danyelle Zago e Alessandro Garibaldi no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 8ª Região. As primeiras decisões saíram em outubro de 2021, a empresa recorreu, mas acórdãos de desembargadores mantiveram as sentenças, em maio deste ano.

"Todo dia era uma prenda diferente para quem não batesse meta. Tinha prenda de imitar macaco, fazer flexões, dançar 'Na boquinha da garrafa' [do É o Tchan]. A da Gretchen era dançar a música "'Conga la Conga'", comentou a advogada.

"Essa é a primeira vez em anos de profissão que pego uma situação tão inusitada. Eu enxergo como grave a exigência dessas metas descabidas, porque isso gera um transtorno para o funcionário. O empregado fica apreensivo, isso gera ansiedade. Imagine. Quem não cumprisse a meta era exposto ao ridículo na frente dos outros empregados. Isso é uma situação muito humilhante".

Para compor as peças das ações, Danyelle e seu colega basearam-se no abuso do poder diretivo da empresa. As empregadoras teriam abusado do poder de mando delas e expuseram os funcionários ao constrangimento caso eles não batessem as metas.

"Essa forma de punição é absurda, desumana. O empregado está ali, fazendo um esforço danado e se num dia não consegue cumprir a meta ele tem que ser exposto na frente dos colegas, na frente dos gerentes?", questiona a advogada, ressaltando que os juízes que analisaram as ações demonstraram indignação em suas justificativas.

Dos 22 processos em andamento, Danyelle afirma que em pelo menos seis já transitaram em julgado. Ou seja, não cabem mais recursos. As demais ainda estão circulando em instâncias da Justiça do Trabalho.

O que dizem as empresas

Em nota, a Vivo informou que repudia veemente todo e qualquer ato que possa causar constrangimentos e destaca que não possui mais vínculo comercial de distribuição de produtos com a empresa citada no processo.

O UOL entrou em contato com as duas empresas terceirizadas, também citadas judicialmente, para saber qual o seu posicionamento com relação às denúncias contidas nos processos. Porém, até o momento, não houve resposta.