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Quem é Marlene Engelhorn, a herdeira que abriu mão de R$ 20 bilhões

Do UOL, em São Paulo

10/08/2022 12h09Atualizada em 10/08/2022 20h22

Abrir mão de uma herança não é algo comum no mundo em que vivemos, ainda por cima quando se trata de uma fortuna de 4,2 bilhões de euros (aproximadamente R$ 21,9 bilhões na cotação atual). Marlene Engelhorn, 30, ganhou fama após decidir rejeitar 90% desse montante por não achar que merecia receber o dinheiro. Mas, afinal, quem é ela e quem deixou essa herança?

Estudante de literatura em Viena e descendente dos fundadores da Basf, empresa química multinacional com receita de 78 bilhões de euros, Marlene faz parte da organização Milionários Pela Humanidade, grupo que defende que os super-ricos sejam "taxados da mesma forma que os trabalhadores". Ela receberá a herança quando a avó Traudl Engelhorn-Vechiatto, 95, morrer.

Além de fazer parte do Milionários Pela Humanidade, ela também é uma das fundadoras do Tax Me Now (Me taxa agora, em tradução livre), um grupo de milionários que exigem mais impostos sobre a riqueza. No Fórum Economico de Davos, a herdeira ironizou a frase norte-americana "In God We Trust" (Em Deus nós confiamos) e segurou uma placa em que estava escrito "In Tax We Trust" (Em impostos nós acreditamos).

Surpreendentemente, ela abriu mão do dinheiro que receberá por questão de merecimento.

"Essa não é uma questão de querer, mas uma questão de justiça. Eu não fiz nada para receber esta herança. Foi pura sorte na loteria do nascimento. Uma coincidência", disse. A decisão foi apoiada pela avó, que a deu toda "liberdade" que quisesse.

Viúva de Peter Engelhorn, a fortuna de Traudl também é herança do ex-marido e bisneto de Friedrich Engelhorn, o fundador da Basf em 1865. Peter era sócio do grupo alemão Boehringer-Mannheim, vendido à farmacêutica suíça Hoffmann-La Roche em 1977.

Outro fator que chama a atenção é a ligação da Basf com o regime nazista. Em 1925, as empresas químicas Bayer e Basf se fundiram com outras quatro empresas, formando a I.G. Farbenindustrie, que usou trabalho forçado em suas fábricas alemãs durante o regime, com cerca de 4.500 pessoas vindas de campos de concentração, para construir uma fábrica de borracha e combustível próxima ao campo de concentração de Auschwitz.

Cerca de 38 mil prisioneiros, a maioria judeus, foram forçados a trabalhar na construção do local entre 1941 e 1945. Quando não conseguiam mais trabalhar, eram executados no campo de concentração. Calcula-se que mais de 30 mil morreram.

Marlene nunca trabalhou na empresa dos familiares e disse que quis ser justa com esse dinheiro.

Quando o anúncio foi feito, eu percebi que não poderia ser realmente feliz. Pensei comigo mesma: 'Algo está errado'.

Em entrevistas concedidas, Marlene ironizou a origem da fortuna. "Não sei a história exata e a origem da fortuna, nem mesmo quanto trabalho deu para acumular. O que posso dizer é que não foi com meu trabalho".

Ela também integra a Guerrilla Foundation, uma organização que une ativistas sociais para contribuírem juntos com transformações sociais significativas que resultem em uma economia circular, com uma sociedade democrática e que priorize o bem-estar social e ecológico.

No site da fundação, é dito que ela já realizou workshops em escolas para explicar as realidades LGBTQI+ e que só recentemente começou sua jornada no mundo da filantropia radical, "querendo usar uma herança futura com sabedoria e força".